Redação Planeta Amazônia
O WWF alerta que, se os países que vão a Roma para a retomada da conferência da ONU sobre biodiversidade (COP16.2) não conseguirem chegar a um consenso sobre o caminho a seguir no tema do financiamento, isso representará um grande retrocesso para o Marco Global de Biodiversidade, prejudicando os esforços essenciais de captação de recursos para a implementação das metas — faltando apenas cinco anos para o prazo final.
A reunião, que será realizada de 25 a 27 de fevereiro em Roma, terá foco em questões críticas que ficaram pendentes na Colômbia durante a primeira etapa da COP16. As negociações foram suspensas após uma maratona na plenária de encerramento, interrompida pela presidente da COP16, Susana Muhamad, devido à ausência de delegados suficientes na sala para a tomada de decisões.
As discussões em Roma precisam adotar uma estratégia de mobilização de recursos para o período de 2025 a 2030, a fim de garantir financiamento oportuno e equitativo para a implementação do Marco Global de Biodiversidade. O principal ponto de discordância em relação ao financiamento, até agora, tem sido a possibilidade de criar um novo fundo dedicado no âmbito da Convenção das Nações Unidas sobre Diversidade Biológica, em resposta às preocupações dos países beneficiários sobre a estrutura de governança do Fundo Global para o Meio Ambiente e sua capacidade de fornecer recursos suficientes e no prazo necessário. A atenção política de alto nível que a reunião está recebendo, com a presença confirmada de vários ministros pela Presidência da Colômbia, pode ser a única maneira de superar o impasse.
“O Marco Global de Biodiversidade não é apenas um conjunto de aspirações – é nosso plano para um futuro mais sustentável e equitativo, que prioriza o valor intrínseco da natureza para nossas vidas cotidianas. Não podemos nos dar ao luxo de deixar isso escapar por entre os dedos. A última coisa de que o mundo precisa agora são mais obstáculos que atrapalhem o progresso crucial necessário para cumprir os compromissos ambientais globais”, afirma Kirsten Schuijt, Diretora-Geral do WWF Internacional.
“Os países devem chegar a Roma comprometidos com diálogos construtivos e com uma vontade política genuína de encontrar a melhor forma de avançar no financiamento. A perda de biodiversidade terá consequências de longo alcance que a humanidade ainda não compreendeu totalmente. Os países não têm outra opção senão trabalhar juntos para traçar um caminho sólido, justo e bem financiado rumo às nossas metas compartilhadas de biodiversidade, porque o caminho para 2030 precisa ser construído coletivamente – ou corremos o risco de nunca alcançá-lo”, acrescenta Schuijt.
“Sem a mobilização real de recursos, todos os compromissos adotados nas COPs permanecem etéreos. Os países em desenvolvimento, que abrigam a maior parte da biodiversidade global, não podem carregar sozinhos o ônus de sua conservação. O espírito das convenções do Rio e, mais recentemente, da Agenda 2030, reforça que enfrentamos desafios ambientais globais comuns, que só podem ser resolvidos de forma colaborativa. É dever de todas as partes encontrar soluções: alguns conservando, outros apoiando financeiramente a conservação da biodiversidade”, afirma Michel Santos, gerente de políticas públicas do WWF-Brasil.
“Precisamos de compromissos financeiros robustos e acessíveis, garantindo que o financiamento chegue onde é mais necessário, incluindo povos indígenas e comunidades locais, que são os verdadeiros guardiões da biodiversidade. A efetiva implementação do Marco Global de Biodiversidade depende de um arranjo financeiro justo e adequado à escala do desafio que enfrentamos”, completa Santos.
Em 2025, mais de 900 líderes globais de empresas, governos, academia e sociedade civil classificaram a perda de biodiversidade e o colapso de ecossistemas entre os quatro riscos globais mais graves para economias, sociedades e o meio ambiente na próxima década. Enquanto isso, o Relatório Planeta Vivo 2024 do WWF mostrou que as populações de animais selvagens vertebrados despencaram em média 73% desde 1970, e as mudanças climáticas continuam a devastar comunidades e a colocar pressão crescente sobre a natureza.
“Todos os caminhos podem levar a Roma – mas se levarmos a sério o alcance das metas de natureza para 2030, haverá algumas lacunas significativas que precisam ser preenchidas ao longo do caminho”, acrescenta Guido Broekhoven, Chefe Global de Pesquisa e Desenvolvimento de Políticas do WWF. “Pelo menos US$ 20 bilhões por ano foram prometidos aos países em desenvolvimento até 2025, bem como ações para identificar e redirecionar US$ 500 bilhões em subsídios prejudiciais à natureza. Crucial para todo financiamento é garantir que os povos indígenas e comunidades locais recebam acesso direto aos fundos para continuarem em seu papel de guardiões da biodiversidade mundial. Já estamos em 2025 – esses compromissos devem ser honrados.”
No ano passado na Colômbia, os países acordaram a criação de um novo “Fundo Cali” – com lançamento previsto para Roma –, que mobilizará financiamento de empresas que utilizam informações digitais de sequências de recursos genéticos; a formação de um Órgão Subsidiário para Povos Indígenas e comunidades locais; e uma decisão há muito aguardada sobre os procedimentos para identificar Áreas Ecológica ou Biologicamente Significativas nos oceanos. No entanto, diversos outros acordos importantes permanecem paralisados devido ao impasse relacionado ao financiamento. Entre eles estão: a finalização de indicadores de monitoramento para acompanhar como os principais setores estão integrando ou priorizando a biodiversidade; a criação de um processo para aumentar a ambição na COP17 após a Revisão Global do progresso; e a definição de como a Convenção das Nações Unidas sobre Diversidade Biológica irá colaborar com outros acordos e instituições multilaterais.