Cassandra Castro
Uma corrida contra o tempo e o aumento no nível das águas dos rios que cortam o estado do Acre. Esta tem sido a rotina de autoridades municipais e estaduais para minimizar os estragos provocados pela cheia que castiga a capital, Rio Branco, e o interior do estado, com cidades que estão praticamente embaixo d’água, um drama que fica ainda mais assustador quando as previsões meteorológicas atestam a probabilidade de mais chuvas na região.
Na semana passada, a prefeitura de Rio Branco começou a dar abrigo a famílias atingidas pela cheia. Além de um local provisório para ficarem, as pessoas estão recebendo kits de higiene pessoal e de limpeza. Já foram distribuídos 130 kits contemplando quase a totalidade de abrigados nas escolas da capital que é de 137 famílias. No Parque de Exposições, que também está acolhendo os atingidos pela cheia, também já foram entregues 100 kits.
Segundo a titular da Secretaria Municipal de Assistência Social e Direitos Humanos, Suellen Araújo, o objetivo da prefeitura é prestar assistência nesse momento e proporcionar um ambiente coletivo limpo e saudável.
“A determinação do nosso prefeito é que façamos o melhor com todo o suporte possível essas pessoas. Desde o acolhimento humanizado e a alimentação na hora certa e todo o cuidado necessário com a essas pessoas que já estão em vulnerabilidade e dificuldade e esses kits são para que possam cuidar do ambiente onde estão”, frisou.
Atualmente, a prefeitura conta com 9 abrigos ativos em escolas com um total de 441 pessoas das 137 famílias. No Parque de Exposições, as pessoas estão acomodadas em módulos habitacionais.
O prefeito Tião Bocalom falou das ações implementadas pelo município para dar assistência às famílias.
“A situação talvez esteja até pior do que o ano passado. O rio subiu rapidamente, então tem muito mais famílias aqui, aguardando e, todos os módulos serão construídos porque vai ser feita uma força-tarefa. O mais importante é que estão sendo acolhidos, tem comida, café e água para todos. As pessoas que eu conversei estão tranquilas. Agora, evidentemente que sempre tem alguém que se chateia, mas estamos fazendo tudo que é possível”.
Bocalom também falou sobre a situação de produtores rurais que perderam seus plantios. “A nossa equipe está buscando uma solução aos problemas na zona rural porque essa água não atingiu só a cidade. O prejuízo estimado na zona rural, ultrapassa os 40 milhões de reais. Inclusive, foi uma das questões que eu tratei com o ministro.”
O prefeito de Rio Branco esteve no início da semana em Brasília e participou de reuniões importantes para relatar sobre a situação da cheia na capital e também no interior do estado.
No site da prefeitura, a plataforma De olho no Rio disponibiliza o monitoramento do nível do rio Acre quem vem apresentando aumento diário no nível das águas.
Ajuda para os municípios de Brasileia e Santa Rosa do Purus
Equipes do governo do estado fizeram visitas nessa terça-feira, 27, a municípios que se encontram em situação bastante difícil devido à cheia para realizar reuniões de alinhamento e implementar ações estratégicas.
No município de Santa Rosa do Purus, o rio Purus registrou um nível recorde na segunda-feira, 26, ao atingir a cota de 11,12m. Mesmo com o registro de uma redução no volume das águas na terça-feira, 27, para 10,78m, ele continua acima da cota de alerta que é de 9m. Cerca de 1450 pessoas foram atendidas pelo Corpo de Bombeiros.
A cheia do rio Purus neste ano já é maior do que a da última enchente, que registrou 10,13m, em março de 2021.
O representante da ajuda humanitária do Estado no município, Pádua Cunha, e o prefeito da cidade, Tamir de Sá, acompanharam de perto as ações. “A situação de Santa Rosa do Purus é de emergência. Hoje o rio apresentou uma vazante, mas há a possibilidade de encher novamente, com mais água vinda do Peru. Ainda não sabemos o tamanho dessa alagação, mas precisamos estar unidos, e contar com a colaboração de todos”, declarou Pádua Cunha.
Em Brasileia, o drama da enchente volta a se repetir em menos de um ano. Até o momento, esta é a segunda maior já registrada na cidade que se encontra isolada por meio terrestre, com cerca de 75% do território atingido.
O titular da Secretaria de Estado de Agricultura, José Luiz Tchê, esteve no município para coordenar as ações de combate aos impactos da cheia na cidade.
Neste primeiro momento, o governo enviou a Brasileia, de forma emergencial, 300 galões de cinco litros de água mineral, 300 cestas básicas, um barco com motor e três caminhonetes. “Estamos trazendo esse apoio humanitário, verificando as dificuldades que a cidade está enfrentando, para podermos enviar mais ajuda. Estamos aqui para apoiar os prefeitos dessa região e cuidar de gente, como diz o governador Gladson Cameli”, destacou o secretário.
Luiz Tchê ainda informou que irá verificar a situação dos agricultores, para saber de que forma eles podem ser ajudados com as perdas de plantações e lavouras. “Nós iremos verificar as demandas dos agricultores e planejar de que forma o Estado pode apoiar essas pessoas”.
A prefeita de Brasileia, Fernanda Hassem, falou sobre o drama vivido pelo município. “A situação aqui em Brasileia é de calamidade; em menos de um ano, já estamos sofrendo outra enchente. Essa já é considerada a segunda maior da cidade. Estamos isolados por via terrestre, e existem várias comunidades rurais isoladas”.
Com o isolamento terrestre da cidade, as pessoas só conseguem se locomover por meio fluvial. 15 instituições do município estão alagadas.
Segundo o subcomandante do Corpo de Bombeiros do Acre (CBMAC), coronel Eden Santos, existem previsões de mais chuvas no Alto Acre.
Dados da Defesa Civil Estadual informam que o rio Acre atingiu, às 6h desta quarta-feira, 28, a marca de 15,54m, faltando apenas um centímetro para alcançar a marca histórica registrada em 2015 de 15,55m.
Mais de 13 mil pessoas foram atingidas; 911 pessoas estão desabrigadas, 1.011 estão desalojadas, 12 bairros foram afetados, e 15 abrigos estão sendo administrados pela prefeitura, com um efetivo de mais de 500 pessoas atuando no município.
De acordo com a prefeitura, a zona rural ainda é uma grande preocupação; mais de 500 pessoas estão isoladas, 20 pontes foram destruídas pela força das águas, além de 21 linhas de bueiro arrasadas.
Secretaria de Saúde solicita kits calamidade ao Ministério da Saúde
Diante do cenário catastrófico enfrentado pela população acreana, com 19 municípios em situação de emergência pelas cheias, a Saúde do Acre (Sesacre) solicitou com urgência ao Ministério da Saúde (MS) o envio de kits calamidade para socorro imediato às famílias afetadas pela enchente.
O MS confirmou o envio dos kits, compostos por 32 medicamentos e 16 insumos — como anti-inflamatórios, analgésicos e antibióticos, além de luvas e seringas. Os produtos desempenham papel fundamental no atendimento à população e na mitigação dos efeitos negativos das condições climáticas.
A grave cheia que atinge as cidades acreanas já afeta mais de 14,4 mil pessoas. A situação mais grave é nos municípios de Jordão e Brasileia, que estão com cerca de 80% e 75% de seus territórios tomados pelas águas, respectivamente.
A previsão é de que os kits cheguem à capital na noite desta quinta-feira, 29. A partir do recebimento, a Sesacre irá iniciar a distribuição aos municípios, priorizando aqueles onde a situação é mais crítica.