A expedição na Amazônia que quase matou o presidente Roosevelt

Ao longo da história norte-americana, pelo menos 8 presidentes quase morreram em algum tipo de acidente, entre eles Theodore Roosevelt, que ocupou a Casa Branca de 14 de setembro de 1901 a 4 de março de 1909, certamente foi um dos que mais se encontrou com a morte até então.

Uma delas foi pouco depois de iniciar seu mandato presidencial, em 3 de setembro de 1902, quando um bonde em alta velocidade atingiu a carruagem onde ele estava, matando seu guarda-costas – o primeiro membro do Serviço Secreto a morrer cumprindo seu dever – e o motorista. Roosevelt se esparramou pelo asfalto da rua, ganhando ferimentos tão graves que precisou de cirurgia e ficou em cadeira de rodas por quase um mês.

Contudo, foi durante a Rondon-Roosevelt Scientific Expedition, uma viagem expedicionária na Amazônia, que Theodore Roosevelt teve seu pior encontro com a morte.

Um fã de viagens

Theodore Roosevelt jovem. (Fonte: PBS/Reprodução)

Era outono de 1913, quando chegou um convite do governo argentino para que Roosevelt discursasse em várias cidades do continente sul-americano. A oportunidade apareceu em boa hora, porque ele esperava começar seu terceiro mandato naquele ano, mas seu partido havia perdido para o democrata Woodrow Wilson, e tudo o que restou foi passar semanas deprimido em sua casa em Nova York.

O convite o tirou daquele lugar obscuro e também despertou sua “última chance de ser menino” novamente, pois o homem decidiu complementar sua turnê com um longo cruzeiro fluvial por dois afluentes do Amazonas. Ele entrou em contato com o Museu Americano de História Natural e recrutou uma dupla de naturalistas que seriam responsáveis por coletar espécimes de animais durante a expedição.

(Fonte: Frag Machiavelli/Reprodução)

Roosevelt sempre foi fã de férias mais agitadas, não feitas para relaxar, por isso preferia a aventura de um safári na África, por exemplo, do que caçar patos em Dakota do Sul. Mas o que ele estava prestes a experimentar aqui no Brasil não chegaria perto de nenhuma dificuldade e risco que teve que enfrentar ao longo de qualquer outra viagem que fizera, sobretudo na selva e no auge de seus 55 anos.

Ao chegar na Bahia, em 18 de outubro de 1913, a viagem naturalista do ex-presidente dos EUA se tornou uma verdadeira expedição ao se encontrar com o coronel brasileiro Cândido Rondon, grande admirador de Roosevelt, que lhe propôs um novo desafio: liderar uma expedição com 22 pessoas para exploração do Rio Aripuanã, mais conhecido como Rio da Dúvida.

A determinação de Roosevelt

(Fonte: History Channel/Reprodução)

A épica jornada de Roosevelt partiu em dezembro daquele ano de Cáceres, no Mato Grosso, chegando ao rio em 27 de fevereiro de 1914. A essa altura, vários homens já haviam sucumbido às doenças tropicais e mais da metade dos animais de carga morreram de exaustão atravessando as acidentadas terras altas brasileiras. O início não era nada promissor, e o pior ainda estava por vir.

O grupo de 15 carregadores, Rondon, o ex-presidente e seu filho Kermit, abandonaram muito mantimento e objetos nesse momento para conseguir fazer a dura caminhada para chegar à cabeceira do rio.

(Fonte: Library of Congress/Reprodução)

A situação engrossou logo em seguida. Eles tiveram que sobreviver em um ambiente inóspito, com pouca caça animal, menos da metade de suas rações, e ainda cercados por todo o tipo de praga de insetos mordedores. As corredeiras causaram inúmeros acidentes virando as canoas, até que conseguiram matar 3 brasileiros, um deles por afogamento. 

Antes de embarcar naquela loucura, Roosevelt ouviu conselhos do chefe do Museu de História Natural, mas estava muito determinado a enfrentar qualquer um dos perigos – provavelmente porque não imaginava o quão perigoso poderiam ser – apesar de ter dito: “Se qualquer coisa acontecer comigo, deixe meus ossos na América do Sul. Eu estou pronto para isso”.

A odisseia catastrófica

(Fonte: History/Reprodução)

Em seu livro Through the Brazilian Wilderness, Roosevelt detalhou que a morte acompanhava a expedição pela água a cada avanço das canoas, cercadas por densos cardumes de piranhas extremamente assassinas e imensos jacarés.

Quando encontravam algum trecho de terra, a ameaça era de tribos nativas hostis que, quando não estavam por perto, deixavam para que os mosquitos e moscas fizessem o trabalho de acabar com eles. Por pouco ele não morreu ao ser atacado por uma cobra-coral, que se envolveu em sua perna e mordeu profundamente sua bota de couro.

O início da expedição foi marcado por águas calmas, mas depois apenas quilômetros de corredeiras tortuosas seguiram, obrigando que eles carregassem tudo nos braços, diminuindo o progresso da viagem em 11 quilômetros por dia, sendo que eles tiveram que parar por muitas vezes para construir ou remendar as embarcações.

(Fonte: National Geographic/Reprodução)

O que deveria ser uma expedição naturalista se tornou uma luta pela sobrevivência. As roupas dos homens foram reduzidas a trapos sujos, e a maioria deles delirou de febre devido infecções, inclusive Roosevelt, que implorou para ser deixado para morrer na selva.

Ele, que começou como o mais forte da viagem, acabou perdendo um quarto de seu peso corporal, alcançando um estado de desnutrição severa, e ainda teve que ser submetido a uma cirurgia de emergência na perna às margens do rio para que conseguisse chegar com vida no fim da viagem.

A odisseia pelas águas brasileiras remotas da Amazônia terminou em 26 de abril de 1914, quando Rondon avistou o grupo de socorro. Apesar do pesadelo que a jornada de Roosevelt foi, ele ainda informou ao governo brasileiro que ela havia sido bem-sucedida.

A história da passagem do ex-presidente americano pelas águas brasileiras ficou tão famosa que o Rio da Dúvida foi renomeado Rio Roosevelt.

Por Julio Cezar de Araujo, do Megacurioso

By emprezaz

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