Cassandra Castro
Quando falamos em infraestrutura, o conceito remete geralmente a serviços públicos necessários para bom funcionamento de uma cidade, algo que dê suporte, base, sustentação a uma estrutura concreta ou abstrata. Se pensarmos na dimensão gigantesca da Amazônia com sua rica biodiversidade, populações originárias e tradicionais e desafios tão grandes quanto a própria região, o conceito de infraestrutura ganha novo significado.
Para o economista e professor da Universidade de São Paulo(USP), Ricardo Abramovay, o desenvolvimento sustentável na Amazônia passa por quatro dimensões estratégicas: natureza, cuidado, serviços e cooperação. O modelo proposto por ele é apresentado no livro “Infraestrutura para o desenvolvimento sustentável da Amazônia”. A obra é uma resposta à solicitação do GT Infraestrutura, uma rede de mais de 50 organizações que têm como foco o estudo e debate da infraestrutura com justiça socioambiental.
A justiça socioambiental converge no bem estar tanto da floresta quanto de quem vive nela e o grande desafio é fazer com que todos os atores que de uma forma ou de outra integram ou interagem com este espaço, despertem para a necessidade de cooperação, entre outras iniciativas.
A visão mais concentrada em um cuidado maior com as pessoas, tanto no campo quanto na cidade é um dos diferenciais desta organização proposta pelo autor do livro. “A floresta é a mais importante e promissora infraestrutura para o desenvolvimento sustentável”, destaca o professor.
Uso da biodiversidade em áreas não florestais
Ações que valorizem a sociobiodiversidade precisam também ser incentivadas e praticadas além das áreas de floresta, como é o caso das sedes dos municípios localizadas próximas aos territórios florestais, afirma o professor Ricardo. “Estas sedes municipais são frequentemente desprovidas de vegetação, de praças, de espaços verdes. Além disso, como os trabalhos do Instituto Escolhas vêm mostrando são imensos os potenciais da agricultura urbana, que não deve se limitar às regiões metropolitanas”.
Para o especialista, as sedes municipais deveriam ter também mecanismos de orientação para que iniciativas micro-empresariais voltadas para produtos da sociobiodiversidade florestal fossem formalizadas. Outra questão fundamental é adaptar as atividades agropecuárias para que se tornem sustentáveis. “ Os meios técnicos para isso existem, mas precisa de uma extensão rural para auxiliar os agricultores nesta transição e mecanismos de financiamento que beneficiem quem tem práticas sustentáveis e não ofereça recursos a atividades destrutivas”, afirma Ricardo.
Internet de qualidade na floresta
Na atualidade, o acesso à rede mundial de computadores deixou de ser algo visto como “luxo” e passou a ser uma ferramenta estratégica. A conectividade é o caminho para o conhecimento e também um meio estratégico para alcançar resultados. No caso da sociobiodiversidade florestal, uma internet de boa qualidade é ainda mais fundamental. “Sem isso, as iniciativas tornam-se reféns de formas predatórias de comercialização”, enfatiza Ricardo Abramovay.
Questionado sobre os custos que envolvem o processo de instalação de internet na Amazônia, o economista argumenta que, sem dúvida, existe um custo, mas que ele certamente pode ser compensando pelas atividades econômicas viabilizadas pela chegada da internet às localidades.
Outro ponto que Ricardo Abramovay faz questão de frisar é a importância de emancipar o interior da Amazônia de sua dependência em relação ao óleo diesel, que é hoje “ largamente usado no transporte, na iluminação e no fornecimento de energia para o beneficiamento dos produtos”.
Sebrae da Floresta
A exemplo do que acontece nos centros urbanos nos quais existem postos e escritórios do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), as comunidades que realizam atividades econômicas com produtos da sociobiodiversidade florestal poderiam também receber consultoria e suporte de um “ Sebrae da Floresta”, como pontuado pelo professor, mas, para isso, seria necessária uma maior atenção para os potenciais econômicos da floresta e um trabalho integrado. “Um SEBRAE da floresta tem que estar integrado com as prefeituras, com os Clubes Diretores Lojistas e as Associações Comerciais. Hoje estas organizações acabam respondendo às demandas vindas das atividades economicamente dominantes, sem desenvolver o potencial da economia da sociobiodiversidade florestal. É necessário um trabalho de formação de quadros no setor privado, no setor público e no setor associativo com capacidade de orientar negócios com produtos florestais”, finaliza.