Redação Planeta Amazônia
Em 2020, a taxa de mortalidade de bebês no primeiro ano de vida na população yanomami atingiu 114,3 a cada mil nascimentos. Esse número é 10 vezes a taxa do Brasil e supera a dos países africanos Serra Leoa e República Centro-Africana, que estão entre os mais pobres do mundo e têm os maiores índices de mortalidade de crianças. Serra Leoa tinha, em 2020, taxa de mortalidade de 80,5 e a República Centro-Africana, de 77.
A taxa é superior à registrada em Serra Leoa, país na África que tem o maior índice do mundo, segundo ranking da ONU. Lá a estimativa é de 78,2 mortes a cada mil nascimentos por ano.
As mortes desses bebês recém nascidos representam quase 60% dos óbitos em menores de um ano de 2018 a 2022. De acordo com o relatório da Missão Yanomami, isso revela falha na atenção à gestação, ao parto e aos cuidados recebidos no nascimento. O documento indica a desnutrição como uma das principais causas de óbito de crianças. A Missão Yanomami foi realizada de 15 a 25 de janeiro e os dados foram divulgados pelo Ministério da Saúde.
Criança desnutrida no chão da Casa de Atendimento Indígena, em Boa Vista. Foto: Tom Costa
A doutora em nutrição e professora aposentada da Universidade Federal de Pernambuco, Sonia Lucena, explica que a desnutrição impacta severamente na imunidade das crianças. “É muito comum na desnutrição você ter infecção respiratória aguda, às vezes pneumonia, e muitas vezes o que mata uma criança desnutrida é uma septcemia (infecção no sangue), porque o organismo dela, por não ter condições de se proteger, também perde as condições de se recuperar diante destas doenças. E o comprometimento no crescimento e no desenvolvimento normal do cérebro nesta faixa precoce da vida, ele é irrecuperável”, disse Sonia.
Segundo o documento da Saúde, as principais causas para a elevada taxa foram doenças preveníveis, falta de acompanhamento pré-natal pelas mães, falta de assistência médica e remoção dos indígenas, além de desnutrição maternal e infantil.
Dados coletados desde 2015 apontam frequência de baixo peso. Em 2021, esse índice chegou a 56,5% das crianças yanomami. Quase metade das gestantes estava abaixo do peso em 2022.