Floresta em Pé x Floresta Derrubada: como mostrar o valor da Amazônia Sustentável?

*Por Ana Paula Barbosa de Almeida

A ONU, no último relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas, publicado em março de 2023, afirmou que as emissões de gases do efeito estufa precisam cair imediatamente e serem cortadas pela metade até 2030, para termos chances de alcançar a meta prevista no Acordo de Paris. O compromisso do estado brasileiro é de restaurar 12 milhões de hectares até 2030, o equivalente a quase três vezes o tamanho do estado do Rio de Janeiro, para que o país seja capaz de atingir a sua meta de mitigação às mudanças climáticas prevista no acordo. Além disso, na COP 26, que aconteceu em novembro de 2021, o Brasil anunciou o compromisso de reduzir em 50% suas emissões até 2030.

Enquanto as metas brasileiras para 2030 aparentam robustez, o país vem enfrentando cada vez mais desafios para alcançá-las. Até início de maio desse ano, o Brasil alcançou apenas 0,65% da meta de restauração de plantas nativas e, ainda, trazendo para a realidade Amazônica, o desmatamento da Amazônia Legal em 2022 foi o maior dos últimos 15 anos, segundo o Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon).

Cientistas de diversas nacionalidades já entendem esse cenário e alertam sobre a aproximação ao “tippint point”, em que o ambiente amazônico estará irreversivelmente alterado.

Iniciativas que fortaleçam a bioeconomia são fundamentais para a preservação dos biomas/foto: divulgação Fundação Eco+

É nesse contexto que as iniciativas de floresta em pé ganham relevância. O cenário de perda florestal causado pelo desmatamento ilegal cada vez mais presente nos últimos anos, somada à desigualdade social evidente na região, destaca o modelo de desenvolvimento insustentável da Amazônia e reforça o ciclo de pobreza e perdas ambientais que afetam a economia de todo o país.

Em entrevista ao Rede Brasil Atual em 2019, diante de um contexto de um regresso ambiental relacionado ao grande aumento do desmatamento da Floresta Amazônica, o cientista Carlos Nobre já afirmava que a solução para redução desta devastação seria o desenvolvimento de uma econômica Floresta em Pé, com uma exploração sustentável das riquezas naturais da floresta.

Resumidamente, o termo “Floresta em Pé” é referido como o modelo econômico que se estabelece por meio de iniciativas que fortalecem a bioeconomia de uma área florestal, com foco na conservação ambiental da flora. Em outras palavras, se refere às atividades que estimulam a economia das populações presentes em regiões florestais que utilizam da floresta como fonte de renda e, simultaneamente, conservam sua existência ao longo do tempo. Recentemente, as iniciativas para manter a floresta em pé têm sido muito mencionadas para o cenário amazônico, dada a situação complexa que a região se encontra.

Mas como podemos provar que a floresta em pé tem maior valor econômico, que derrubada? Para isso, a construção de um plano que consiga expor a viabilidade da manutenção da floresta do ponto de vista econômico é de extrema importância, e é nesse ponto que ferramentas como a Teoria da Mudança reforçam seu papel.

Os responsáveis pelo negócio, projeto ou atividade de impacto na região florestal em questão devem se juntar e estruturar as ações, indicadores e resultados que buscam através destas metodologias.

A Teoria da Mudança nada mais é que a conexão entre as atividades previstas no projeto ou negócio e o objetivo socioambiental buscado. A construção e preenchimento desse pensar é muito interessante porque, a partir dela podemos definir indicadores de avaliação do impacto produzido, identificar grupos afetados pelo projeto e medir resultados de impacto. Além disso, a ferramenta tem grande valor em situações complexas como a do cenário amazônico, pois auxilia no foco e priorização de ações.

Existem ferramentas e modelos de negócios que mensuram iniciativas sustentáveis/foto: divulgação Fundação Eco+

Outra iniciativa muito interessante para organizar e medir resultados de iniciativas como as de floresta em pé é o chamado Modelo C, que pode ser compreendido como a junção do Business Model Canvas, ferramenta de planejamento estratégico aplicada ao desenvolvimento de modelos de negócios, e a Teoria da Mudança.

Muitas organizações presentes no território amazônico já utilizam estas metologias. Em 2021, o Fundo Vale, de fomento e investimento para geração de impacto socioambiental positivo, divulgou uma Teoria da Mudança para alcançar seus objetivos de 2030 que buscam, entre outras metas, soluções sustentáveis no território amazônico. Outro exemplo é a Teoria da Mudança elaborada pela Idesam, ONG de impacto na Amazônia, que utilizou a ferramenta para revisar sua estratégia após os desafios pandêmicos da Covid 19 e traçar um caminho com impacto relevante na região de 2022 até 2026.

Demais organizações, como o Instituto Sociedade, População e Natureza (ISPN) e a Plataforma Parceiros pela Amazônia (PPA), da Idesam, também usam ferramentas para organizarem suas atuações na Amazônia. Inclusive, em dezembro de 2021, a AMAZ Aceleradora de Impacto, uma evolução do Programa de Aceleração e Investimento de Impacto da PPA, divulgou o uso do Modelo C na pré-aceleração dos negócios e o valor associado ao uso desta metologia mesclada.

A criação de modelos de negócio robustos e sustentáveis financeiramente é um dos maiores desafios de atividades de impacto e, é por isso que, o uso de ferramentas como a Teoria da Mudança e o Modelo C são de extrema relevância para a comprovação de que iniciativas de uso e preservação da floresta são economicamente, ambientalmente e socialmente viáveis. A urgência amazônica demanda uma maior disseminação e uso de ferramentas assim para mostrar, na prática, que a floresta em pé vale mais que derrubada.

*Ana Paula é analista de sustentabilidade aplicada na Fundação Eco+

By emprezaz

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