Um futuro com extremos climáticos

Sonaira Silva (*)

A sociedade muda e se transforma constantemente. Nossas cidades não são as mesmas de ontem, de um ano atrás ou de 100 anos. Mudanças na forma de viver, economia, educação, relação com a natureza entre outras questões. Isso implica adaptações constantes para nos adaptar às novas tendências culturais, sociais e econômicas.

 O clima também está mudando, e está mudando rápido! Mas o que são as mudanças climáticas?

São mudanças- transformações a longo tempo, modificando padrões de temperatura e precipitação (chuva) de forma global. Essas mudanças podem ser naturais, devido a variações do ciclo solar. Mas desde 1800, as mudanças climáticas têm sido intensificadas pela atividade humana, principalmente queima de combustíveis fosseis (petróleo, carvão e gás). As mudanças climáticas podem causar extremos de frio, de calor, de chuvas e secas, em escala regional ou global.

Muitos podem pensar que mudanças podem ser positivas, e em alguns casos sim. Mas a mudança do clima da forma como temos presenciado tem ocasionado catástrofes, com prejuízos econômicos enormes e perdas de vidas humanas. No litoral do Estado de São Paulo choveu em 24 horas mais de 600 milímetros de chuvas, quantidade de água esperada para mais de um mês. Essa foi a chuva mais intensa já registrada no Brasil, causando mais de 40 vítimas fatais, vários desaparecidos e danos econômicos que serão necessários anos para recuperar.

Mas você pode dizer, seus avós já falaram de uma grande enchente ou seca no passado. Sim, os extremos sempre ocorreram pelas mudanças naturais do clima, em ciclo de dezenas de anos. Entretanto, atualmente, os extremos climáticos estão mais intensos e frequentes, ocorrendo quase que anualmente em algumas regiões da Amazônia.

Em fevereiro de 2024, vivemos enchentes recordes no Estado do Acre e incêndios florestais fora de controle em Roraima. Estudo (https://doi.org/10.1016/j.pecon.2023.10.006) da Universidade Federal do Acre em parceria com outras instituições, mostrou que no Estado do Acre, nos extremos de secas, inundações e falta de água potável estão ocorrendo anualmente desde 2010. Nos últimos 3 anos, a sociedade acreana, enfrentou inundações recordes, como em 2021 na cidade de Tarauacá, 2024 na cidade de Jordão e Brasileia, secas extremas ocasionando queimadas e incêndios florestais e crise hídrica não somente na zona urbana, mas também na zona rural. Em 2005, o Estado do Acre teve municípios com mais de 50% de todo o território afetado por queimadas e incêndios florestais, alguns municípios como Acrelândia e Plácido de Castro tiveram mais de 70% do território queimado.

Os impactos dos extremos climáticos são diversos e precisam ser mais bem contabilizados. Em termos econômicos, os dados são em média, de 15 milhões de reais por evento por cidade, mas podem ser muito maiores que isso. Danos da enchente de 2015 em Rio Branco pode ter chegado a mais de 200 milhões de reais. Indícios de danos mentais em pessoas que enfrentam desastres ambientais são cada vez mais documentados, como depressão e síndrome do pânico.

Assim como já nos adaptamos no passado, precisamos nos adaptar agora. Ter planejamento urbano que considere extremos climáticos, tanto de enchentes como de secas extremas, ter fonte de energia e combustíveis sem uso de combustíveis fósseis, ter sistema de produção de alimentos diversificados e resilientes, manter a floresta ao longo de rios e igarapés, ter maior arborização das cidades, entre outras soluções.

Nosso planeta teve o ano mais quente já registrado em 2023, mais quente dos últimos 174 anos, 1,29°C acima da média global. Projeções de aumento da temperatura global feitas para até 2050 já estão ocorrendo agora, e estamos sentindo na pele, o quanto é crítico e preocupante, principalmente em regiões com maior vulnerabilidade relacionadas à desigualdade, saúde, educação, crises financeiras, falta de capacidade de governança e infraestrutura.

 O processo de adaptação da sociedade aos extremos climáticos parte de uma construção social conjunta, começando pela consciência de que todos somos impactados por esses eventos, direta ou indiretamente. É essencial que o cidadão de forma individual e coletivamente, governos e organizações privadas compreendam que não há Planeta B, as mudanças climáticas são reais, e é urgente que a adaptação para enfrentar os impactos atuais e os futuros.  

(*)Universidade Federal do Acre Campus Floresta

By emprezaz

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