por Sonaira Silva e Marcelo Siqueira (*)
Há décadas, vem sendo alertado sobre o aquecimento do nosso planeta. No ano de 2023, que ainda não acabou, os efeitos desse aquecimento têm se revelado cruel à humanidade. No Brasil, está ocorrendo uma seca recorde na região norte; ondas de calor com alerta de perigo à vida humana na região centro-oeste; e chuvas estão causando inundações nunca antes vistas na região sul.
Mesmo com todos os registros de eventos climáticos extremos no mundo e no Brasil, muitas pessoas negam a conexão desses fatos com o aquecimento global e com a influência humana nesse processo. Neste cenário, são comuns as expressões do tipo:
– Isso sempre ocorreu!
– São eventos naturais!
– Minha avó contou que isso ocorreu no passado!
São muitas as narrativas usadas para negar a crítica situação de emergência climática. E sim, eventos naturais extremos ocorreram, ocorrem e ocorrerão, mas eles aconteciam a cada 100-200 anos. Agora, o que está sendo vivenciado são fenômenos que estão ocorrendo quase que anualmente, e ninguém precisa contar, pois é visível aos olhos e perceptível na pele.
A negação da ciência não é novidade, já que sempre existiu e possivelmente continuará existindo. Desde os tempos antigos, diversos filósofos e matemáticos foram julgados por romper com as explicações míticas e buscar embasamentos empíricos para os fenômenos naturais. Na idade média, muitos foram condenados à morte ou prisão, como Sócrates e Galileu Galilei.
Atualmente, o mundo evidencia uma crise epistemológica que esvazia a credibilidade da ciência, que se encontra vulnerável às novas formas de comunicação, sobretudo com o fenômeno das fake news. Uma crise que cobra da própria comunidade científica a necessidade de compreensão dos perigos da dogmatização, da pulverização de informações, e do que pode ser descrito como “colonização científica”, quando pesquisadores ignoram a existência de expertises locais e de aspectos peculiares as mais diversas realidades, produzindo estudos com resultados distantes ou incognoscíveis à vida real peculiar a cada sociedade. É preciso ampliar os horizontes.
Frente ao exposto, é possível, por exemplo, citar o caso ocorrido no Brasil em 2019, quando o pesquisador Ricardo Galvão foi demitido de uma importante instituição pública de monitoramento ambiental por apresentar dados e evidências sobre o avanço do desmatamento na Amazônia. É perigoso quando pessoas tomadoras de decisão, como presidentes, governadores, prefeitos, empresários, negam a emergência climática, pois eles ampliam a vulnerabilidade dos sistemas naturais e humanos, e comprometem a gestão de risco e capacidade de lidar com os desastres no agora e no futuro.
Enquanto isso, milhões de reais são gastos em ações paliativas, mortes são registradas (em 2023, 115 pessoas perderam a vida devido às chuvas) e também problemas psicopatológicos (depressão, ansiedade, estresse, transtornos adaptativos, entre outros). Os custos econômicos e sociais da falta de ações preventivas são gigantes, um exemplo, é o estudo que contabilizou os custos por evento extremos para a saúde pública, somente no Estado do Acre, a cada evento extremo são gastos milhões de reais.
É preciso compreender que o clima mudou, e precisamos urgentemente nos adaptar e buscar novas soluções sustentáveis, ecologicamente corretas, economicamente viáveis e socialmente justas. Soluções indispensáveis para melhorar o dia a dia da sociedade mundial. É urgente a necessidade de mudar o mundo mudado.
(*) Professores da Universidade Federal do Acre Campus Floresta