Redação Planeta Amazônia
A marca MI Moda Indígena, criada em Manaus por estilistas do povo Munduruku, está com malas prontas para mais uma turnê internacional. Em setembro e outubro de 2025, o coletivo participa pela terceira vez da London Fashion Week e ainda marca presença em eventos na Áustria, Itália e França — com direito a exposição no Museu do Louvre, em Paris.
A nova coleção, batizada de “Experiência Amazônica: Clãs Indígenas”, será apresentada por quatro estilistas indígenas: Seanne Oliveira, Rebeca Ferreira, Elisângela Oliveira (do povo Apurinã) e Cacique Sandra Cunha (do povo Munduruku). A proposta é mostrar vestuários inspirados nos elementos culturais e visuais dos clãs amazônicos, com grafismos, pinturas e acessórios que traduzem a identidade dos povos originários.


Segundo Seanne, este ano o grupo vai com uma equipe mais enxuta. “Ano passado levamos seis modelos indígenas. Este ano serão dois modelos indígenas e uma artista amazonense com deficiência visual. Os demais modelos serão europeus”, explica.
A agenda começa em Londres, no evento “Future of Fashion”, no dia 20 de setembro. Depois, o grupo segue para a Áustria, onde participa do festival “Brazil meets Gmünd”, entre os dias 27 e 29. Em outubro, a MI desembarca na Itália, com desfiles em Veneza e Revislate. A turnê termina em Paris, com uma exposição no Art Shopping do Carrousel du Louvre, entre os dias 17 e 19.


Formação e impacto nas comunidades
Além das passarelas, o projeto segue firme na formação de novos talentos. Em janeiro de 2025, o curso de moda indígena será realizado em Santarém (PA), com representantes de aldeias selecionados pelo Conselho Indígena local. Em fevereiro, será a vez de Coari (AM), com aulas na sede do município.
A MI Moda Indígena surgiu em 2021 como “Mostra Intercultural de Moda Indígena”, idealizada por Seanne Oliveira e Rebeca Ferreira. Desde então, virou marca e coletivo, reunindo mulheres indígenas de cinco etnias: Munduruku, Apurinã, Borari, Mura e Kulina. Todas estão em formação na área de design de moda.
O projeto começou com um curso na Comunidade Parque das Tribos, em Manaus, e já passou por aldeias nos rios Tarumã-Açú e Tarumã-Mirim. Em 2022, a primeira mostra apresentou o tema “Grafismos Indígenas: Tradição, Ancestralidade e Contemporaneidade”, com apoio do Instituto C&A e da Secretaria de Cultura do Amazonas.

Reconhecimento internacional
Em 2023, a MI foi a primeira marca de moda indígena brasileira a participar de uma Fashion Week internacional, com apoio da revista britânica High Profile Magazine e da empresa Best of Brazil CIC. Em 2024, esteve na JCA London Fashion Academy, do designer Jimmy Choo, com o workshop “Interculturalidade dos Corpos Amazônicos”.
Também em 2024, o projeto desenvolveu uma pesquisa sobre o vestuário do povo Munduruku, apresentada em Londres com apoio da National Lottery Heritage Fund. A pesquisa teve direção criativa de Rafael dos Santos, com Seanne como estilista e Rebeca como pesquisadora.
Para Rebeca, o foco agora é ampliar a formação. “Os alunos do curso de 2025 ainda não fazem parte do coletivo. São iniciantes. Futuramente, vamos selecionar os melhores para integrar o elenco principal da MI Moda Indígena”, afirma.