Construção da estrada de Pucallpa a Cruzeiro do Sul vai cortar reservas indígenas

Bruna Giovanna da Silva Dantas Vieira

Carolina Souza Torres

Ila Caira Verus Magalhães

Há mais de 40 anos, o Peru e o Brasil discutem um projeto de construção de uma estrada que ligaria as cidades de Pucallpa (capital da região Ucayali) a Cruzeiro do Sul, no Acre. Essa discursão saiu em pauta em outubro de 2010 quando Provías Nacional, um programa do órgão do Ministério de Transportes e Comunicação do Peru (MTC), lançou uma convocatória para a elaboração de um “Estudo de Pré-investimento em Nível de Perfil” para a construção da estrada.

Em 2021, o tema voltou a ser pauta em uma audiência pública realizada pela Assembleia Legislativa do Acre, em Cruzeiro do Sul.

O projeto prevê 280 km de estrada pavimentada, cortando pela metade os territórios de dez comunidades indígenas do Peru.

Prejuízos previstos

O ambientalista Miguel Scarcello destaca que se o projeto do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes – DNIT tiver continuidade, os prejuízos ambientais serão incalculáveis para uma das regiões mais ricas em biodiversidade do planeta, onde ficam o Parque Nacional da Serra do Divisor.

“O projeto da estrada não tem nenhum estudo sobre os impactos a fauna e a flora. Esse é o habitat natural de milhares de espécies, muitas ainda nem conhecidas pela ciência”, afirma o ambientalista.

Existe ainda a presença de povos indígenas isolados, no lado Peruano que transitam pelo parque. Segundo Scarcello o projeto tem que levar em consideração a presença desses povos, que devem ser ouvidos sobre a visão deles a respeito da estrada. “A perspectiva é que haja muito impacto nessas populações indígenas, assim como nos ribeirinhos e nos assentados do parque Avaí. Outro ponto negativo que pode afetar esses povos é a compra das terras, que vão sendo apropriadas por um valor baixo, gerando um problema fundiário”, pontua Scarcello.

Representação da estrada que vai ligar o município de Cruzeiro do Sul a cidade de Pucallpa no Peru – (Imagem da Web)

Scarcelo acrescenta que se o projeto de construção da estrada sair do papel, será o maior desastre ambiental do estado do Acre de todo os tempos. Vários quilômetros de florestas serão destruídos, a fauna do parque pode vir a sofrer com as invasões, o aumento da caça ilegal.

Os povos indígenas que habitam nessa área estão se posicionando contra e acompanhando as atualizações do projeto, junto com a Comissão Pró-índio – CPI e outras lideranças indígenas e ambientais, assim também o Ministério Público Federal.

O líder e comunicador, Uhnepa Nukini, da terra indígena localizada no município de Mâncio Lima-Ac, na fronteira com o Peru, diz que a construção da estrada é um atraso.

O líder Nukini alerta ainda para sondagens que estão sendo realizadas próximas ao assentamento São Salvador, em busca de registros dos recursos minerais como brita, ouro e petróleo.

Confira a entrevista completa com o líder indígena Uhnepa Nukini:https://drive.google.com/drive/folders/1V26tZZInLcVSh-PY-IypZ8N0Ay9JGk9A?usp=sharing

Desenvolvimento x Devastamento

O desmatamento que visa o desenvolvimento. Greenpeace

Assim como há quem seja contra a construção da estrada que ligaria os dois países, há quem é favorável. O argumento é que a obra irá possibilitar o fortalecimento comercial entre Brasil e Peru. O presidente da Federação das Indústrias do Estado do Acre, José Adriano, é um dos lados que fala dos benefícios que a estrada poderia proporcionar para o desenvolvimento do estado e para a população da região.

“A ampliação da BR-364, ligando Cruzeiro do Sul a Pucalpa (Peru), consolida definitivamente a relação comercial com o Peru. Estratégico para o nosso estado, agrega inúmeras vantagens para o desenvolvimento do Acre, dando viabilidade econômica para a BR-364, colocando o nosso estado e a manutenção dessa BR no radar do DNIT, deixando de ser um problema e passando a ser uma solução para o Brasil e, principalmente, para a Região Norte, assim como mais uma alternativa para as exportações via portos peruanos.  Somam-se a tudo isso a expectativa de atração de investimentos para aquela região, bem como a redução do custo de vida dos municípios da região do Juruá, com a possibilidade de integração regional dos dois países”, disse, José Adriano.

O gestor acredita que a abertura da estrada traria investimentos para aquela região, reduzindo o custo de vida dos municípios do Juruá, que assim, a BR possibilitaria a integração regional dos dois países fronteiriços.

Créditos

Foto em destaque – Leandro Chaves

By emprezaz

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