Projeto fortalece cadeia do pirarucu e amplia alternativas de renda na Amazônia

Redação Planeta Amazônia

O pirarucu, o maior peixe de água doce da Amazônia, já esteve ameaçado pela pesca predatória, o que levou à proibição da atividade em 1996. Graças ao manejo sustentável, os estoques foram recuperados e o modelo tornou-se referência internacional. Agora, o desafio é dar um novo salto: agregar valor à cadeia produtiva e ampliar a renda das comunidades ribeirinhas. Para isso, a Fundação Amazônia Sustentável (FAS) lançou o projeto “Sistema de Rastreabilidade: Inovação e Inteligência de Mercado na Cadeia Produtiva do Pirarucu da RDS Mamirauá”, que combina tecnologia, infraestrutura e novos canais de mercado para fortalecer a sociobioeconomia amazônica.

A iniciativa reúne um conjunto de ações que marcam uma nova etapa para a cadeia do pirarucu. Entre elas estão o uso de blockchain para assegurar a rastreabilidade e a procedência do pescado, com dados coletados diretamente no aplicativo Gygas. Também a construção de um flutuante de pré-beneficiamento na comunidade Santa Luzia do Jussara. E ainda a criação da marca Gigantio, voltada a estratégias de comercialização do filé de pirarucu.

foto: Rodolfo Pongelupe

O projeto beneficia diretamente 55 manejadores de pirarucu em três comunidades (Mangueira, Catiti e Jussara), com previsão de ampliar a renda de 45 famílias, cerca de 180 pessoas, e deve gerar 15 novos empregos.

Os manejadores atuam na Reserva de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá, formando uma ampla rede de atores sociais cuja economia e cultura estão profundamente ligadas à pesca. A atividade é responsável por mais de 70% da produção de pirarucu no Estado do Amazonas e, dentro da reserva, o peixe representa a principal fonte de renda para as famílias ribeirinhas.

Para a FAS, o projeto representa um novo patamar de inovação e protagonismo comunitário. “O sistema é um marco para transformar desafios históricos em oportunidades, unindo qualidade, transparência e protagonismo comunitário”, destaca Valcleia Lima, superintendente adjunta da FAS.

Esses resultados fortalecem a economia local e contribuem para reduzir desigualdades históricas em territórios ribeirinhos, consolidando o pirarucu como um ativo estratégico da bioeconomia amazônica.

foto: Rodolfo Pongelupe

Gygas: aplicativo amazônida dá “CPF” ao pirarucu e garante rastreabilidade

Com investimento total de R$3,5 milhões, o projeto também traz a tecnologia como aliada da conservação ambiental, gestão de negócios e da geração de renda. O aplicativo Gygas, que funciona mesmo em áreas de baixa conectividade, garante rastreabilidade completa do pirarucu como a carne e a pele. A ferramenta utiliza a tecnologia blockchain, assegurando transparência e confiabilidade em toda a cadeia produtiva.

Na prática, o sistema funciona como um “caderno digital de dados” que registra cada fase do manejo, desde a captura nos lagos até a chegada ao consumidor final. Esses registros ficam conectados, criptografados em sequência e não podem ser alterados. No final, cada pirarucu recebe um QR Code único, o “CPF do pescado”.

Segundo Wildney Mourão, gerente de Empreendedorismo e Negócios Sustentáveis da Fundação Amazônia Sustentável (FAS), que lidera a iniciativa, o Gygas representa a união entre inovação tecnológica, protagonismo comunitário e mercado justo. “É uma ferramenta que fortalece a sociobioeconomia e dá mais visibilidade ao trabalho das comunidades ribeirinhas e indígenas, mostrando ao mundo que é possível conservar a floresta e gerar renda de forma sustentável”.

foto: Rodolfo Pongelupe

O Sistema de manejo do pirarucu é regulamentado pelo Ibama, o órgão autoriza a pesca de até 30% da população adulta por meio de cotas anuais. Para cumprir essa exigência, os comunitários já precisavam registrar e comprovar todos os dados da atividade.

