Redação Planeta Amazônia
A zona rural de Afuá, no Pará, foi palco da Conferência Livre Ambiental dos Ribeirinhos Afuenses, que reuniu cerca de 70 pessoas no sábado (30/11), em um importante debate sobre a emergência climática.
Organizada pelo Instituto Educacional da Amazônia Pará, a atividade fez parte do processo preparatório para a 5ª Conferência Nacional do Meio Ambiente, que retornou este ano após mais de uma década desde sua última edição, em 2013.
O evento, que mobilizou a comunidade na manhã e tarde de sábado, contou com a presença do vice-prefeito e prefeito eleito de Afuá, Henrique Sandro Lopes da Cunha; do secretário de Meio Ambiente de Afuá, Hilder Felix; de Mayara Lima, representante da Mobilização dos Povos pela Terra e pelo Clima — conjunta da REPAM rumo à COP30 —; e a professora da Faculdade de Educação da Universidade Federal Fluminense, Inny Accioly.
Com o tema “Emergência Climática e Transformação Ecológica”, o encontro discutiu como o Brasil pode se tornar mais resiliente às mudanças climáticas, reduzir emissões de gases de efeito estufa e enfrentar os impactos da crise ambiental de forma inclusiva e sustentável.
Durante o evento, Aldenice Monteiro, gerente administrativa do Instituto Educacional da Amazônia Pará (IEAP), ressaltou a relevância da conferência no contexto local e global das mudanças climáticas. “Este é um momento de suma importância, não qual temos a oportunidade de debater sobre as mudanças climáticas, trazendo nossa visão do que está acontecendo no mundo e, principalmente, na nossa realidade. Todos os impactos que já estão interferindo no nosso dia a dia , como os rios que estão secando, as praias que estão surgindo e as queimadas, têm sido extremamente impactantes hoje essas questões, que não estão distantes de nós, mas que já fazem parte, infelizmente, do nosso cotidiano, é algo essencial. precisamos compreender qual é o nosso papel enquanto ribeirinhos diante dessas situações e o que podemos fazer para enfrentá-las”, destacou.
O professor Benedito de Queiroz Alcântara, também presente na conferência, enfatizou a importância da atividade para amplificar as vozes dos povos ribeirinhos: “A realização de uma conferência aqui, na Voz do Rio Amazonas, é um processo essencial de escuta da Amazônia profunda. É uma forma de garantir que a voz que emerge da floresta, dos povos ribeirinhos, possa ecoar e estar presente em todos os debates e nos problemas que estão sendo discutidos no mundo fora, especialmente como preparação para a COP da Floresta, uma COP30.”
Reflexões sobre o Passado e o Presente
Durante a conferência, os participantes — jovens e adultos da região — participaram de dinâmicas que incentivaram reflexões sobre as transformações climáticas e ambientais ao longo das últimas duas décadas. O exercício analisa os cenários de 20, 10 anos atrás e os dias atuais, permitindo uma avaliação crítica sobre as mudanças enfrentadas na rotina dos ribeirinhos e os desafios futuros.
Estefany Batista Cortês, estudante local de 17 anos, destacou a relevância da conferência e sua conexão com as realidades ribeirinhas:
“Você não pode falar da área ribeirinha sem ser um ribeirinho, ou pelo menos sem ter o conhecimento. A conferência é uma oportunidade para que o poder público entende o que é uma área ribeirinha e quais são as nossas necessidades Porque é muito fácil vir aqui, dizer muitas coisas, mas não fazer nada (…) Muito se fala da Amazônia como um todo, mas quase. nunca se fala sobre os povos, suas necessidades, dificuldades e tudo o que estamos enfrentando: mudanças climáticas, aquecimento global, a situação dos rios, das árvores Não dá mais para ignorar o que está acontecendo.”
Como jovem, Estefany trouxe uma reflexão impactante sobre o futuro: “Estamos em 2024, e se somarmos todos os acontecimentos, o cenário é aterrorizante. , mas, se não tivermos consciência agora, será que teremos um futuro? com essas questões de maneira sustentável, sem agredir o meio ambiente, e tentar restaurar o que já está praticamente perdido”, finalizou.
O vice-prefeito de Afuá e o atual prefeito eleito também estiveram presentes. “O meio ambiente também é qualidade de vida, e precisamos levar essa pauta não apenas para as salas de aula, mas para todos os âmbitos da sociedade municipal. Chamar a atenção das autoridades estaduais, federais e de instituições que atuam na questão climática é de grande importância”, afirmou Henrique Sandro Lopes da Cunha.
Ele também comentou sobre a dinâmica realizada com a juventude durante o evento: “Foi muito interessante porque a dinâmica envolveu diferentes períodos de tempo. Há 20 anos, por exemplo, no meu grupo, eu era o único que estava presente em 2004. Ouvir a opinião dos jovens, do povo ribeirinho, sobre questões como o lixo, o assoreamento dos rios, a fauna e a flora de modo geral, é algo de suma importância.”
O secretário de Meio Ambiente de Afuá, Hilder Félix, destacou: “Hoje estamos enfrentando um problema que não tem solução encontrada em todo o Brasil: as queimadas ilegais. Isso não acontece apenas em outras regiões do país, mas também aqui no município de Afuá , onde observamos que as fumaças ainda são muito intensas.”
Próximas etapas
A Conferência Livre Ambiental dos Ribeirinhos Afuenses é uma etapa do processo participativo da 5ª Conferência Nacional do Meio Ambiente, que acontece em quatro fases: municipais, livres, estaduais e nacionais. O objetivo principal das Conferências Livres é ampliar a participação popular e democratizar o debate sobre a crise climática.
Os debates em Afuá foram guiados pelos cinco eixos temáticos da conferência:
- Mitigação: Redução das emissões de gases de efeito estufa.
- Adaptação e Prevenção de Desastres: Prevenção de riscos e redução de perdas e danos.
- Justiça Climática: Superação de desigualdades sociais.
- Transformação Ecológica: Descarbonização econômica com inclusão social.
- Governança e Educação Ambiental: Participação e controle social.
Ao final da conferência, foram elaboradas até 10 propostas que serão enviadas para a etapa estadual. Além disso, uma pessoa delegada foi eleita para representar Afuá nas próximas etapas do processo.