Ila Verus
“Eu crio gado há uns 20 anos, é mais que a metade da minha vida. O campo é minha escola, antes mesmo de ser uma atividade lucrativa é um trabalho que me faz me sentir vivo”, disse o pecuarista Hélio Pereira, de 36 anos, morador do município de Xapuri, no Acre.
Além de criador de gado, o xapuriense faz frete com seus dois caminhões boiadeiros, para ajudar a complementar sua renda. Ele explica que em Xapuri a pecuária é a base da economia, e por ser uma cidade em sua maioria com rebanho bovino, vem gente de longe comprar gado, “eu faço frete, mas também compro e vendo gado nos municípios vizinhos, como Brasileia, Epitaciolândia e Assis Brasil.
O pecuarista Hélio, deixa claro que o gado nunca esteve tão valorizado, que a carne tem alcançado altos preços “Nos vendíamos um garote por 700 reais, hoje, ele está em torno de 2 mil reais”, disse o criador.
Gado nelore sendo marcado. Foto: Ila Verus
Em 2013, o mercado internacional de carne movimentava um total de R$3,8 bilhões, hoje, passou para R$9,18 bilhões. Este ano, a produção chegou a 1,50 milhões de toneladas de carne. Uma alta de 18,5% em relação a 2021 (1,27 milhões de toneladas).
O Brasil tem o maior rebanho bovino do mundo, com 222 milhões de animais, segundo dados do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa). O país se consolidou como o maior exportador mundial do produto, de acordo com a Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carne (Abiec).
Processo de exportação
O presidente da Federação da Agricultura do Acre, Assuero Doca Veronez, destacou que a carne mais exportada atualmente é a carne de boi, já a carne da fêmea é destinada para o consumo interno. “A carne mais exportada é a carne de boi, naturalmente, a carne de vaca é para o consumo interno, aqui no Acre por exemplo, praticamente quase toda carne de vaca fica aqui”, afirmou.
Bezerros de 2 a 3 meses. Foto: Ila Verus
Um dos motivos expostos para o aumento da exportação da carne bovina do Acre para outros países têm sido o reconhecimento do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), do estado como zona livre de febre aftosa sem vacinação, ou seja “até outro dia o Acre não era livre de febre aftosa sem vacinação, logo muitos países não compravam carne de lugares que tinham aftosa, porque se tem vacinação em tese existe a doença, quando nós ficamos livres sem a vacinação, significa que não existe mais a presença do vírus no ambiente, portanto, nós conseguimos atingir esses mercados internacionais que pagam muito mais pela carne do que o mercado nacional”, declarou Assuero.
O Acre exporta para países como o Egito, a Arábia Saudita, a Indonésia e especialmente a China.
O pecuarista, João Souza, de Plácido de Castro, está há 15 anos na criação bovina. Para ele, toda essa valorização se dá pela cadeia de produção da carne bovina que é muito maior que as outras proteínas, girando em torno de 2 anos para ter gado bom para poder ir para o abate, que em comparação ao frango por exemplo é de 60 dias.
“Nosso gado é de alta qualidade e já tem mercado garantido. Isso é uma ótima vantagem”, explica o pecuarista.
Foto: Ila Verus
Pecuária na Amazônia
A criação de gado foi uma atividade que recebeu grande incentivo governamental na década de 1970. A pecuária extensiva é uma atividade onde o gado é criado solto no pasto, sendo o modelo mais utilizado pelos criadores da Amazonia, onde exige muitos hectares de terras para manter o rebanho nutrido. Isso se refletiu no processo acelerado do desmatamento da floresta.
Segundo dados da plataforma do Mapbiomas, entre os anos de 1985 e 2018, 41,9 milhões de hectares de floresta foram transformadas em pastagem para criação de gado. A área desmatada caberia o território da Alemanha.
Foto: FLORIAN PLAUCHEUR (AFP)
Para se ter uma ideia, mais de 40% do rebanho brasileiro está nos estados que compõem a Amazônia Legal (Acre, Amapá, Amazonas, Mato Grosso, Pará, Rondônia, Roraima, Tocantins e Maranhão). Sendo mais de 89 milhões de cabeça de gado.
A atividade é uma das principais atividades do agronegócio no bioma amazônico. Sendo um dos grandes contribuintes do desmatamento e do aumento de emissão de gases do efeito estufa, responsável por 14,5% das emissões, segundo a Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO).
Segundo o relatório da FAO, os principiais fontes da emissão de gases são a produção e processamento de alimento (45% do total), as emissões produzidas pela digestão das vacas (39%) e a decomposição do estrume (10%). O resto é distribuído no processo de transporte dos produtos animais.
Para a diminuição dos impactos da atividade no meio ambiente, existem técnicas generalizadas já existentes que englobam uma mudança na dieta animal, é o que explica a supervisora do Núcleo de Comunicação Organizacional da Embrapa Acre, Priscila Viudes. “Todas as técnicas para você potencializar a pastagem para oferecer uma alimentação mais reforçada para o gado acabam influenciando na emissão de gases do efeito estufa, porque o gado vai engordar mais rápido, o tempo de abate vai diminuir, assim, emitindo menos gases para o meio ambiente”.