Povos indígenas vão integrar atividades de manejo participativo do Pirarucu, no Amazonas

Redação Planeta Amazônia

No mês de maio, o Ibama realizou reuniões com povos indígenas Kanamari e Mayoruna, no Amazonas, para alinhar o início das atividades do manejo participativo do pirarucu (Arapaima gigas), o que passou a ser viável após a recente implantação do trabalho de vigilância e monitoramento, realizado pelos indígenas sob fiscalização e controle do Instituto, de um conjunto de lagos no Médio Javari e no Baixo Curuçá. O pirarucu, além de garantir a segurança alimentar dos indígenas, fornece renda extra para complementar as atividades de subsistência da produção de farinha e de artesanato, assim como favorece mais autonomia dentro dos territórios e o aumento do número de áreas com monitoramento da biodiversidade aquática, entre outros benefícios.

Reuniões foram realizadas pelo Ibama com povos indígenas para alinhar detalhes do manejo/foto: Ascom Ibama

Uma metodologia desenvolvida criou condições adequadas para as atividades de manejo do pirarucu nos lagos amazônicos realizadas por organizações comunitárias. A técnica, que usa de conhecimentos adquiridos pelas pesquisas realizadas acrescidas do saber tradicional das populações ribeirinhas, consiste na observação dos peixes, que vão na superfície da água para respirar a cada 20 minutos, o que permite a sua contagem. Com o uso da técnica, o manejo já é realizado pelos povos indígenas nas calhas dos rios Purus, Juruá e Médio e Alto Solimões.

Conflitos

Na área da comunidade de São Rafael, em que havia acordo de pesca sobre a espécie, o manejo foi interrompido em 2020 por conflitos internos e pela invasão dos lagos manejados. Os conflitos se originaram porque membros da comunidade aderiram ao acordo, mas, por motivos financeiros, foram cooptados por comerciantes a realizarem a pesca ilegal predatória do pirarucu e de outros peixes, além de mamíferos, jacarés e tartarugas.

Com o início da pandemia de covid-19 no mesmo ano, que agravou a suspensão do manejo e prejudicou a pesca ilegal, os conflitos se intensificaram, o que culminou nos assassinatos, em 5 de junho de 2022, do indigenista Bruno Pereira e do jornalista Dom Phillips. Bruno realizava o monitoramento e vigilância das invasões dentro da Terra Indígena (TI) Vale do Javari, nos rios Itacoaí e Itú, enquanto Dom escrevia uma reportagem sobre a Amazônia.

Como resultado das ações de monitoramento contra a pesca predatória, os estoques pesqueiros foram recuperados. “O Ibama vem apoiando a realização das emissões de autorizações de pesca do pirarucu, e realiza o monitoramento e controle da atividade por meio de análise dos relatórios que são encaminhados e pela emissão das guias de trânsito e comercialização”, explica James Bessa, analista ambiental do Ibama que acompanha o manejo da espécie no estado. A biodiversidade monitorada abrange cerca de 1,1 milhão de pirarucus em aproximadamente 2.100 lagos. A comunidade de São Rafael, ainda abalada com a morte de Bruno e Dom, ouviu palestra motivacional do Ibama para a retomada da atividade de manejo do peixe.

Histórico

Em 1996, a pesca da espécie foi proibida no Amazonas devido a sua extinção regionalizada em vários pontos das bacias estaduais, provocada pela pesca predatória. O interesse dos indígenas amazonenses no manejo participativo do pirarucu vem desde 2009. Aldeias da região já realizavam a proteção e monitoramento dos lagos nas suas proximidades. Em 2014, após receberem palestras e cursos sobre o tema, os indígenas enviaram representantes para vivenciarem a pesca manejada nos rios Juruá e na Reserva de Desenvolvimento Sustentável de Mamirauá, em Tefé (AM). Em 2018, receberam treinamento por consultoria com apoio do Centro de Trabalho Indigenista (CTI) e, em 2019, deram início à contagem do peixe em seus lagos na região do Médio Javari e Baixo Curuçá. Em 2023 os indígenas completam o terceiro ano de monitoramento do pirarucu, o que lhes permitiu a concessão de cota experimental para realização de uma Feira do Pirarucu na sede do município de Atalaia do Norte. Com a cota, os indígenas podem praticar a captura, beneficiamento e venda dos peixes, para servir como aprendizado a todos que participam das atividades de manejo.

Expansão do manejo no AM

As tratativas realizadas no último mês de maio, os demais povos que compõem a população da TI do Vale do Javari estiveram presentes e sinalizaram que vão encaminhar documentação para solicitar apoio para promoção das atividades de manejo do pirarucu. Na Aldeia São Luiz, foram feitas várias reuniões e discussões de alinhamento do manejo, cujo início está previsto para setembro deste ano. Já na Aldeia Nova Esperança, no Rio Pardo, foi dado início aos trabalhos de monitoramento e contagem dos estoques da espécie, visando estabelecer uma nova frente de monitoramento da Biodiversidade. Ambas as aldeias receberam palestras sobre educação ambiental e legislação focada no uso de recursos naturais.

A atividade de manejo deve ser expandida também para os povos Marubo, Korubo, Kulina e Mati, na TI Vale do Javari.

By emprezaz

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