(*) Pedro Franck Minella e João Gabriel de Araujo Oliveira
A inflação medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) reflete a variação dos preços de uma ampla cesta de bens e serviços. No entanto, fatores distintos podem se contrabalançar, mascarando a real dinâmica inflacionária. Um exemplo claro ocorreu em janeiro: apesar de o mês ter registrado a menor inflação mensal desde 1994, houve um aumento significativo no preço dos alimentos. Ainda assim, o IPCA ficou em apenas 0,16% em janeiro e 1.31 em fevereiro. Como isso foi possível?
A explicação está em uma medida do governo baseada na Lei nº 10.438 de 2002, que permitiu a conversão de parte do excedente financeiro da Usina de Itaipu (chamada de Bônus Itaipu) em créditos para os consumidores de energia elétrica. Sendo assim, a forma correta de cáculo seria somar a inflação de janeiro e fevereiro (0.16% com 1.31% que totalizam 1.47%) e comparar com o resultado do mesmo período do ano de 2024 (0.42% com 0.83% que totaliza 1.25), gerando um aumento de 0.27% em termos reais. Esse efeito demonstra que um IPCA baixo não significa que todos os preços subiram pouco ou se mantiveram estáveis; apenas indica que a média ponderada dos diversos componentes do índice resultou naquele número.

A medida adotada pelo Bônus Itaipu, reduziu drasticamente o custo da energia para residências e comércios, segurando artificialmente o índice de inflação no mês. Essa pode ser considerado como uma ressaca, onde o efeito estatistico é inverso para o mês de fevereiro, criando uma ilusão de que a taxa do mês de fevereiro seja decretada como uma alta histórica. Há de lembrar aqui que, não devemos descartar o efeito inflacionario impulsionado pela alta dos alumentos, que produziu um aumento histórico de 7.25% nos últimos 12 meses em comparação com aos 4.3% da renda média dos braisleiros.
No entanto, essa “folga” foi temporária. Com o fim do impacto da redução tarifária, o aumento dos preços de alimentos se tornou mais evidente. A aceleração inflacionária pegou a população de surpresa, que havia sentido uma falsa sensação de estabilidade em janeiro. O grande problema é que os alimentos subiram mais do que o salário-mínimo e a produtividade média brasileira, pressionando o poder de compra da população. Como o reajuste salarial não acompanhou a inflação, os trabalhadores perderam capacidade de consumo real.
O efeito é especialmente severo para as famílias de menor renda, que destinam uma parcela maior de seus rendimentos para alimentação. Assim, o aumento inflacionário impacta desproporcionalmente os mais vulneráveis, reduzindo o poder de compra e ampliando as dificuldades financeiras.

A lição que fica é clara: oscilações pontuais na inflação podem esconder a verdadeira trajetória dos preços. Por isso, ao analisar os dados, é essencial olhar além do número final e entender os fatores que o compõem.
(*) Pedro Franck Minella é aluno de graduação do Ibmec-DF /João Gabriel de Araujo Oliveira é Professor Adjunto I, Ibmec-DF e orientador do Pedro.