Sonaira Souza da Silva, Professora da Universidade Federal do Acre e Coordenadora do Laboratório de Geoprocessamento Aplicado ao Meio Ambiente
As queimadas sempre foram uma ferramenta importante no trabalho rural, apoiando agricultura no processo de eliminação da vegetação da floresta ou capoeira derrubada. As cinzas das queimadas ajudam com o fornecimento de nutrientes para as plantas, mas que duram pouco tempo na terra, após alguns meses, as cinzas são utilizadas rapidamente pelas plantas ou carregadas pelas chuvas.
As queimadas têm sido associadas a queima da vegetação gerada pelo desmatamento de floresta primária ou capoeira, queima de áreas para agricultura e queima de pastagens. Mas qual a proporção das queimadas nessas categorias? Para isso precisamos saber como está distribuído o uso no Estado do Acre.
Dados do Projeto MAPBIOMAS [1] mostram que 13% do Estado do Acre é ocupado por atividades agropecuárias, onde deste 99% são formados por pastagens. Mesmo com o avançado das áreas de agricultura mecanizada de milho e soja no Acre, e da agricultura familiar, representam menos de 2% das áreas desmatadas.
Dados da Universidade Federal do Acre/Laboratório de Geoprocessamento Aplicado ao Meio Ambiente [2], mostram que nos últimos cinco anos, 55 a 65% das queimadas ocorrem em área de agropecuária no Acre, vinculada a queima de pastagens. As áreas queimadas em agropecuária giram em torno de 120 mil ha por ano (variando de 60 a 190 mil ha nos últimos 5 anos).
A principal atribuição das queimadas em pastagens na Amazônia é o nível de degradação da gramínea, por plantas daninhas ou diminuição da fertilidade do solo [3]. Entretanto, dados do Atlas da Pastagem da Universidade Federal de Goiás, que estimou a qualidade das pastagens para todo o Brasil, mostra que o Estado do Acre possui 84% de suas pastagens sem degradação e somente 17% com degradação moderada ou severa [4].
A pecuária é a principal cadeia agropecuária no Estado do Acre, e deve buscar o aumento da produtividade nas áreas já consolidada, aumentando nível de tecnificação e a diminuição do viés especulativo, conciliando a harmonia aos princípios agronômicos, econômicos, ambientais, sociais e de bem-estar animal [5]. A pecuária tem um papel importante para a economia local, regional e nacional, e portanto, deve ser exemplo de boa praticas, produtividade e gestão, evitando o uso de queimadas recordes no Estado Acre, ferramenta de baixa eficiência e diminui a qualidade das pastagens com o tempo. As queimadas não impactam somente as pastagens, mas toda a sociedade com a poluição do ar, redução da qualidade do ambiente e emissões de gases de efeito estufa que contribuem com instabilidade climática.
Referências
[1] Projeto MapBiomas – Coleção 7 da Série Anual de Mapas de Cobertura e Uso da Terra do Brasil, acessado em 2022 através do link: https://plataforma.brasil.mapbiomas.org
[2] Projeto AcreQueimadas. Mapeamento de queimadas e incêndios florestais no Estado do Acre. Universidade Federal do Acre – Laboratório de Geoprocessamento Aplicado ao Meio Ambiente. 2022. Link: https://www.ufac.br/labgama/projetos/acrequeimadas
[3] Moacyr Dias-Filho & Monyck Lopes. Histórico e desafios da pecuária bovina na Amazônia. Embrapa Amazônia Oriental. 2020. https://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/item/213633/1/Doc454.pdf
[4] Atlas da Pastagem. Universidade Federal de Goiás – Laboratório de Processamento de Imagens e Geoprocessamento. 2022. Link: https://atlasdaspastagens.ufg.br
[5] Moacyr Dias-Filho. Estratégias de recuperação de pastagens degradadas na Amazônia Brasileira. Embrapa Amazônia Oriental. 2015. https://www.embrapa.br/en/busca-de-publicacoes/-/publicacao/1019156/estrategias-de-recuperacao-de-pastagens-degradadas-na-amazonia-brasileira
