Redação Planeta Amazônia
A biodiversidade da Amazônia está ganhando cada vez mais atenção por conta do potencial econômico e das diversas oportunidades de negócios sustentáveis e inovação tecnológica. Dentre os diversos ativos encontrados, um dos desafios dos empreendedores locais está em como melhorar as transações comerciais e financeiras para viabilizar o negócio, ao mesmo tempo em que mantém a conservação da natureza.
No centro dessa convergência, está o conceito de tokenização de bioativos – uma forma de atrair investimentos para cadeias produtivas da região, garantindo o desenvolvimento sustentável e a preservação da floresta. Duas startups participantes dos programas da Jornada Amazônia, ForestiFi e Apoena, se destacam em diferentes processos da tokenização de um bioativo.

Mas o que significa tokenizar um bioativo?
De acordo com Macauley Abreu, cofundador da startup ForestiFí, trata-se de transformar um ativo físico – como lotes de guaraná, cacau ou pirarucu – em representações digitais chamadas tokens. “Esses tokens podem ser comprados por investidores e, ao final de um ciclo, geram retorno financeiro proporcional ao sucesso da comercialização do ativo no mercado real”, afirma.
A ForestiFí faz a ponte entre investidores e produtores da Amazônia, utilizando a tokenização de ativos da natureza como ferramenta principal. Glauco Aguiar, cofundador da startup, explica que esse mecanismo é utilizado para viabilizar a divisão do ativo físico.

Ele dá um exemplo prático: imagine que uma cooperativa produtora de guaraná define um lote de cinco toneladas como um ativo. Esse lote é transformado em tokens digitais que representam frações do produto. Ao adquirir um token, o investidor contribui diretamente para financiar a produção, enquanto a cooperativa obtém os recursos necessários para expandir suas operações. Vale reforçar que como as cooperativas têm um mercado consumidor assegurado, isso reduz o risco de inadimplência e aumenta a confiança no retorno do investimento.
Ou seja, a liquidez desse sistema é garantida por um retorno financeiro pré-fixado e uma data de liquidação pré-definida. Em outras palavras, o investidor sabe quando será remunerado e quanto receberá, oferecendo previsibilidade e segurança.
Recentemente, a ForestiFí se uniu à Apoena, startup que atua na comercialização de produtos amazônicos em parceria com associações locais, em Tefé (AM), na primeira operação com o pirarucu – um dos maiores peixes de água doce do mundo. A Apoena é a responsável pela compra, beneficiamento e comercialização do pirarucu, enquanto a ForestiFí faz o processo de tokenização proporcionando mais previsibilidade e acesso a mercados sustentáveis.

A transparência do modelo é um dos pontos fortes da plataforma, com transações públicas que permitem que todos os envolvidos, desde investidores até as comunidades locais, acompanhem o andamento do processo. “A plataforma permite que todos vejam o andamento das transações. Isso gera uma confiança muito grande”, diz Maurillo Gomes, CEO da Apoena.
Impacto para produtores e investidores
Do lado das comunidades produtoras, o modelo reduz barreiras históricas de acesso a crédito e investimentos. “Pequenas cooperativas, que muitas vezes não têm garantias para solicitar financiamentos em bancos, encontram na tokenização uma alternativa de baixo custo e alta eficiência. Mais do que isso, a iniciativa fomenta a governança e estruturação desses negócios, fortalecendo as cadeias produtivas locais”, reforça Gomes.

Já para o investidor, a tokenização oferece a oportunidade de diversificar sua carteira, aplicando recursos em ativos sustentáveis com retornos competitivos e impactos reais. O modelo conecta financeiramente quem está distante dos grandes centros com comunidades na ponta da cadeia, promovendo um ciclo virtuoso de investimento e desenvolvimento regional.
A união de tecnologia e bioeconomia representa uma oportunidade para impulsionar cadeias produtivas sustentáveis e fomentar o desenvolvimento regional, enquanto preserva uma das maiores riquezas do planeta: a floresta amazônica.