O comerciante americano Evan Novis (Siã), de Nova Iorque, vivenciou a espiritualidade do povo Shanenawa, na Aldeia Shane Tatxa Kaya, em Feijó, no interior do Acre, e resolveu apresentar ao mundo os cânticos e rezos sagrados entoados por eles. Ele se encontra na aldeia para gravar as canções para divulgação no Spotify.
O álbum Mana Runu Keneya, que leva o nome do grupo e significa “A Verdadeira Jiboia Encantada”, terá nove músicas, mas ainda sem data prevista para o lançamento.
Evan Novis afirma que, ao participar de uma cerimônia no Vale Sagrado, no Peru, em maio deste ano, ele se conectou com a espiritualidade de Tuim Shane, Wenki Shane, Tawa Shane e Axi Shane, membros do grupo Mana Runu Keneya, que também participavam do evento. “No instante em que eu os conheci, me conectei muito com os cantos sagrados e senti a força que eles tinham”, disse.
O americano conta que, após a cerimônia, foi convidado para a festa de aniversário do ancião da aldeia, mas perdeu o contato com os recém conhecidos. Contato este que foi retomado pela conspiração do universo, como ele mesmo afirma.
“Eu estava andando pela cidade e, como o universo conspirou para ser, encontrei com um deles na rua, na hora em que eu já estava entrando no carro para sair, e conseguimos trocar os contatos”, relembrou.
Na aldeia, o americano afirma que viu tanto amor e energia positiva, que o fez se sentir parte da família. “Eu consigo ver claramente de onde vem todo esse amor e essa família, esse espírito de família”, ressaltou.
Sobre os rezos sagrados, Evan destaca que estes são canais de cura do espírito da floresta para que eles possam trabalhar a transformação e a cura para o planeta. “Essas músicas e esses rezos sagrados precisam ser ouvidos por todos. É muito mais que os nossos olhos conseguem ver ou que qualquer pessoa consiga entender”.
Retorno Financeiro
A ação do americano também ajudará na manutenção financeira da aldeia, diante da ausência das instituições de proteção dos povos indígenas.
Evan Novis afirma que o álbum vai inspirar outras aldeias a também criarem o próprio conteúdo, trabalhando para fortalecer a cultura indígena. “Não só os Shanenawas, mas tem muitas outras aldeias que estão fazendo um trabalho lindo também. Se você quer fazer mudanças, tem que começar por si mesmo”.
A primeira mulher pajé jovem do povo Shanenawa
Mukani Shanenawa foi uma das inspirações para que Evan Novis se interessasse pela história desse povo, pois chamou a atenção do comerciante, o fato de uma mulher liderar o povo.
A pajé explicou que já surgiram várias pessoas buscando parcerias para a divulgação dos rezos sagrados, mas que o projeto nunca foi adiante. “Eu acredito muito que a natureza viu as pessoas maravilhosas para estarem com a gente nessa caminhada que são o Evan e o Artur. E a gente fechou essa parceria para fazer a gravação do álbum de cântico dos rezos sagrados que é uma forma, também, de nós estamos protegendo algo que é nosso”, disse.
Ela conta com o apoio do pai, o pajé Shuayne Shanenawa (102 anos) para auxiliar com a sabedoria dos cânticos. “Ele é o ancião do povo Shanenawa e, dentro dos rezos sagrados, ele é o único que sabe e o mais ancião, por que os outros já faleceram”.
Ela ainda explicou que há uma forte preocupação com aqueles que entram na aldeia, aprendem os cânticos e se apropriam dessa manifestação cultural e espiritual, registrando as rezas como deles.
Informações de Contilnet Notícias