Redação Planeta Amazônia
A chegada do sétimo filhote de peixe-boi da Amazônia, em menos de três meses, no projeto Peixe-boi, do Laboratório de Mamíferos Aquáticos, preocupa os pesquisadores do projeto, que recebe em média, por ano, 15 filhotes. Os animais, que vieram de vários municípios do Amazonas e também dos arredores da capital, foram encontrados emalhados ou boiando próximo à beira do rio.
O Projeto Peixe-boi é executado pelo Instituto de Pesquisas da Amazônia (Inpa/MCTI) em parceria com a Associação Amigos de Peixe-boi (Ampa) e recebe o apoio do SeaWorld por meio do Fundo de Conservação do SeaWorld & Busch Gardens.
Proibida por lei, a caça ilegal ainda é um dos principais motivos dos resgates, de acordo com a pesquisadora do Inpa, Vera da Silva. “O peixe-boi ainda é uma espécie em perigo de extinção, e a caça predatória ainda ocorre na região amazônica. Os caçadores matam a mãe, e o filhote não tem como se alimentar porque é uma espécie que mama até os dois anos de idade”.
A pesquisadora, que é coordenadora do projeto, afirma que quando os filhotes são encontrados debilitados, fracos e com ossos aparecendo é necessário o resgate imediato. “Nesses casos, o filhote, provavelmente, perdeu a mãe, então é necessário trazer o animal ao Projeto para ser reabilitado para participar do programa de Soltura e retornar à natureza”.

Emalhe acidental
Outro principal motivo para o resgate é o emalhe acidental em redes de pesca e também a desinformação sobre como proceder em casos de encalhe dos filhotes na beira do rio.
Segundo o veterinário do projeto, Anselmo d´Affonseca, a época de cheia dos rios é quando ocorre a maioria dos nascimentos dos peixes-bois e muitos ficam emalhados ou perdidos.
“Quando o filhote é encontrado emalhado ou na beira do rio mas está saudável, é provável que a mãe esteja por perto. Nesses casos, em locais que não tem histórico de caça predatória, os pescadores e comunitários precisam soltar imediatamente o animal no rio”.

Histórico de chegada dos animais
Uma fêmea chegou no dia 31 de janeiro, encontrada sozinha em uma região de intensa caça, o que levanta a hipótese de que a mãe tenha sido caçada. Trata-se de um filhote com aproximadamente três meses de idade.
No dia 7 de março, um macho foi avistado boiando sozinho em Urucará. A situação remete a um cenário similar, típico de áreas onde a caça de peixe-boi é frequente, sugerindo também a perda de sua mãe.
Após cinco dias, no dia 12 de março, um filhote macho trazido da comunidade de Santa Rosa, em Manaus, foi resgatado. Encontrado sozinho, o animal apresentava sinais de debilidade, possivelmente por ter se perdido da mãe, supõem os pesquisadores.
No dia 24 de março, outro filhote macho chegou do município de Borba em bom estado. “Provavelmente, a mãe estava no local, porque não é uma área de caça intensa, mas a separação pode ter ocorrido durante a tentativa de socorro por parte da comunidade local”, explica d´Affonseca.
No dia seguinte, 25 de março, um novo macho foi encontrado no Porto do Cimento, na colônia Oliveira Machado, em Manaus, apresentando boas condições físicas.
No dia 26, um filhote de Parintins chegou aparentemente saudável, mas foi resgatado em uma região de alta incidência de caça, o que sugere que sua mãe possivelmente foi vítima da caça ilegal.
O último peixe-boi chegou dia 21 de abril, da Comunidade São José I, ramal Umirituba. O filhote foi encontrado entrelaçado em uma malha de pesca.
Resgate
Os pesquisadores ressaltam que os órgãos ambientais que realizam o resgate devem ser acionado apenas quando o filhote apresenta sinais de debilidade grave, como magreza extrema, ossos expostos ou ferimentos profundos.
Nessas situações, é imprescindível acionar os órgãos como, o Instituto de Proteção Ambiental do Amazonas (Ipaam), o Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), Polícia Ambiental do Amazonas e as Secretarias de Meio Ambiente dos municípios.
Reabilitação e Programa de Soltura
Quando os peixes-bois chegam ao instituto após o resgate, eles passam pelo processo de reabilitação e manejo dos veterinários e tratadores. Quando estão reabilitados e adultos participam do Programa de Soltura do projeto.
“Os animais, após a reabilitação, quando já são juvenis, participam do Programa de Soltura do projeto”, explica da Silva que é doutora em Ecologia e Reprodução de Mamíferos.
Uma fase importante para o sucesso do programa de Soltura é a fase de semicativeiro onde os animais são selecionados para ficar num lago seminatural, por seis a doze meses, para se readaptarem às condições naturais”.
Após essa etapa, a atividade de manejo seleciona os animais mais aptos para serem soltos na Reserva Piagaçu-Purus, no Amazonas, e são monitorados pela Ampa e pelos comunitários por pelo menos seis meses para acompanhar a readaptação aos rios.