Certificação internacional promove mudanças na vida dos moradores da RDS do Uatumã, no Amazonas

Redação Planeta Amazônia

Do Uatumã para o mundo: resinas e óleos amazônicos, além do Plano de Manejo Florestal Sustentável Comunitário para utilização de madeira legal, geridos pela Associação Agroextrativista das Comunidades da RDS do Uatumã (AACRDSU), passaram a ter um novo alcance a partir da aprovação da certificação florestal FSC® – Forest Stewardship Council®, Conselho de Manejo Florestal, em tradução livre – que completa um ano em 2023.  

Com a conquista da certificação florestal, a associação alcançou novas oportunidades comerciais, o que potencializou o preço da madeira e da resina de breu em relação ao ano anterior, antes da certificação. Esta passou de R$ 4 para R$ 8, um aumento de 100%.   

Em seu primeiro ano de funcionamento, a média do valor do metro cúbico da madeira comercializada pelo Plano de Manejo Sustentável Comunitário era de R$ 707,55. Em 2023, esse valor passou para R$ 1.246,37 por m³, ganho de 76%. 

Andiroba na RDS do Uatumã pela marca Inatu Amazônia/foto: Nicolas Ribas

O modelo de produção de produtos oriundos da floresta realizado por organizações sociais em parceria com o Idesam vem demonstrando a sustentabilidade desse tipo de economia a partir do fortalecimento de governança territorial e de procedimentos técnicos aliados ao conhecimento tradicional dos ribeirinhos e extrativistas.  

A área certificada referente aos produtos madeireiros soma 2.041,43 hectares. Já a de produtos não madeireiros, que inclui a produção de óleos e resinas vegetais, é de 39.987,99 hectares, totalizando 42.029,42 hectares certificados. A conquista deste verificador é um atestado de manejo e boas práticas e da rastreabilidade de tudo o que se produz na floresta: pode ser comprovada sua origem sustentável.  

A RDS possui uma miniusina de processamento de óleo de copaíba, breu, buriti e andiroba, principalmente/foto: Nicolas Ribas

O uso do sistema FSC permite ainda que as associações monitorem suas atividades não apenas considerando a qualidade da exploração, mas a partir de critérios como: avaliação e mitigação de impactos ambientais e sociais; aspectos de segurança e saúde do trabalhador; entre outros. 

A certificação abre portas para novos mercados por conta da segurança acerca da origem do produto. Para além do valor econômico, que beneficia em sua totalidade as associações, os critérios e indicadores do padrão de certificação funcionam como uma ferramenta que permite melhorar a gestão das atividades produtivas.  

Para obter a certificação, o Idesam realizou diferentes cursos para capacitar os manejadores, tanto em aspectos técnicos, como de segurança e de gestão. Os técnicos do Idesam também acompanham as ações de campo e desenvolvem junto aos manejadores as melhorias necessárias. 

O trabalho desenvolvido desde 2018 pelo Idesam junto aos extrativistas da RDS do Uatumã é o único no Brasil com manejo florestal comunitário de uso múltiplo, madeireiro e não-madeireiro que possui certificação florestal FSC 

“O Idesam compartilha dos mesmos valores do FSC: acredita no manejo como ferramenta de conservação. Trabalhamos o plano de manejo florestal comunitário que funciona como uma estratégia que permite coibir questões ilícitas. Somente uma mudança no paradigma econômico vai conservar a floresta”, afirma o diretor técnico do Idesam, André Vianna.  

A certificação foi conquistada em janeiro de 2022 e tem vigência até janeiro de 2027. Entre os procedimentos observados – e que devem ser mantidos pela organização – estão indicadores de questões ambientais, econômicas, segurança do trabalho, gestão e manejo. Todo o processo é auditado pelo Instituto de Manejo e Certificação Florestal e Agrícola (Imaflora), um dos únicos autorizados pelo FSC a fazer a conferência dos procedimentos na região.   

A estruturação do processo de certificação foi apoiada pelo Projeto Cidades Florestais, do Idesam, financiado pelo Fundo Amazônia / BNDES e também apoiada pela CLUA (Climate and Land Use Allince). 

“O Idesam tem nos ajudado muito com plano de manejo, usina de óleos, SAFs e pequenos projetos dentro da comunidade como a casa do artesão e agora temos esse selo que simboliza não apenas uma marca ou algo que agregue valor só pra venda, mas ele simboliza a vitória de um povo que lutou e que ainda acredita que os dias vão melhorar, ainda mais. Isso tem um significa muito importante pra gente”, explica Elizângela Cavalcante, ribeirinha, líder do Grupo de Trabalho do Plano de Manejo da associação da RDS do Uatumã e gestora da movelaria localizada na RDS.  

Sobre a RDS 

A RDS é uma Unidade de Conservação localizada na região nordeste do Estado do Amazonas, entre os municípios de São Sebastião Uatumã e Itapiranga, com área total de 424.430 hectares e compreende 20 comunidades ribeirinhas instaladas nas margens do Rio Uatumã e seus afluentes. Hoje, existem 22 comunidades e 360 famílias, fica a 300 km de Manaus. Na RDS, o Idesam atua junto aos extrativistas e organizações sociais por meio de assessoria técnica, de gestão e apoio à comercialização. São realizadas capacitações, acompanhamento técnico e de gestão, pesquisas e outros suportes, que auxiliam no melhor aproveitamento das matérias-primas e, consequentemente, na conservação da floresta. Fruto desse trabalho é o funcionamento de um Sistema Agroflorestal (SAF), a partir das mudas nativas produzidas por três viveiros florestais, com um potencial anual total de 8,500 mil mudas e uma miniusina de processamento de óleo de copaíba, breu, buriti e andiroba, principalmente.  

By emprezaz

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