Redação Planeta Amazônia
Um estudo feito por pesquisadores da Universidade Estadual Paulista (Unesp), da Universidade Federal de Rondônia (Unir) e analistas ambientais do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) aponta que os algoritmos usados para detecção e monitoramento, por imagens de satélites, de áreas queimadas na savana amazônica precisam levar em consideração a época do ano em que o fogo ocorre para avaliar com mais precisão os efeitos do fogo na biodiversidade
Os pesquisadores para chegarem a esse denominador comum, combinaram técnicas de sensoriamento remoto com análises feitas em campo antes e depois da chamada “queima experimental”, em diferentes épocas do ano.
O estudo foi necessário a realização de queimas de forma controlada em parceria com a gestão do parque e a brigada local para que os cientistas pudessem compreender em detalhes os efeitos do fogo, sobretudo na flora savânica da unidade de conservação, as áreas selecionadas para a pesquisa foram locais do Parque Nacional dos Campos Amazônicos – localizado entre Amazonas, Mato Grosso.
Os resultados obtidos do estudo foram publicados no Journal of Applied Remote Sensing e fazem parte da pesquisa de pós-doutorado de Daniel Borini Alves. A investigação foi apoiada pela FAPESP e supervisionada pela professora Alessandra Tomaselli Fidelis.
O geógrafo e pesquisador Borini explica que o material queimado gera uma cicatriz que ajuda na identificação da área “Nas savanas amazônicas, a exemplo de outras savanas tropicais, o sinal da cicatriz de área queimada observada via satélite se correlaciona com a quantidade de material combustível consumido pelo fogo. Se o fogo ocorre no início do período seco, que nessa área corresponde aos meses entre abril e junho, a vegetação ainda está mais úmida e o consumo de material combustível será menor em comparação a um incêndio que ocorra entre julho e setembro. Isso vai gerar níveis diferentes de complexidade para a detecção e o monitoramento dos efeitos do fogo pelos sensores equipados em satélite”, argumenta o pesquisador.
A pesquisa, da qual este artigo faz parte, é algo maior e ainda está em andamento. A etapa que recebeu financiamento FAPESP foi conduzida de janeiro de 2020 a abril de 2022. Novos artigos científicos serão publicados em breve com mais resultados. O projeto como um todo, desenvolvido desde 2018, recebeu o nome de Campos Amazônicos Fire Experiment (Cafe) e está sendo desenvolvido em parceria com o professor Antônio Laffayete Pires da Silveira, da Unir, e o analista ambiental Bruno Contursi Cambraia, do ICMBio, responsável pelo manejo do fogo e pelas brigadas de incêndio na instituição.
Borini coloca que as queimadas forma monitoradas para garantir a legitimidade e a segurança do local “Todas as queimadas foram supervisionadas diretamente pela brigada de incêndios do Parque Nacional dos Campos Amazônicos, para garantia de uma queima segura, e foram devidamente autorizadas pela licença SISBIO nº 67210-5”, esclarece.
A área da queima experimental, localizada no Estado do Amazonas, fica na região do parque em que está o maior enclave com fisionomia de savana aberta da Amazônia Meridional. O local abriga espécies que transitam entre os dois biomas – amazônico e savânico –, por isso, possui inúmeras espécies endêmicas, isto é, que só existem nessa região e precisam ser estudadas.
As savanas amazônicas são formadas por uma vegetação de porte baixo, com árvores tortuosas e, em sua maior parte, por gramíneas. São semelhantes às savanas presentes no Cerrado brasileiro, mas com menor diversidade de espécies.