Prof. Dr. Edson Alves de Araújo, Profa. Dra. Sonaira Souza Silva, Mestrando Eric de Souza Nascimento – Universidade Federal do Acre Campus Floresta, Mestrado em Ciências Ambientais, Cruzeiro do Sul – Acre
Não é de hoje que são veiculadas pelos órgãos de imprensa no Acre, as precárias condições em que se encontra a BR-364, rodovia federal que atravessa o estado de leste a oeste, ligando a capital Rio Branco à cidade de Cruzeiro do Sul, segunda cidade em importância econômica e populacional. Essa rodovia é a principal via de escoamento da produção agrícola, pecuária e madeireira da região, além de ser utilizada para o transporte de passageiros e mercadorias entre os diferentes lugares do Acre, e entrada de produtos e serviços de outros Estados e países para o Acre. É válido lembrar que até o início da década de 60, no Acre, as principais rotas de acesso eram feitas por via fluvial (rios) e aérea, e que, para algumas cidades, esses meios existem até hoje. No entanto, a partir da década de 70, intensificou-se a construção de rodovias (federais e estaduais) e estradas vicinais (ramais), para atender às demandas de tráfego das populações urbanas e rurais, melhorando consideravelmente os transportes e o escoamento da produção. Mas por que é tão difícil manter rodovias e estradas vicinais na região em condições de trafegabilidade o ano todo? Por que é tão caro a construção e manutenção dessas estruturas? E por que é tão difícil trafegar em ramais durante a estação chuvosa?
A resposta está nas particularidades dos solos da região, que possuem argilas de alta atividade, muito conhecidas popularmente na região como tabatinga, que se caracterizam por apresentar cores acinzentadas a poucos centímetros da superfície, por endurecer e apresentar rachaduras quando seco e por grudar e deslizar quando umedecido, causando atoleiros no tráfego de veículos. Este fenômeno é mais destacado, principalmente, no período do “inverno amazônico”, que vai de novembro a maio. Essa particularidade torna a construção e manutenção de rodovias e ramais uma tarefa desafiadora, principalmente na região central do estado, entre as cidades de Sena Madureira e Tarauacá.
A natureza e propriedades dessas argilas devem-se à origem dos solos, que ocorreu no passado, há mais de 23 milhões de anos atrás, a partir de sedimentos transportados da cordilheira dos Andes para a região do Acre [1]. Essa é uma herança geológica que influencia sobremaneira na composição mineralógica dos solos da região (como por exemplo a presença do mineral esmectita), sendo diferente do restante da Amazônia.
Além disso, em razão da natureza sedimentar, os solos associados a essas argilas não possuem “rochas duras”, a exemplo da brita, para serem utilizadas no recapeamento de ramais ou para compor a base asfáltica. Por isso, algumas alternativas locais têm sido utilizadas na pavimentação de ramais, de modo a facilitar o tráfego de veículos no período invernoso, a exemplo da piçarra , argila calcinada e terra vegetal.
A piçarra, por exemplo, trata-se de concreções ferruginosas, originado do processo de formação do solo, que é utilizado com maior frequência na região leste do Acre na pavimentação de ramais, uma vez que melhora o atrito da roda do veículo durante o tráfego, evitando que “atole” . No entanto, este recurso mineral não é encontrado em abundância no Acre, inviabilizando seu uso em maior escala .
Grande parte das vias de acesso terrestre criadas no Acre está concentrada na região leste e oeste do Acre (59%) , sobre Argissolo e Latossolos, solos com menos entraves para pavimentação. Na região central do estado, entre os municípios de Sena Madureira a Tarauacá, ocorre a maior área com tabatinga (predomínio de Vertissolos, Cambissolos e Luvissolos), a pavimentação asfáltica se deteriora rapidamente . Essa tabatinga é a responsável pela grande quantidade de buracos e trechos com erosão ao longo da BR-364.
Dentre as três grandes regiões do Acre, a que possui a menor quantidade de estradas vicinais é a região central, fato que pode ser explicado pela dificuldade de manutenção e trafegabilidade nos ramais da região. No entanto, o fato do solo ser difícil para o asfaltamento, não tem impedido a abertura de novos ramais e estradas no Acre, uma vez que, em média 500 km de novos ramais são abertos por ano no Acre [5]. Isso gera uma enorme pressão anual econômica e de gestão para o Governo Estadual e Federal de manutenção e reconstrução. É necessário buscar tecnologias para construção e manutenção de estradas que se adaptem aos tipos de solos acreanos, garantindo qualidade e durabilidade em longo prazo.