A diferença não poderia ser mais gritante. Na disputa por uma vaga na Câmara dos Deputados pelo estado de São Paulo, estão dois ex-ministros do meio ambiente que se tornaram nomes internacionalmente reconhecidos – ainda que por motivos completamente diferentes um do outro. De um lado, a ex-senadora Marina Silva, candidata à Presidência nas últimas três eleições, com um histórico respeitado de militância e defesa da Amazônia. Do outro, um ex-ministro do atual governo federal, que se transformou em sinônimo de “boiada” sobre as leis e as políticas ambientais no Brasil.
“Em 2023, nós vamos ter que fazer uma espécie de reconstrução pós-guerra. Esse desmonte se dá por uma ação intensiva da base do governo”, observou Marina em entrevista à Folha. “É muito grave, porque cria expectativa não só de impunidade, mas de prêmio para os crimes contra o meio ambiente e salvo conduto para seus praticantes”.
A ex-presidenciável reforçou a importância da retomada da agenda ambiental como uma maneira de ajudar a recuperar a imagem internacional do Brasil, combalida depois de quase quatro anos de retrocessos. Ela também defendeu a criação de uma autoridade nacional de segurança climática, “para o acompanhamento da agenda de mudança climática e articulação com os setores do governo”.
Na outra ponta, temos o ex-ministro de Jair Bolsonaro, tido pelo presidente como exemplo de conduta na gestão pública, a despeito das encrencas judiciais enfrentadas exatamente por acusações de corrupção. Também à Folha, ele defendeu sua abordagem “boiadeira” e prometeu revisar a legislação ambiental no Brasil caso seja eleito deputado.
“Ser ministro do meio ambiente de um governo de direita depois de 22 anos de esquerda governando o país é muito difícil. Porque você tem regras feitas com a visão da esquerda, funcionários treinados para atuar e ter uma perspectiva de realidade de acordo com o que a esquerda tem, em muitos casos”, lamentou o ex-ministro. “Gostaria de ter feito mais. Mas não foi possível por diversas razões, inclusive legais, por amarras legislativas, razão pela qual na Câmara acho que posso ajudar”.
Em tempo 1: Os caminhos seguidos pelo Brasil nos próximos 20 anos definirão o futuro da Amazônia. Este é o alerta do cientista Carlos Nobre, destacado por Míriam Leitão n’O Globo. “Estamos próximos do ponto de não-retorno que, se a gente não conseguir zerar o desmatamento, a degradação e o fogo a jato, o mais rápido possível, não conseguiremos deter o processo”, explicou Nobre. “A estação seca está cinco semanas mais longa se comparada à de 1979. Aumentou uma semana por década. Então, a estação seca está agora com quatro ou cinco meses. Se aumentar mais duas semanas, ela chega a seis meses. Aí não tem mais volta”.
Em tempo 2: Depois de anos de desmonte e retrocessos, a questão ambiental está no rol de temas estratégicos para os candidatos à Presidência da República nas eleições de outubro. Praticamente todos os candidatos, com exceção do atual presidente, colocam a proteção ambiental e a ação contra a mudança do clima no centro do debate eleitoral. O Estadão Notícias conversou com a jornalista Giovana Girardi, autora do podcast Tempo Quente (Rádio Novelo), para analisar como os candidatos estão lidando com o tema em seus projetos de governo.
Por ClimaInfo