Os alimentos “quilométricos” e a escolha pelo sustentável

Kleber Andolfato de Oliveira – Professor e Coordenador do Laboratório de Agroecologia da Universidade Federal do Acre, Campus Cruzeiro do Sul

Os alimentos “quilométricos” ​​têm sido objeto de debate social e crescente preocupação. O termo refere-se a alimentos que percorrem um longo caminho antes de chegar às prateleiras dos supermercados e, finalmente, às nossas mesas de jantar.

Os dados sobre os alimentos que mais viajam pelo Brasil são coletados e divulgados pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA). O órgão é responsável por monitorar a produção agrícola e pecuária do país, além de gerenciar políticas e programas relacionados à agricultura e ao abastecimento.

O MAPA coleta informações sobre a produção e o transporte de alimentos por meio de diversos sistemas e ferramentas, como o Sistema de Informação do Agronegócio (SIA), o Sistema de Inteligência Agropecuária (SIAgro) e o Sistema de Monitoramento de Atendimento à Demanda (SMAD). Essas informações são utilizadas para elaborar relatórios e análises sobre o desempenho do setor agropecuário e para subsidiar a tomada de decisão do governo e dos agentes do mercado.

De acordo com os dados mais recentes disponíveis, os alimentos que viajam mais pelo Brasil são os grãos, como a soja, o milho e o trigo. Esses grãos são produzidos principalmente nas regiões Centro-Oeste e Sul do país e são transportados para os portos do Norte e do Nordeste para exportação.

Outros alimentos que viajam longas distâncias no Brasil incluem frutas, legumes e verduras, que são produzidos principalmente no Sudeste e no Sul e transportados para outras regiões do país. Alguns exemplos de frutas que viajam longas distâncias são a maçã, a uva e a pera, enquanto que os tomates, as cenouras e as cebolas são exemplos de legumes e verduras que também viajam bastante pelo Brasil.

É importante ressaltar que a distância percorrida pelos alimentos varia de acordo com vários fatores, como a localização das áreas produtoras, a demanda do mercado e as condições de infraestrutura e logística. Por isso, os dados podem variar de acordo com a época do ano e com as condições específicas de cada região.

Todavia, a preferência por alimentos produzidos localmente é importante por vários motivos. Em primeiro lugar, quando compramos alimentos de produtores locais, estamos apoiando a economia local, ajudando a manter as comunidades rurais vivas e prósperas. Isso ajuda a preservar as tradições e os modos de vida locais, além de gerar empregos e receita para a região. Além disso, os produtores locais geralmente usam práticas agrícolas mais sustentáveis, como a agricultura orgânica e a rotação de culturas, que ajudam a preservar a biodiversidade local e a saúde do solo.

Do ponto de vista biológico, escolher pela biodiversidade local ou as chamadas variedades regionais favorece a escolha por variedades regionais adaptadas ao clima e solo da região, o que pode levar a uma maior variedade de produtos e sabores disponíveis no mercado além de menos intervenções e utilização de produtos químicos e pesticidas em sua produção, pois geralmente as quantidades utilizadas são inexistentes ou menores do que nas grandes fazendas que produzem alimentos em grande escala.

Outra preocupação é que quanto mais longe os alimentos são transportados, mais demoram para chegar às prateleiras dos supermercados, o que pode levar a uma perda significativa de nutrientes. Isso significa que os alimentos “quilométricos” podem não ser tão nutritivos quanto as opções frescas cultivadas localmente, pois são colhidos no auge da maturação e não precisam ser transportados por longas distâncias e armazenados por longos períodos.

Além disso, a produção local de alimentos também é mais sustentável em termos ambientais. Os alimentos produzidos localmente viajam menos, o que significa menos emissões de gases de efeito estufa e uma menor pegada de carbono. Somado a isso, muitas vezes os alimentos precisam ser embalados e enviados em condições especiais para mantê-los frescos, o que gera muito desperdício de plástico e outros materiais de embalagem.

Outra vantagem dos alimentos produzidos localmente é que os consumidores podem conhecer os produtores e saber mais sobre como os alimentos são produzidos. Isso aumenta a transparência na cadeia alimentar e ajuda a criar um vínculo mais forte entre os produtores e os consumidores.

Ao preferir alimentos produzidos localmente, os consumidores também estão contribuindo para a segurança alimentar. Como esses alimentos são produzidos localmente, há menos probabilidade de interrupções no fornecimento e de problemas logísticos que possam afetar a disponibilidade de alimentos.

Diante dessas questões, muitos estão adotando práticas mais sustentáveis, como comprar alimentos de produtores locais e sazonais, reduzindo assim sua dependência de alimentos ‘quilômetros’. Aumentar a conscientização sobre essas questões é fundamental para garantir um futuro sustentável para o nosso planeta.

Em resumo, a preferência por alimentos produzidos localmente é uma escolha inteligente e sustentável. Apoiar a produção local de alimentos ajuda a economia local, promove práticas agrícolas mais sustentáveis, aumenta a transparência na cadeia alimentar e contribui para a segurança alimentar.

By emprezaz

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