Cassandra Castro
De acordo com os dados atualizados do boletim estiagem divulgado pelo governo do Amazonas no domingo, 22, apenas 2 dos 62 municípios do estado estão em situação de normalidade neste período de estiagem severa no estado: Presidente Figueredo e Apuí. Dos demais, 59 estão em situação de emergência e um está em alerta. Até o momento, 158 mil famílias e 633 mil pessoas foram afetadas. Segundo o Centro de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (CEMADEN), a situação deve permanecer assim até janeiro de 2024.
As previsões só acentuam o drama vivido não só pela natureza, com rios praticamente desaparecendo, como também, o caso da mortandade de botos e tucuxis no Lago Tefé, mas por famílias inteiras que estão ficando isoladas e meio à seca e sem acesso a itens fundamentais para a vida como alimentos, combustível e água potável.
Povos Indígenas e ribeirinhos são elos importantes de uma cadeia que preserva o meio ambiente e garante a saúde ambiental do planeta com modos de vida sustentáveis, mas, infelizmente, eles acabam sendo as principais vítimas da injustiça climática.
O superintendente-geral da Fundação Amazônia Sustentável (FAZ), Virgílio Viana define de forma bem objetiva o que configura este conceito. “A injustiça climática ocorre quando aqueles que não contribuíram de forma significativa para o problema do aquecimento global como é o caso dos povos indígenas, das populações ribeirinhas, quando essas pessoas são vítimas das consequências do aquecimento global que é um problema criado por outros”.
Segundo Viana, a questão da injustiça climática foi tratada durante a última Conferência do Clima que ocorreu no Egito, em 2022, a COP 27. Foi acordado durante o encontro que essas pessoas devem ser compensadas de alguma forma pelos impactos que sofrem devido às mudanças climáticas e receber investimentos para que possam se adaptar para os desafios climáticos que estão por vir.
As dificuldades para quem depende dos rios para sobreviver
A dona Elizângela Cavalcanti é professora, ribeirinha e liderança extrativista da Reserva de Desenvolvimento Sustentável (RDS) do Uatumã, localizada a 330 km a nordeste da capital, Manaus, nos municípios de São Sebastião do Uatumã e Itapiranga. Ela conta das dificuldades diárias que só aumentam à medida que o rio seca cada vez mais.
“Aqui ainda tem acesso, mas se alimentar é que é difícil porque ir pra Itapiranga tá complicado, os peixes aqui tão escassos, até mesmo plantar é difícil nesse sol intenso. Só a gente sabe como tá difícil aqui. Algumas comunidades estão mais difíceis que outras, mas todas com dificuldade”.
Em outra comunidade da RDS, Santa Luzia do Caranatuba, a situação também está complicada, como conta o morador Aldemir Queiroz. “A água que a gente tá bebendo é lá do poço, duma cacimba que nós fizemos, né, e tamo tirando de lá”. O igarapé que servia de sustento para Aldemir e família agora se resume a um filete de água.
Em outro parte do estado, o drama das comunidades é bem parecido. Na Reserva de Desenvolvimento Sustentável (RDS) do Lago do Piranha, no município de Manacapuru, distante 98,8 km de Manaus, as famílias estão sem água potável e acesso à alimentação, já que a pesca é a principal fonte de subsistência da região. Porém, desde o final de setembro, é registrada a morte de milhares de espécies de peixes no Lago do Piranha, em decorrência da alta temperatura das águas. Com os peixes em decomposição, a água do lago se tornou imprópria para captação e consumo. “A gente fica sem acesso à água e alimentação nessa época, porque não conseguimos chegar até à cidade”, diz Fabiana Soares, moradora da comunidade Braga.
Doações essenciais para enfrentar a seca
Além da ajuda governamental que tem distribuído cestas básicas e outros itens fundamentais para o enfrentamento da crise severa ocasionada pela seca, instituições com atuações estratégicas na Amazônia têm realizado doações e campanhas para levar ajuda humanitária para as comunidades afetadas.
No início de outubro, a Fundação Amazônia Sustentável (FAS) levou aproximadamente, R$ 100 mil em doações para as comunidades localizadas na RDS do Lago do Piranha. As doações foram oriundas de empresas privadas que são parceiras da FAS. Foram entregues cestas básicas, água potável, medicamentos e filtros de água, entre outros itens.
Outra organização que também tem mobilizado parceiros para prestar ajuda a comunidades diretamente atingidas pela seca no Amazonas é o Instituto de Desenvolvimento da Amazônia (Idesam). Por meio de uma coalizão de organizações da sociedade civil com atuação na região e também com o apoio da iniciativa privada, aproximadamente 2 toneladas de alimento, kits de higiene e água potável deverão ser entregues nos próximos 15 dias pela campanha “Regatão do Bem”, liderada pelo Idesam,
Seis localidades deverão ser atendidas nesta etapa inicial: Lábrea, Tapauá, RDS Uatumã Carauari, Tefé e Maués. “Neste momento, nosso foco é garantir o atendimento emergencial a essas comunidades que já se encontram, praticamente, isoladas. Para termos a dimensão dessa problemática, precisamos olhar para a dinâmica de vida dessas populações no Amazonas que dependem, quase que exclusivamente dos rios, como fonte de subsistência”, explica Paola Bleicker, diretora executiva do Idesam e criadora da campanha.
Como ajudar
FAS
A Fundação Amazônia Sustentável segue com a campanha beneficente para arrecadar doações para as pessoas afetadas pela seca extrema na Reserva de Desenvolvimento Sustentável (RDS) do Lago Piranha e outras comunidades. Alimentos não perecíveis e água potável podem ser entregues na sede da FAS, localizada na Rua Álvaro Braga, 351, bairro Parque Dez, em Manaus (AM). As doações de recursos financeiros podem ser feitas por meio da chave PIX 03351359000188 – Fundação Amazônia Sustentável e pelo site bit.ly/doe-amazonia.
Idesam
A diretora executiva do Idesam, Paola Bleicker, ressalta que os registros de doação, bem como o relatório de prestação de contas, poderão ser acompanhados pela página do projeto, no site do Idesam: idesam.org/regataodobem .
As doações serão arrecadadas por meio do PIX 07.339.438/0001-48. Para mais informações, enviar mensagem para contato@idesam.org ou ligar para (92) 3347-7350.