Redação Planeta Amazônia
Um relatório, produzido pelo Núcleo de Apoio à Pesquisa de Roraima (NAPRR) do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa/MCTI), sobre a qualidade do ar em Boa Vista, capital do estado de Roraima, utilizou dados coletados por sensores de monitoramento do tipo PurpleAir, que revelaram dois picos significativos de poluição na cidade. Os sensores emitem dados diários do índice de qualidade do ar (Air Quality Index – AQI), denominado US EPA PM2.5 (refere-se a partículas finas inaláveis com diâmetros geralmente de 2,5 micrômetros ou menores). As análises foram realizadas no período de julho de 2020 a maio de 2024.
Segundo o relatório de monitoramento, nesse período foram detectadas variações sazonais na qualidade do ar respirado na cidade de Boa Vista. Essas variações estão diretamente relacionadas às queimadas e incêndios em ambientes florestais e não florestais que ocorrem entre os dois hemisférios que cortam Roraima.
Conforme o pesquisador do Inpa e líder do grupo que elaborou o relatório, Reinaldo Imbrozio, o pico de poluição de menor expressão, chamado de pico secundário no relatório emitido esta semana, corresponde à poluição derivada dos incêndios que ocorrem no Oeste do Pará e na calha do rio Amazonas, próximo a Manaus.
”Essa fonte emite poluentes que alcançam Boa Vista entre agosto e outubro (estação seca no hemisfério sul). O pico primário, o de maior expressão e intensidade, é determinado pelos incêndios que ocorrem na parte norte de Roraima. Nesse caso, as brumas de fumaça poluidora cobrem a cidade entre janeiro e março/abril (período seco no hemisfério norte), resultando em uma qualidade do ar extremamente baixa por semanas,” explica o pesquisador.
Os resultados indicaram que, dos 1.290 dias considerados válidos para o período analisado, a qualidade do ar em Boa Vista foi caracterizada como “boa” entre 280 (21,7%) e 689 (53,4%) dias. Utilizando apenas as leituras dos valores máximos registrados pelos sensores, foi constatado que a cidade de Boa Vista experimentou 255 (19,8%) dias sob alguma forma grave de poluição atmosférica, significando que a qualidade do ar atingiu níveis prejudiciais à saúde humana.
Reinaldo diz que os dados de qualidade do ar de Boa Vista foram comparados com outras cidades apenas em um curto período dentro do pico primário de poluição (23-25 de março de 2024). Nesse intervalo, a qualidade do ar de Boa Vista, uma pequena localidade do extremo norte da Amazônia, foi mais insalubre do que cidades como Hanói (Vietnã) e São Paulo (Brasil), grandes centros urbanos conhecidos por seus altos índices de poluição atmosférica devido à queima de combustíveis fósseis em veículos e indústrias.
Imbrozio afirma, ainda, que o principal desafio durante o período de estudos foi o de recuperar dados de toda a série temporal e verificar os problemas relacionados aos “dados faltantes”. “Os dados faltantes são falhas no banco de dados relacionadas às constantes quedas de energia e de comunicação por internet. Esses problemas resultam em lacunas em diferentes momentos, prejudicando a qualidade da análise dos dados,” explica.
De acordo com o pesquisador, o avanço no monitoramento ampliaria a base de estudos sobre correlações e análises de risco à saúde da população, bem como os danos ao meio ambiente, à fauna e à flora. Com a ampliação do monitoramento, constrói-se a base de ferramentas que o poder público precisa para melhorar os códigos legislativos de proteção ambiental e para a construção de alertas que forneçam ao cidadão informações necessárias para sua segurança no campo da saúde.
“As pesquisas nesse campo acadêmico estão apenas começando em Roraima. Ainda há necessidade de construir parcerias mais robustas com outras entidades acadêmicas do estado, como universidades e o instituto federal, para que a identificação dos problemas seja encaminhada a soluções baseadas em dados de maior qualidade,” conclui.
O Ministério do Meio Ambiente e da Mudança do Clima está promovendo Conferências Municipais e Estaduais que terão início em novembro de 2024. Essas iniciativas promoverão um debate mais amplo e direto com a sociedade civil, especialmente com as comunidades mais afetadas pela poluição, como indígenas, ribeirinhos e agricultores familiares.
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