O ponto de virada

(*) Alejandro Fonseca Duarte

Passar dos limites, quebrar a barreira, passar do ponto … são termos que, de alguma maneira, indicam que apenas uma pequena modificação, além, levará a uma situação inusitada. Malcolm Gladwell no seu livro “The Tipping Point” exemplifica exatamente isso tomando como referência as epidemias. As epidemias são o resultado de ir além, afetam grandes populações. Sua maior expressão atinge proporções globais, as pandemias.

Alcançado um certo nível de infecção (ponto de virada), chega-se à epidemia. O ponto de virada, ou ponto de ruptura, não está restrito a certos âmbitos. Epidemias não se circunscrevem à ação de agentes causadores e transmissores de doenças; por extensão podem se relacionar com ideias, modas, comportamentos, mensagens. Atualmente as redes sociais são impulsionadoras de epidemias (quer dizer, de ideias, modas, comportamentos, mensagens). O uso indiscriminado das redes sociais origina também epidemias de má saúde mental. Uma propagação de dependência da tela dos telefones celulares, de conteúdos, de curtidas a tal nível que, podendo ser os celulares úteis para a docência, já estão sendo limitados em salas de aula e escolas.

Em dezembro de 2023 foi divulgado na COP28 um relatório sobre o imenso desastre climático que coloca em perigo a Terra e a sociedade mundial. Pelo andar da carruagem a Terra está próxima do ponto de virada nas características do clima global, o que significa uma mudança sem retrocesso. Os eventos climáticos extremos vivenciados no presente seriam exemplos do que se tornaria o novo normal. A degradação ambiental na forma de desmatamento, queimadas florestais, poluição do ar, temperaturas mais altas, enchentes, secas, incêndios, derretimento de geleiras, aumento do nível do mar, aumento de áreas desérticas … implicam e implicarão mudanças irreversíveis, abruptas e incontroláveis dos ambientes, em particular, desequilíbrios na adaptação de tipos de culturas e disseminação de microrganismos causadores de doenças. As consequências sociais e econômicas desorganizarão o convívio humano. Para ter uma vaga ideia neste sentido, basta lembrar os recentes impactos negativos da Covid-19. O egoísmo do sistema econômico mundial não parece se movimentar pelo caminho necessário à mitigação das causas e consequências das mudanças climáticas, um claro exemplo disso se adverte na proliferação de armamentos e guerras. Somente existe uma via para tentar frear as mudanças climáticas, seguir o rumo da sustentabilidade da Agenda 2030 das Nações Unidas:

Erradicação da pobreza; Fome zero e agricultura sustentável; Saúde e bem-estar; Educação de qualidade; Igualdade de gênero; Água potável e saneamento; Energia limpa e acessível; Trabalho decente e crescimento econômico; Indústria, inovação e infraestrutura; Redução das desigualdades; Cidades e comunidades sustentáveis; Consumo e produção responsáveis; Ação contra a mudança global do clima; Vida na água; Vida terrestre; Paz, justiça e instituições eficazes; Parcerias e meios de implementação.

(*) Cientista ambiental, Doutor em Ciências Físico-matemáticas

By emprezaz

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