Redação Planeta Amazônia
Um estudo publicado na revista internacional Science recomenda que as crises climáticas e da biodiversidade sejam enfrentadas como única crise, pois são interdependentes e se ampliam mutuamente. O estudo é resultado de um workshop virtual ocorrido em 2020 e contou com a colaboração de 18 pesquisadores, entre eles, o ex-diretor e pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa/MCTI), Adalberto Luis Val.
O aumento da temperatura do planeta juntamente com a destruição dos habitats naturais das espécies provoca a perda da biodiversidade, a diminuição da capacidade dos organismos, dos solos e dos sedimentos de armazenarem carbono e, consequentemente, acentuam a crise climática.
“A Amazônia tem um papel fundamental tanto no contexto das mudanças climáticas, como da biodiversidade e, como o artigo enfatiza, das duas crises conjuntas. O impacto das mudanças do clima na Amazônia e da própria Amazônia sobre a crise climática global está longe de ser completamente entendido e controlado. Ainda não nos demos conta da gravidade do problema na região”, alerta Adalberto Val, que estuda adaptações biológicas às mudanças (de origem natural ou causadas pelo homem) em ambientes naturais e de criação (aquicultura).
As atividades humanas alteraram cerca de 75% da superfície da terra e 66% das águas marinhas do planeta, resultando numa perda de 80% da biomassa dos mamíferos e 50% da biomassa vegetal. Isso agrava a vulnerabilidade de algumas espécies e contribui para mais espécies entrarem em extinção, estima o estudo internacional. A biomassa é responsável pela produção de energia a partir de resíduos de origem animal ou vegetal.
“A biodiversidade da Terra e as sociedades humanas enfrentam a poluição, consumo excessivo de recursos naturais, urbanização, mudanças demográficas, desigualdades sociais e econômicas e perda de habitat, muitas das quais são exacerbadas pelas mudanças climáticas”, critica o pesquisador.
Os organismos mais vulneráveis são os que não podem se locomover, como os corais. As espécies móveis também correm risco de extinção quando não encontram um habitat com temperaturas apropriadas para colonizar. Além disso, os organismos têm limites de tolerância para mudanças em suas condições ambientais, por exemplo, a temperatura. “Várias espécies já estão vivendo no limite de suas habilidades. Há muitas espécies de peixes que estão vivendo próximas dos seus limites térmicos superiores, como temos descrito em vários trabalhos publicados, muitos dos quais com origem no INCT-Adapta”, exemplifica o coordenador do INCT-Adapta, Adalberto Val.
O Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia – Centro de Estudos de Adaptações Aquáticas da Amazônia (INCT-Adapta) realiza pesquisas sobre como os organismos da biota aquática se ajustam às mudanças ambientais, incluindo as mudanças naturais e mudanças causadas por ações humanas. O INCT-Adapta tem apoio financeiro da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (FAPEAM), do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES).
Ações para o presente
O estudo recomenda medidas urgentes para redução das emissões de gases de efeito estufa, limitar o aquecimento global a 1,5 graus da temperatura do planeta, a proteção de pelo menos 30% da terra, da água doce e marinha, medidas de proteção e de restauração para evitar mais perdas de biodiversidade mundial e garantir a capacidade de funcionamento dos ecossistemas naturais.
“A crise climática que nós mesmos causamos é provavelmente o maior desafio que o Homo sapiens enfrentou em seus 300.000 anos de história. Mas ao mesmo tempo, outra crise igualmente perigosa está se desenrolando, uma crise que muitas vezes é negligenciada – a dramática perda de espécies vegetais e animais em todo o planeta”, diz o especialista alemão Hans-Otto Pörtner, chefe da Seção de Ecofisiologia Integrativa do Instituto Alfred Wegener e autor principal de vários relatórios de avaliação e relatórios especiais do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC).
O IPCC é uma organização científico-política responsável por produzir relatórios a partir de estudos climáticos, de biodiversidade, socioeconômicos etc. O último relatório do IPCC, publicado em 2022, traz alerta sobre a necessidade da redução das emissões dos gases de efeito estufa (GEE), limitando em 1,5ºC (graus celsius) e interrupção do seu crescimento até 2025, a remoção do gás carbônico (dióxido de carbono) da atmosfera, uso de energia limpa em todos os setores, mudanças nos padrões de comportamento e consumo, principalmente, entre os mais ricos, entre outras recomendações.
Uso da terra
Os autores pedem que as áreas protegidas não sejam vistas somente como refúgios da biodiversidade, precisam estar interligadas, tanto terras quanto mares, por meio de corredores de migração de diversas espécies, criando uma rede de áreas protegidas interconectadas. E os povos indígenas precisam ser inseridos para o alcance desses objetivos.
“A promoção da saúde humana, ecossistêmica e planetária interligada para um futuro habitável requer urgentemente a implementação ousada de intervenções políticas transformadoras, por meio de instituições interconectadas, governança e sistemas sociais desde o nível local até o global”, recomendações destacadas por Adalberto Val presentes no estudo.
O estudo é o resultado das discussões realizadas no workshop científico virtual realizado em dezembro de 2020 com participação de 62 pesquisadores de 35 países. O workshop foi coordenado pela Plataforma Intergovernamental de Política Científica sobre Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos (IPBES) e o IPPC, ambas pertencentes à Organização das Nações Unidas (ONU).
Com informações do Inpa/MCTI