Redação Planeta Amazônia
Avanços significativos, mas uma série de lacunas a serem preenchidas: esse é o retrato do desempenho socioambiental e climático dos bancos comerciais e cooperativos que atuam no Brasil, revelado pela mais recente edição do Ranking da Atuação Socioambiental de Instituições Financeiras (RASA), que a Associação Soluções Inclusivas Sustentáveis (SIS) lança esta semana. Dos 12 bancos comerciais e cooperativos avaliados, apenas três conquistaram mais de 30 pontos, numa escala de 0 a 100: Rabobank, BTG Pactual e Sicredi. Os resultados – 36,43 (Rabobank), 35,42 (BTG Pactual) e 31,58 (Sicredi) – são superiores aos alcançados na primeira avaliação, realizada no fim de 2022.
Rabobank e BTG Pactual repetiram a boa atuação da primeira versão, lançada há dois anos, e ocuparam de novo a primeira e a segunda posições. Já o Sicredi pulou do quinto para o terceiro lugar, superando o Bradesco – terceiro na primeira avaliação e sexto colocado nesta. Um destaque positivo foi o Banco do Brasil que, na avaliação geral, subiu da oitava posição para a quinta – foi de 10,22, em 2022, para 24,06 nesta avaliação.
No ranking de investimentos, as primeiras posições ficaram com Rabobank (33,40 pontos), seguido por BTG Pactual (33,13) e Itaú Unibanco (22,81). Já no quesito crédito, a liderança ficou com BTG Pactual (39,60), sendo que Sicredi (37,68) e Rabobank (30,96) ocuparam a segunda e terceira posições.
O fato de que as pontuações máximas ficaram abaixo dos 40 pontos em uma escala que vai até 100 mostra que ainda há um longo caminho a ser percorrido pelos bancos quando se fala em políticas socioambientais e climáticas, na avaliação de Luciane Moessa, Diretora Executiva e Técnica da Associação Soluções Inclusivas Sustentáveis (SIS), organização que criou e implementou o RASA.
“As notas subiram, mas ainda são baixas se considerarmos o total que pode ser alcançado. Um dos principais motivos é a baixa quantidade de transações com riscos socioambientais avaliadas, o segundo é a superficialidade das análises por parte dos bancos e o terceiro principal motivo é a falta de transparência, pois, quando não encontramos informações, os bancos não pontuam”, explica. Em temas como governança da sustentabilidade, relevância da avaliação de riscos socioambientais no processo decisório e perfil de risco socioambiental das empresas receptoras de crédito ou investimentos (de forma agregada, claro, não individualizada), não foram encontradas muitas informações. “Outro problema é os bancos não publicarem sequer políticas por setor econômico, com a exceção do Rabobank, que só trabalha com o agro, e do BTG Pactual, que publica políticas para 20 setores diferentes”, afirmou a diretora.

Especialistas debatem resultados
Os resultados foram apresentados por Luciane Moessa, Diretora Executiva e Técnica da SIS, e debatidos por Marcos Woortmann, Diretor Adjunto do IDS, e Giovanna Valentim, da Conectas Direitos Humanos em uma live organizada pela SIS esta semana.
Segundo Marcos Woortmann, o RASA é uma ferramenta primordial para avaliar o sistema financeiro. Ele se surpreendeu com o fraco desempenho dos bancos públicos e atribuiu isso, entre outros fatores, à pouca transparência. ”O setor financeiro brasileiro é muito rentável. Existe espaço, capacidade e dinheiro para avançar também na pauta socioambiental. Espero que o governo possa dar os passos necessários para ter coerência no discurso e nas promessas feitas de se tornar um líder na questão ambiental, especialmente neste ano que teremos uma COP no Brasil”, destacou.
Woortmann disse que o momento atual – em que houve retrocesso na pauta ambiental nos Estados Unidos quando até os maiores bancos – JP Morgan, Citigroup, Bank of America, Goldman Sachs e Wells Fargo e a maior gestora do mundo, a Black Rock – abandonaram a Net-Zero Banking Alliance, a principal aliança climática do setor, há espaço para o Brasil se tornar um país interessante para investir. “Além de ter taxas de retorno grandes, se o país souber evoluir e se adaptar à nova realidade, pode se tornar um exemplo de boas práticas ASG e ser um bom receptor de investimentos.”
Já Giovanna Valentim destacou que é importante que os bancos olhem com muita atenção para as políticas de direitos humanos, especialmente para os projetos que podem impactar territórios das comunidades tradicionais. “É imprescindível olhar para os direitos indígenas e os impactos que muitos projetos que recebem investimento desses bancos geram em seus territórios.”
A representante da Conectas também chamou a atenção para a falta de espaços e mecanismos de reclamação e denúncia nos bancos, prova da necessidade de fortalecer e governança nessas instituições, especialmente neste momento em que são discutidos projetos de migração para energias mais limpas e, portanto, os abusos na implantação podem ocorrer. “É preciso buscar coerência entre os direitos humanos e o processo de transição energética nos compromissos com a questão ambiental.”
Sobre o RASA – O RASA é um amplo diagnóstico sobre como instituições financeiras (não apenas bancos comerciais e cooperativos, mas também instituições financeiras de desenvolvimento, seguradoras e entidades de previdência) lidam com questões ambientais, sociais e de governança (ASG). A análise do quanto o setor financeiro tem inserido essas questões em seus negócios cruza dados públicos de todas as fontes disponíveis e avalia de forma minuciosa (identificação, monitoramento, mitigação e relevância no processo decisório) a gestão de riscos, a composição dos portfólios, os produtos financeiros com impacto positivo, a governança ASG e o envolvimento em controvérsias.
Assim, é possível entender que temas socioambientais são realmente considerados relevantes, as fontes de informação consultadas, o universo de transações avaliado e qual o peso que essas avaliações possuem nas decisões e políticas dos bancos. Compreender como os bancos decidem sobre a concessão de crédito impacta todos os setores da economia e mostra se realmente aquela instituição está comprometida com a pauta socioambiental e climática. Isso vai permitir que consumidores, investidores e formuladores de políticas de regulação e supervisão financeira cobrem mudanças no setor. Os resultados completos da segunda avaliação dos bancos comerciais e cooperativos no RASA podem ser acessados aqui.