Cassandra Castro
A natureza é prodigiosa em fornecer à humanidade toda a sua riqueza natural, mas vem dando sinais de esgotamento ao longo dos anos. Ações criminosas como o desmatamento ilegal, invasão e grilagem de terras têm contribuído para um quadro cada vez mais devastador e, ao mesmo tempo, desafiador na busca de alternativas para mitigar os efeitos sobre a floresta.
Quem vive na floresta e tira dela o seu sustento tem feito a sua parte para garantir que, pelo menos, o pedaço de chão onde vive não seja destruído ou sinta um pouco menos os impactos da degradação do meio ambiente.
Há dez anos, um projeto desenvolvido nas regiões de São Félix do Xingu e Tucumã, no estado do Pará, tem contribuído para engajar pequenos produtores na restauração da Amazônia. É o Cacau Floresta, realizado pela organização não-governamental de conservação ambiental The Nature Conservancy ( TNC), que atua há 35 anos no Brasil e tem o bioma amazônico como um dos principais focos de trabalho.
O projeto acontece em umas das regiões que mais desmatam no Brasil e o trabalho busca parceria com produtores rurais que desejam restaurar áreas degradadas com a implementação de sistemas agroflorestais baseados no cacau, uma espécie de alto valor no mercado.
A gerente do projeto Cacau Floresta na TNC Brasil, Noemi Siqueira, conta que que o uso dos Sistemas Agroflorestais, permite melhorias no solo e faz com que as espécies cultivadas se auxiliem e ilustra a questão do cacau. “ O cacau precisa de 30% de sombreamento e para isso é fundamental o manejo correto”, afirma.
O Cacau Floresta atendeu mais de 600 produtores nas duas regiões que têm comercializado o produto nas feiras regionais e participado em programas como o Programa Nacional de Alimentação Escolar Indígena (Pnai).
Noemi Siqueira explica que o projeto também deu assistência para a consolidação de cooperativas e estruturação do coletivo para que os agricultores familiares possam realizar cada vez mais projetos sustentáveis que também proporcionem a eles a criação e consolidação de marcas próprias, ações que ajudem a conquistar um valor agregado ao cacau e derivados.
O protagonismo feminino também tem crescido ao longo desses 10 anos de existência do projeto. As mulheres têm manifestado o interesse por aprender e participar mais do processo produtivo. Para isso, a TNC e parceiros realizaram uma série de cursos de gestão de propriedade, de organização social, como associações e cooperativas, dos sistemas agroflorestais e de produção de alimentos voltados para mulheres.
A produtora rural, Rosely Alves Dias, sempre viveu da agricultora e da pecuária, em São Félix do Xingu. Ela faz parte do projeto Cacau Floresta há seis anos. Para ela, o formato de Sistemas Agroflorestais traz uma estabilidade financeira e é uma garantia para o futuro. “No futuro, ele será uma espécie de aposentadoria, gerar alimentos, abre oportunidade de entrar em um novo mercado, além de manter a floresta em pé”, diz a agricultora.
Na opinião de Roseli, para valorizar a produção do cacau nas comunidades, são necessárias algumas medidas como a viabilização do beneficiamento das amêndoas do cacau, da extração de óleo de semente vegetal e fabricação de adubo. Para ela, também é fundamental a liberação de crédito para os produtores. “Isso hoje é o maior entrave na agricultura familiar, é muito burocrático”, avalia a agricultora.
O projeto Cacau Floresta incentiva iniciativas que promovam o não desmatamento e que permitam que a natureza e as pessoas prosperem juntas.