Antes, informações como peso, comprimento, sexo e lago de origem eram anotadas em planilhas sujeitas a rasuras, perdas ou até danos pela umidade, como explica o jovem manejador e morador da comunidade ribeirinha, Denilson dos Santos.

Com o aplicativo, o processo se tornou mais ágil e confiável: a tecnologia gera automaticamente relatórios que facilitam a emissão dos documentos de legalização, assegurando a rastreabilidade e a conformidade do manejo sustentável. “Com a novidade, ficou melhor do que quando a gente usava o caderno. Antes tinha o risco de molhar, porque tudo ficava junto à evisceração do peixe”, relata o manejador.

O sistema foi construído com base em um princípio central: escutar quem diariamente lida com o manejo do pirarucu. “As comunidades já possuem seus próprios sistemas de manejo, que são métodos tradicionais. Nosso papel foi traduzir isso em uma solução digital que respeita essa lógica, ao mesmo tempo em que facilita processos, gera mais segurança e valoriza o trabalho da comunidade”, explica o desenvolvedor de tecnologia da FAS, Matheus Vinícius.

Novos mercados e valorização da pele

O projeto também ampliará a presença do pirarucu no mercado gastronômico, com iniciativas como o Gigantio, que vai conectar associações e cooperativas comunitárias da Amazônia a chefs, restaurantes e hotéis de referência em todo o Brasil. A pele do peixe, por sua vez, ganha a oportunidade de ser valorizada em produtos de moda e design de alto valor agregado, criando novas frentes de negócio e ampliando os canais de mercado e a visibilidade do manejo sustentável.

“Isso é inteligência de mercado: uma estratégia que garante origem, eficiência e agrega valor ao pirarucu de manejo sustentável, promovendo iniciativas inovadoras como o Gigantio, clube de assinatura que comercializará o peixe diretamente com o setor gastronômico e hoteleiro de forma mais justa e responsável”, explica Wildney Mourão, gerente do Programa de Empreendedorismo e Negócios Sustentáveis da FAS.

Parcerias pela bioeconomia

O projeto “Sistema de Rastreabilidade: Inovação e Inteligência de Mercado na Cadeia Produtiva do Pirarucu da Reserva de Desenvolvimento Sustentável (RDS) Mamirauá” é executado pela Fundação Amazônia Sustentável (FAS) e conta com o apoio da Positivo Tecnologia, por meio do Programa Prioritário de Bioeconomia (PPBio) — política pública da Suframa, coordenada pelo Idesam.

Para Leandro Rosa dos Santos, Vice-presidente de Estratégia e Inovação da Positivo Tecnologia, faz parte do papel da empresa investir em projetos que beneficiem a Amazônia e as comunidades locais. “A inovação e a sustentabilidade fazem parte do DNA da Companhia, por isso é tão importante apoiar iniciativas que preservem o meio ambiente e o desenvolvimento econômico e social”, comenta o executivo. “Uma das nossas principais fábricas, responsável por boa parte da produção, está localizada na Zona Franca de Manaus. Trata-se de uma região de fundamental para o bom desempenho da empresa. Participar desse projeto é, também, uma forma de retribuir e ressaltar a importância que os ecossistemas naturais têm para nós e para todo o planeta”, completa.

Thiago Boutin, Líder Técnico de PD&I da empresa, explica: “É importante darmos esse retorno para a sociedade. A Positivo, como uma empresa 100% brasileira, tem orgulho de apoiar iniciativas que fortalecem a cadeia do pirarucu, um peixe que chegou a ficar ameaçado de extinção na década de 1990”.

As ações contribuem diretamente para os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS), como redução da pobreza, crescimento econômico, consumo e produção responsáveis e vida na água.

By emprezaz

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Postagens relacionadas