Redação Planeta Amazônia
Na Amazônia já é possível ver os dois primeiros anéis de torres de 35 metros de altura que vão aspergir gás carbônico em círculos de 30 metros de diâmetro para buscar entender como a maior floresta tropical do mundo vai se comportar no futuro frente às mudanças climáticas. A expectativa é começar os testes com dióxido de carbono (CO2) até o fim do ano.
A informação foi dada por um dos coordenadores do Programa AmazonFACE, o pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa/MCTI) Carlos Alberto Quesada, durante mesa-redonda na 75ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC). O maior evento científico da América Latina ocorre na Universidade Federal do Paraná (UFPR), até o próximo sábado (29), e conta com palestras de pesquisadores do Instituto e com um estande na ExpoT&C. A entrada é gratuita.
“Estamos numa fase de concluir o protótipo, que são os dois primeiros anéis, de um total de seis, em floresta madura e a céu aberto. As torres de 35 metros de altura estão levantadas, os guindastes operacionais em campo, realmente é um momento muito excitante de conclusão dessa primeira fase da infraestrutura”, comemora Quesada.
Segundo o coordenador, a plataforma é desejada pela comunidade científica há mais de 30 anos, já que os experimentos realizados em outros biomas do mundo, em laboratórios ou ainda com modelagens, aqui ou fora do país, não são mais capazes de reduzir as incertezas sobre a trajetória que a Floresta Amazônica tomará num cenário mais quente e mais seco.
As florestas tropicais são responsáveis por armazenar 50% de carbono que se tem nos ecossistemas terrestres. A Floresta Amazônica tem a capacidade retirar o CO2 atmosfera e estocar em sua vegetação acima e abaixo do solo (caule, folhas e raízes), funcionando como um sumidouro de CO2, que é um dos principais gases responsáveis pelo efeito estufa, porém nos últimos 30 anos houve uma redução do poder de captação em cerca de 30%.
Hoje esse serviço ambiental de enorme valor para o equilíbrio climático e ciclo da água, com impacto direto na formação de chuvas fundamentais para a abastecimento energético e a agricultura do país, está chegando perto de uma capacidade limítrofe – próxima de zero, quando considerada a Bacia Amazônica como um todo e de forma negativa na parte Sul, onde se encontra o arco do desmatamento. Há pesquisas que indicam que a Amazônia poderá se tornar uma savana a continuar com o mesmo modelo de queima de combustíveis fósseis e de desmatamento da floresta.
De acordo com o outro coordenador do AmazonFACE, o pesquisador da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) David Lapola, modelos atuais predizem que o aumento de CO2 vai estimular a produtividade da floresta tropical e a Amazônia responderá fortemente ao CO2. “A hipótese é que o efeito de fertilização poderá contrabalançar os impactos das mudanças climáticas, mas não se sabe se realmente existe e quanto tempo vai durar. Talvez a Amazônia vire uma enorme fonte de carbono. Os modelos não podem mais nos ajudar, precisamos de dados experimentais para a região tropical”, destacou Lapola.
Além de Quesada e Lapola, participaram da mesa-redonda “AmazonFACE – A Amazônia mudando a alocação de carbono” o pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), Luiz Eduardo Aragão, que é gerente do comitê científico do Programa de Grande Escala da Biosfera-Atmosfera na Amazônia (LBA/MCTI/Inpa). A professora da Universidade Federal do Amazonas (Ufam) Marilene Corrêa atuou como coordenadora.
Saiba mais
O AmazonFACE é um programa do MCTI, coordenado pelo Inpa e pela Unicamp, em cooperação internacional com o governo britânico, por meio do FCDO e implementado pelo Met Office, o Serviço de Meteorologia Britânico.
O experimento utiliza a tecnologia FACE (Free Air Carbon Dioxide Enrichment ou enriquecimento de gás carbônico ao ar livre, em português), que libera CO2 sobre a vegetação dentro do anel de pesquisa e monitora suas respostas. A tecnologia existe desde os anos de 1990 e já foi aplicada em florestas temperadas nos Estados Unidos e no Reino Unido. Em Floresta tropical é a primeira vez, e o sítio experimental do programa está instalado numa base de apoio à pesquisa do Inpa, que fica a 80 quilômetros de Manaus.