Municípios do sul da BR-319 registram recordes de desmatamento e focos de calor

Redação Planeta Amazônia

Os municípios de Canutama, Humaitá, Lábrea, Manicoré, Porto Velho e Tapauá, no interior do Amazonas, foram responsáveis por 94% do desmatamento registrado na área de influência da BR-319 em 2022. Juntos, somaram 159.659 hectares (ha) desmatados, uma área equivalente a quase 160 mil campos de futebol.

A região também bateu recordes de desmatamento e focos de calor, considerando a série histórica de 2010 a 2022 analisada pelo Observatório BR-319 (OBR-319), que monitora 13 municípios, entre Amazonas e Rondônia, situados na área de influência da rodovia.

Inpe aponta que 209 km² foram desmatados na Amazônia legal, até o dia 17 de fevereiro. Foto: Orlando Júnior

As informações são da publicação “Retrospectiva 2022: desmatamento e focos de calor na área de influência da rodovia BR-319” https://observatoriobr319.org.br/wp-content/uploads/2023/02/Relatorio-Retrospectiva-Desmatamento-Queimadas-2022-v3.pdf, produzida pelo OBR-319 com resultado dos monitoramentos mensais divulgados pela rede.

Também reforçam as informações divulgadas, recentemente, pelo Instituto de Pesquisas Espaciais (Inpe) que apontam que 209 km² foram desmatados na Amazônia legal, até o dia 17 de fevereiro, sendo considerado a maior marca para o mês em toda a série histórica, iniciada em 2015. Os dados indicam que os estados que fora recordistas em desmatamento, no me de fevereiro, são Mato Grosso (129 km²), Pará (34 km²) e Amazonas (23 km²).

Os municípios que bateram recorde de desmatamento da série histórica em 2022 foram Beruri, Borba, Canutama, Lábrea, Manicoré e Tapauá. Entre esses, Lábrea foi o que apresentou o maior desmatamento ao longo do ano, com 55.332,93 ha. Já os municípios que mais registraram focos de calor em 2022 foram Porto Velho, Lábrea, Manicoré, Humaitá e Canutama, responsáveis por 89% (12.533 focos de calor) do total detectado.

Esses municípios localizados ao sul da rodovia estão mais próximos do Arco do desmatamento, uma região historicamente mais sujeita a pressões. O ritmo acelerado do processo de licenciamento do Trecho do Meio e a desproteção da Terra Indígena (TI) Jacareúba-Katawixi, que aconteceram na reta final do governo Jair Bolsonaro, contribuíram para o agravamento da situação na BR-319.

Os estados recordistas em desmatamento no mês de fevereiro, são Mato Grosso, Pará e Amazonas. Foto: Orlando Júnior

Na avaliação da responsável pela análise de dados da retrospectiva e grande conhecedora da região, a pesquisadora Paula Guarido, os recordes sucessivos de desmatamento e focos de calor registrados nos últimos quatro anos são efeito do desmonte da política ambiental no Brasil, além da desmobilização de órgãos de comando e controle.

“A soma do incentivo a atividades ilegais, como desmatamento, garimpo e grilagem, a não destinação a terras públicas e a falta de fiscalização por parte das esferas federal e estadual, incentivaram a esse cenário”, afirmou.

Além disso, maio do ano passado foi considerado o pior mês de desmatamento na BR-319, com oito municípios (Beruri, Borba, Canutama, Humaitá, Lábrea, Manicoré, Porto Velho e Tapauá) acumulando recordes no período. Em relação aos focos de calor, setembro de 2022 foi o mês mais preocupante, quando nove municípios registraram dados alarmantes. São eles: Autazes, Beruri, Borba, Canutama, Humaitá, Lábrea, Manaus, Porto Velho e Tapauá.

Os índices mostram que a situação na BR-319 acompanha a realidade do Amazonas, que foi o estado da Amazônia Legal com maior aumento de desmatamento em relação a 2021 (24%). O Amazonas é o segundo estado mais desmatado da região, atrás apenas do Pará. Já Rondônia teve redução de 7% no desmatamento em comparação ao ano de 2021.

A situação na BR-319 é um retrato da realidade do desmatamento que acontece no Amazonas/Foto: Orlando Júnior

Além dos monitoramentos mensais, publicados no Informativo e site da rede, o OBR-319 também produz estudos técnicos que apontam situações críticas e soluções detectadas na área de influência da BR-319. “No entanto, é muito difícil provocar alguma reação do poder público, no sentido de combater ilegalidades, quando se tem um governo avesso ao diálogo, como foi o caso do governo Bolsonaro”, explica Paula Guarido. 

By emprezaz

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