Como ocorre a degradação florestal na Amazônia?

Sonaira Silva1, Camila Silva2,3, Jessica Costa1 e Breno Izidorio3

A Amazônia é normalmente vista como uma grande área de floresta tropical húmida com alta biodiversidade de fauna e flora, desempenhando um papel imprescindível na manutenção de serviços ecossistêmicos. Devido a importância da Amazônia para o mundo todo, o bioma tem recebido muita atenção por causa do aumento de desmatamento (derrubada da floresta). Entretanto, a preservação da floresta tem sido comprometida também pela degradação florestal.

Mas o que é degradação florestal?

São mudanças e perturbações na floresta causadas pelo homem comprometendo sua qualidade e funcionalidade ecológica. Essas mudanças podem ser transitórias ou de longo prazo, é o que releva artigo “The drivers and impacts of Amazon forest degradation” (https://www.science.org/doi/10.1126/science.abp8622). As principais causas da degradação são incêndios florestais, extração madeireira ilegal, secas extremas e fragmentação florestal. Esses fatores de degradação além de afetar o equilíbrio ecológico ambiental afeta também os meios de subsistências dos habitantes das florestas que utilizam os recursos florestais como benefícios econômicos e meio de qualidade de vida.

Fonte: Artigo Science “The drivers and impacts of Amazon forest degradation” Uma visão geral dos fatores extração de madeira, fogo, fragmentação florestal causando efeito de borda e secas extremas estimulando distúrbios e causando degradação florestal.

Para muitos, o fato de ter a floresta em pé, traz a percepção que está tudo bem, mas a degradação florestal reduz as funções da floresta de maneira preocupante, pois quando a “barreira” florestal ao fogo é substituída por vegetação altamente inflamável + secas extremas, o risco de incêndio aumenta. As florestas degradadas são vistas como florestas sadias, porém elas têm um número reduzido de espécies de fauna e flora, e sua recuperação pode levar mais do que muitas décadas.  Estima-se que cerca de 38% do que resta de floresta sofre algum tipo de degradação e pode aumentar para 70% se ações eficientes de combate e controle não forem aplicadas.

A degradação florestal traz inúmeros impactos a sociedade como: aumento das emissões de gases de efeito estufa favorecendo o aquecimento global, redução da evapotranspiração da floresta (evaporação da água do solo mais a transpiração das plantas que é parcialmente convertida em chuva), aumento da mortalidade de árvores, algumas com potencial madeireiro e não-madeireiro (https://www.mdpi.com/2571-6255/6/6/234), danos à saúde pública devido a fumaça das queimadas, diminuição de espécies de animais que são importantes na caça de subsistência,  proliferação ou surgimento de doenças, perda econômicas, entre outros.

Nos últimos anos, estamos vivenciando na Amazônia sérios efeitos da degradação florestal e de todas as mudanças ambientais antrópicas ocasionadas no mundo. Secas extremas, ondas de calor, poluição do ar extrema devido a fumaça de queimadas de incêndios florestais, inundações recordes. Estes, entre outros eventos, podem se tornar cada vez mais frequentes, criando um normal para a região. Esses efeitos aumentam a vulnerabilidade ambiental, econômica e social de todos, entretanto, com maior agravamento de alguns grupos já em situação de vulnerabilidade.


O que ocorre após a degradação por fogo?

Um dos eventos de degradação que traz enorme preocupação são os incêndios florestais, já que podem causar perda do estoque de carbono da floresta em até 80% quando a floresta é atingida pelo fogo mais de três vezes. O estudo liderado pela Dra Camila Silva (http://rstb.royalsocietypublishing.org/content/373/1760/20180043) mostra que mesmo após 30 anos, as florestas não conseguem se recuperar completamente, tendo 25% menos carbono. No Estado do Acre, o monitoramento contínuo dos incêndios florestais liderado pela Dra Sonaira Silva (https://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S0301479721002516) mostra que a floresta está mais vulnerável, em 2022 mesmo sem efeito de secas extremas, foram detectados mais de 11 mil hectares de incêndios florestais.

Área de floresta afetada por fogo duas vezes no leste do Estado do Acre. A área faz parte dos estudos citados acima e são monitoradas a 13 anos através de parcelas permanentes em parceria com a UFAC Campus Cruzeiro do Sul, INPE e IPAM/foto: Breno Izidorio _2023

Frente a tantos desafios para a manutenção da floresta em pé e sadia, é necessário conter o avanço da degradação florestal de forma urgente. A estabilidade do clima global, manutenção da nossa forma de vida, preservação da biodiversidade depende da interrupção dos fatores de causam a degradação florestal e desmatamento. O desenvolvimento sustentável é o melhor caminho para todos.

1Universidade Federal do Acre Campus Floresta

2Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia

3Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais

By emprezaz

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