Redação Planeta Amazônia
Uma pesquisa inédita conduzida pelo Instituto Tecnológico Vale (ITV), em parceria com o Museu Paraense Emílio Goeldi e as universidades federais do Pará (UFPA) e de Minas Gerais (UFMG), aponta que dez espécies de plantas e dez de abelhas têm papel crucial na restauração ecológica da Amazônia Oriental. Publicado na revista científica Restoration Ecology nesta semana, o estudo propõe uma abordagem inovadora que integra plantas e polinizadores nos esforços de recuperação ambiental.
Espécies como o urucum (Bixa orellana), o muricí-da-praia (Byrsonima stipulacea) e a abelha jataí (Tetragonisca angustula) foram identificadas como peças centrais de uma rede de interações ecológicas capazes de impulsionar a regeneração de áreas degradadas. A pesquisa foi realizada na Floresta Nacional de Carajás, no Pará. São 800 mil hectares protegidos, em uma parceria entre a Vale e o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio). A área equivale ao tamanho de mais de seis cidades do Rio de Janeiro, ou a cerca de 800 mil campos de futebol.
Abordagem que vai além do plantio de árvores
O estudo analisou interações entre polinizadores e plantas em diferentes estágios de recuperação ambiental. Entre 2018 e 2019, os pesquisadores catalogaram 118 espécies de plantas e 137 espécies de abelhas, além de vespas e outros insetos. No entanto, a pesquisa mostrou que apenas uma pequena parcela dessas espécies é responsável pela maioria das interações ecológicas observadas, com destaque para polinizadores generalistas, que interagem com diversas plantas.
“Tradicionalmente, os projetos de restauração ambiental se concentram no plantio de árvores. Nossa proposta vai além disso, ao integrar espécies de polinizadores que sustentam as interações ecológicas necessárias para a estabilidade e o sucesso de longo prazo desses ecossistemas”, explica Rafael Cabral Borges, pesquisador do Instituto Tecnológico Vale (ITV-DS).
Benefícios para pequenos agricultores e grandes empreendimentos
A seleção das espécies levou em conta características que facilitam o manejo e o potencial de adaptação aos estágios iniciais de restauração. Plantas que se reproduzem por sementes e abelhas que nidificam em cavidades, por exemplo, oferecem vantagens práticas na implementação de projetos.
Borges destaca que os resultados podem ser aplicados tanto por pequenos agricultores, que enfrentam déficits de polinização, quanto por grandes empreendimentos. “A lista de espécies-chave funciona como uma base científica para tomadas de decisão, contribuindo para restaurar áreas degradadas de forma mais eficiente e sustentável”, afirma.
Além de trazer implicações práticas, o estudo reforça a importância de enxergar a restauração ambiental como um processo que depende de redes de interação ecológica — e não apenas do replantio de vegetação. “Garantir essas interações é essencial para construir ecossistemas resilientes e estáveis no futuro”, conclui Borges.