Redação Planeta Amazônia
Pesquisas desenvolvidas com apoio do Governo do Amazonas, por meio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (Fapeam), têm gerado avanços no monitoramento climático e hidrológico da região do Médio Solimões. Os estudos fazem parte da série do Programa de Apoio à Interiorização em Pesquisa e Inovação Tecnológica no Amazonas (Painter), nas modalidades Painter Infra CT&I (Edital nº 003/2023) e Painter+ (Edital nº 006/2022).
Sob coordenação do pesquisador Ayan Santos Fleischmann, doutor em Engenharia de Recursos Hídricos pelo Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá (IDSM), os projetos “Monitoramento do clima e recursos hídricos da Reserva Mamirauá” e “Mudanças climáticas e recursos hídricos nas várzeas do rio Solimões” analisam os efeitos de eventos extremos — como secas e enchentes severas — sobre ecossistemas e comunidades ribeirinhas.

Dinâmica das águas e impactos locais
Os estudos buscam compreender como o ciclo das águas, especialmente as fases de cheia e seca, tem influenciado a vida de cerca de 11 mil moradores da Reserva Mamirauá, cujos modos de vida estão diretamente ligados à agricultura, pesca e transporte fluvial.
Fleischmann destaca que as pesquisas convergem para a análise dos recursos hídricos e do clima da maior área protegida para conservação de várzeas no Brasil. Entre os avanços, estão os dados obtidos por estações meteorológicas, gravadores de som e equipamentos de georreferenciamento GNSS de alta precisão. As análises incluem variáveis como intensidade e frequência de chuvas, velocidade do vento, níveis de água, turbidez e concentração de sedimentos.
Como forma de aproximar a ciência da população, os pesquisadores desenvolveram o “Boletim das Águas do Médio Solimões”, distribuído em grupos virtuais com cerca de mil moradores, além de inserções em rádios locais na cidade de Tefé, a 523 km de Manaus.
“As informações ambientais são essenciais para que as comunidades se adaptem aos impactos do clima, que afetam não apenas o cotidiano, mas também a economia da região”, afirma Fleischmann.

Inovação e tecnologia para conservação
Entre os métodos utilizados, destaca-se o monitoramento geoacústico da chuva, que emprega inteligência artificial — com o algoritmo Random Forest — para avaliar a intensidade pluviométrica a partir de espectrogramas sonoros captados por gravadores. A técnica traz uma nova perspectiva para a previsão de eventos extremos na Amazônia.
Os estudos também analisam sedimentos dos rios Solimões e Japurá, contribuindo para a compreensão das alterações no padrão de inundação e da paisagem ao longo do tempo.
O apoio da Fapeam é apontado como essencial para o fortalecimento da infraestrutura de laboratórios e campo, permitindo a continuidade da rede de monitoramento hidrometeorológico instalada na região. A série Painter busca incentivar projetos de ciência, tecnologia e inovação voltados ao interior do estado, promovendo o desenvolvimento científico em instituições sediadas fora da capital.
“Os projetos financiados pela Fapeam nos permitem trazer respostas sobre o comportamento das águas e do clima, especialmente diante dos impactos sem precedentes das mudanças climáticas, como as duas secas extremas de 2023 e 2024 e a cheia histórica de 2021 em Manaus”, conclui Fleischmann.