Pesquisador indígena é homenageado por integrar saberes ancestrais à ciência e à educação

Redação Planeta Amazônia

O educador e pesquisador indígena Dzoodzo Baniwa, também conhecido como Juvêncio da Silva Cardoso, será condecorado com o Prêmio Fundação Bunge 2025, na categoria Vida e Obra, pelo tema “Saberes e práticas dos povos tradicionais e sua importância para a conservação dos recursos naturais”. A cerimônia acontece em 23 de setembro, em São Paulo (SP), e reconhece a trajetória de Dzoodzo como defensor da educação escolar indígena e da integração entre ciência acadêmica e saberes ancestrais.

Morador da aldeia Santa Isabel do rio Aiari, na Terra Indígena Alto Rio Negro (AM), Dzoodzo acompanhou desde jovem o início da educação escolar em seu território, com a chegada da missionária Sophia Müller. “A educação escrita trouxe uma nova era para o povo Baniwa, permitindo sistematizar e registrar nossos conhecimentos e dialogar com outros saberes”, relembra.

A partir da década de 1980, seu povo se organizou em defesa dos direitos territoriais e educacionais, fundando a Federação das Organizações Indígenas do Rio Negro (Foirn). Dzoodzo seguiu esse caminho, licenciando-se em física intercultural pelo IFAM e tornando-se mestre em Ensino de Ciências Ambientais pela UFAM.

Sua trajetória inclui atuação como técnico indígena em psicultura no CEPTA/ICMBio, onde aplicou conhecimentos científicos em diálogo com narrativas locais sobre peixes e práticas ambientais. “Me tornei o primeiro técnico indígena sem titulação formal, mas com prática laboratorial, unindo ciência e tradição”, conta.

foto: Divulgação

Na educação, Dzoodzo defende um ensino contextualizado, que parte das realidades locais e culturais. “No meu território, sem energia elétrica, tratamos a eletricidade a partir das narrativas do fogo. É um processo de ensino-aprendizagem que respeita a evolução cultural do povo”, explica.

Ele também alerta para os impactos da crise climática nos territórios indígenas, mesmo onde não há desmatamento ou emissão de gases. “A ciência depende dos saberes indígenas para validar percepções, e nós dependemos da ciência para reconhecimento. Essa interdependência é essencial para construir uma sociedade mais inclusiva e diversa”, afirma.

Hoje, Dzoodzo se define como um tradutor intercultural, que conecta mundos distintos em prol da educação, da ciência e da preservação ambiental. “Esse diálogo é importante não só para os povos indígenas, mas para toda a humanidade”, conclui.

By emprezaz

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