COP 30 em Belém pode ser a chance de ampliar a voz dos territórios nas negociações sobre o clima

Redação Planeta Amazônia

Enquanto os efeitos da crise climática avançam com força sobre os territórios da Amazônia, populações indígenas, ribeirinhas e quilombolas seguem com pouco acesso aos espaços de decisão. O desafio é romper um ciclo histórico de invisibilização e garantir que os saberes locais e as realidades vividas por esses grupos não sejam apenas pano de fundo para discursos, mas o centro das soluções climáticas.

Para muitas lideranças indígenas, comunidades tradicionais e coletivos da sociedade civil, a linguagem das negociações climáticas, como as das Conferências das Partes (COPs), ainda parece uma barreira. Os debates são conduzidos em um formato altamente técnico e inacessível para grande parte da sociedade, especialmente quem vive nas regiões mais afetadas, o que aprofunda a distância entre os tomadores de decisão e as comunidades locais, criando uma lacuna que fragiliza respostas globais à crise climática. Enquanto as soluções para os desafios do presente exigem escuta, envolvimento e compromisso com outras formas de saber.

foto: João Ramid



Com esse cenário em vista, iniciativas que fortalecem a escuta ativa e a circulação de vozes dos territórios ganham ainda mais relevância. Uma dessas ações foi o Interconexão Workshop, realizado em 2024 pelo Pulitzer Center, organização que atua internacionalmente com jornalismo investigativo, educação popular e engajamento cívico. O encontro, sediado em Belém, reuniu comunicadores, educadores, pesquisadores e representantes de comunidades amazônicas para debater como a comunicação pode ser uma ferramenta de participação efetiva nas decisões sobre justiça climática, adaptação e políticas públicas, tendo como foco debates socioambientais importantes no contexto da COP 30.

COP 30: uma oportunidade para o mundo escutar a Amazônia e os povos da floresta

Com a realização da COP 30 em Belém, em 2025, o Brasil – como país-sede – tem a oportunidade de colocar os territórios no centro do debate climático global.

“A COP é um evento global, mas os impactos das mudanças climáticas são sentidos sobretudo localmente. Queremos garantir que essa conexão esteja no centro das discussões”, afirma Flora Pereira, Chefe Executiva de Educação e Engajamento no Pulitzer Center. Segundo ela, o encontro em Belém ajudou a destacar uma lacuna: a comunicação entre territórios e tomadores de decisão ainda é frágil, e o jornalismo de qualidade pode ser um catalisador importante para mudar essa realidade.

foto:João Ramid

O modelo adotado pelo Pulitzer combina apoio a reportagens aprofundadas — feitas muitas vezes por jornalistas que vivem e atuam nos próprios territórios — com estratégias de engajamento que levam essas histórias para escolas, universidades, debates e fóruns públicos. Em vez de apenas informar, o objetivo é provocar discussões que promovam o pensamento crítico, gerem conexão e fortaleçam o conhecimento compartilhado.

Para a COP 30, a organização pretende ampliar esse esforço: trazer à tona investigações que promovam transparência e informem sobre soluções e desafios climáticos, propor formatos inovadores de diálogo e, assim, garantir que as vozes dos territórios sejam não apenas ouvidas, mas levadas em conta nas decisões.

“A Amazônia precisa ser mais do que o cenário da COP; ela precisa ser protagonista. E isso só será possível se houver espaço real para saberes locais, dados produzidos nos territórios e jornalistas que contam essas histórias a partir de dentro, aliando jornalismo a outros tipos de conhecimento”, reforça Gustavo Faleiros, diretor da Unidade de Investigações Ambientais do Pulitzer Center.

foto: João Ramid

A presença da COP em Belém, pela primeira vez na Amazônia, acena para a chance de se reconectar a política climática com as realidades dos povos que protegem e constituem os importantes biomas do planeta. Por meio de parcerias com educadores, universidades e organizações de base, o Pulitzer Center quer garantir que o legado da COP 30 vá além do evento e fortaleça a educação climática, os debates sobre informação de qualidade e a formação de uma nova geração de comunicadores, educadores e líderes comunitários.

By emprezaz

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Postagens relacionadas