Por Camila Sabino Ribeiro¹ e João Gabriel de Araujo Oliveira ²
Com a aproximação da COP 30, que será realizada em Belém em 2025, a Amazônia avança como foco no debate global acerca dos problemas climáticos e ambientais. Países de alta renda e grupos econômicos, como Estados Unidos e Europa (principalmente), acabam pressionando o Brasil, sob o discurso de “proteção ambiental” e “emergência climática”, para terem mais controle sobre a região, repetindo a velha narrativa da Amazônia como “pulmão do mundo”.
Entretanto, olhando para comportamentos passados desses países, percebe-se que o discurso deles é contraditório, os EUA, por exemplo, têm histórico de explorar recursos alheios, por meio de golpes (como o Irã-1953) e também guerras (Iraque-2003) para controlar reservas petrolíferas.
Apesar da Amazônia ter um enorme potencial de petróleo, sendo a Bacia da Foz do Amazonas, situada no litoral do Amapá, considerada como a área de maior potencial, aportando pesquisas da Petrobras que apontam para a possibilidade de existência de até 5,6 bilhões de barris de petróleo em apenas um dos blocos; o interesse dessas potências pode não estar apenas no petróleo, mas pode estar sobre um outro recurso tão valioso quanto, a água potável.
De acordo com a ONU, o uso global da água tem crescido 1% ao ano e, somado à poluição, torna a escassez um problema endêmico que será agravado pelas mudanças climáticas em todo o mundo. Além disso, a qualidade da água está em risco em países de todos os níveis de renda. De acordo com a Organização das Nações Unidas (ONU), 2 bilhões de pessoas no mundo não possuem acesso à água potável segura e 3,6 bilhões não garantem acesso a saneamento gerenciado de forma segura, em média, 10% da população mundial vive em países com nível de estresse hídrico considerado alto ou crítico.
Em países de alta renda, tal como a Espanha, a grave escassez hídrica já é uma realidade que impõe racionamento à população e causa perdas devastadoras na agricultura. Se nada for feito, a tendência é que a crise hídrica global s intensifique, tornando o racionamento de água e os severos impactos socioeconômicos uma realidade cada vez mais comum até 2050 (prazo que está de acordo com as necessidades climáticas do acordo de Paris).
Dessa forma, a água potável acaba se tornando um ativo muito valioso, a ponto de potências como EUA e Europa ficarem de olho na região que abriga cerca de 20% da água doce superficial do planeta, a Amazônia. Esse dado se agrava quando considerado que cerca de um terço (ou mais ) da água potável na África, Ásia e América Latina estão poluídos.
Então a Amazônia não é apenas “o pulmão do mundo”, é um território estratégico, repleto de recursos essenciais como água potável, biodiversidade e minerais, que despertam a cobiça de potências estrangeiras sob o disfarce de preocupação ambiental. Além disso, há no entorno de toda essa água desafios consideráveis para a sustentabilidade, uma vez que a ação humana gera o desmatamento e a degradação ambiental na região e que ameaçam, diretamente, o ecossistema, em especial aquelas ações tomadas de forma ilegal. Esses desafios devem se tornar uma pauta forte com relação a COP 30, na busca de preservar esse ativo tão valioso que é a água, mesmo que sob a perspectiva de viabilidade econômica e ganhos por partes dos países desenvolvidos, que não deveriam ser o foco central da discussão.
Assim, o Brasil deve deixar claro a sua soberania nacional quanto ao território que a ele pertence, mesmo quando EUA e Europa insistem em “salvar a Amazônia”, onde seus discursos estão, na verdade, carregados segundas intenções. Com isso, o Brasil deve rejeitar qualquer tentativa de interferência externa que transforme a Amazônia em um “bem comum” administrado por interesses alheios. Isso não significa negar a importância da preservação, mas sim assumir o protagonismo de um modelo sustentável que beneficie primeiro a população local e o desenvolvimento nacional, sem submeter-se a agendas disfarçadas de ambientalismo.
(*) ¹ Assistente de Pesquisa do Grupo em América Latina (CEAp) da instituição Ibmec-DF. Aluna do curso de Economia do Ibmec-DF; ² Professor Adjunto de Economia do Ibmec-DF e Coordenador do Grupo de Pesquisa em América Latina (CEAp) do Ibmec-DF.