Redação Planeta Amazônia
Um encontro inédito entre lideranças de cerca de 16 povos indígenas marcou o início de uma nova etapa da Caravana dos Povos Indígenas Rumo à COP 30, iniciativa da Secretaria de Estado dos Povos Indígenas (Sepi). Realizado na aldeia Cumaru, na Terra Indígena Kaxuyana-Tunayana, o evento reuniu comunidades do Baixo Amazonas em um movimento de escuta, formação, governança territorial e construção coletiva de propostas para a 30ª Conferência da ONU sobre Mudanças Climáticas, que ocorrerá em Belém, em novembro.
A Terra Indígena Kaxuyana-Tunayana é parte do Território Wayamú, considerado uma das áreas mais preservadas da Amazônia. O território atravessa os estados do Pará, Amapá e Roraima, abrigando dezenas de povos indígenas, inclusive grupos isolados, em uma região de rica sociobiodiversidade entre os rios Cachorro, Trombetas, Mapuera e seus afluentes.
“O carbono está aqui, e a floresta em pé é a nossa vida. Queremos cuidar da nossa natureza, porque sem ela não há vida”, afirmou Nilson Wai Wai, vice-presidente da Associação dos Povos Indígenas do Rio Mapuera.

Diálogo entre gerações e construção coletiva
A Caravana promoveu rodas de diálogo, oficinas formativas, debates intergeracionais e espaços de escuta com participação ativa de jovens, mulheres e lideranças tradicionais. A programação incluiu abordagens sobre a organização da COP 30, credenciamento indígena, desafios territoriais e elaboração de propostas locais.
“Estamos aprendendo o que é a COP 30. Queremos participar e trocar ideias. Tudo vai dar certo, porque estamos juntos e fortalecidos”, disse Marluce Mura, liderança das mulheres Wai Wai.
A secretária de Estado dos Povos Indígenas, Puyr Tembé, destacou que a Caravana é construída a partir dos territórios:
“É um espaço para que os povos indígenas elaborem suas propostas com base em suas realidades. É fortalecimento, afirmação cultural e presença nos espaços de decisão.”

Guardiões da floresta e da conferência
A realização da Caravana no Território Wayamú carrega forte simbologia: a região representa um dos últimos grandes mosaicos florestais protegidos da Amazônia. A organização comunitária e a presença indígena atuam como barreiras à degradação ambiental, impulsionando políticas de sociobioeconomia, soberania alimentar e governança climática.
“Estamos no coração da Amazônia, preservando milhares de hectares. Trazemos propostas e reafirmamos que os povos originários são os verdadeiros guardiões da floresta tropical”, destacou novamente Nilson Wai Wai.
A Caravana percorrerá todas as oito etnorregiões do Pará, compondo um processo inédito de mobilização territorial e articulação indígena rumo à maior conferência climática do mundo.