Série sobre destruição da Amazônia que investigou assassinato de Dom e Bruno, é finalista do Prêmio Pulitzer de jornalismo

Redação Planeta Amazônia

Desde 1917, o Prêmio Pulitzer  reconhece projetos e pessoas que realizam trabalhos de excelência na área do jornalismo, literatura e composição musical. No dia 8 de maio, os concorrentes e ganhadores da edição de 2023 foram anunciados por meio de uma live no canal oficial do Prêmio Pulitzer no YouTube. A série de reportagens The Amazon, Undone do jornal estadunidense Washington Post, conduzida pelo repórter Terrence McCoy, com participação do fotojornalista brasileiro Rafael Vilela, é finalista na categoria de Reportagem Explicativa. The Amazon, Undone conta detalhes sobre o desmatamento da Amazônia e como os poderes público e político estão diretamente ligados a isso, além de destacar os envolvidos por trás da destruição, as autoridades que permitem que eles operem com impunidade, o papel dos Estados Unidos e as implicações para o planeta, sempre trazendo o olhar dos indígenas para os temas abordados. A série documentou histórias em diversos estados brasileiros como Acre, Amazonas e Pará.

Fotos de Rafael Vilela, Raphael Alves e Alexandre Cruz-Noronha ilustram a série/foto: divulgação

Além do Prêmio Pulitzer, a série foi laureada no George Polk, uma das maiores honras do jornalismo estadunidense, na categoria de reportagem ambiental. No Overseas Press Club, recebeu o prêmio Robert Spiers Benjamin por melhor reportagem em qualquer mídia na América Latina.
 

Os jornalistas dedicaram mais de um ano à execução do projeto. Entre os que participaram das matérias ao lado de Terrence Mccoy estão Rafael Vilela, Raphael Alves e Alexandre Cruz-Noronha, responsáveis por fotos e vídeos; Júlia Ledur, John Muyskens e Simon Ducroquet, para gráficos; e Cecilia deLago, para relatórios de dados.
 

Matthew Hay Brown foi o editor principal; outros editores e colaboradores importantes foram Chloe Coleman, pela edição de fotos; Alexa Juliana Ard e Avener Prado, pelo vídeo; Allison Mann, Joe Moore e Matt Callahan, pelo design e desenvolvimento; Kate Rabinowitz, Laris Karklis, Lauren Tierney e Monica Ulmanu, pelos gráficos; Julie Vitkovskaya e Jay Wang, pelo gerenciamento de projetos; Meghan Hoyer e Reinaldo Chaves, pela edição e análise de dados; Vanessa Larson e Martha Murdock, pela edição de textos; e Gabriela Sá Pessoa, pelo apoio à pesquisa.
 

Agentes de fiscalização visitam a casa de um produtor rural para aplicar uma multa pela recente derrubada de floresta amazônica em sua propriedade. Por motivos de segurança, a equipe é sempre acompanhada pela Polícia Militar Ambiental/foto: Rafael Vilela para o The Washington Post

Para o fotógrafo brasileiro Rafael Vilela, “o jornalismo é ainda uma das poucas ferramentas em uma democracia capaz de ter, ao mesmo tempo, autonomia e potência para abordar certas problemáticas. No caso da crise climática, são muitos interesses estruturais que impedem qualquer tipo de reação efetiva ao desmonte das florestas. Ir a campo e usar o privilégio de ter tempo e recursos para fazer esse tipo de pesquisa em profundidade é altamente revelador para quem participa. A prática jornalística democratiza o acesso a realidades que dificilmente as pessoas ao redor do mundo poderiam conhecer de outra forma. A premiação é um reconhecimento importante para que mais trabalhos como esses possam ser feitos, por iniciativas estrangeiras, mas idealmente cada vez mais também pelo jornalismo nacional”.

Gado em uma área próxima a um desmatamento recente em uma propriedade privada no estado do Acre, Brasil/foto: Rafael Vilela para o The Washington Post

Rafael é conhecido por reportagens sobre as crises climática e econômica no Brasil. Em 2020 foi selecionado pelo Fundo de Emergência para Jornalistas da National Geographic, cobrindo a Covid-19. Em 2021 foi vencedor no World Press Photo FotoEvidence Book Award e POYLatam com seu projeto Covid Latam e, em 2022, recebeu o Catchlight Fellowship e o National Geographic Explorer Grant.
 

Missão arriscada


 McCoy, Vilela e todas as pessoas envolvidas no projeto passaram por momentos de risco. Enquanto construíam as reportagens, o jornalista Dom Phillips e o ativista Bruno Pereira foram mortos a tiros no Vale do Javari, próximo à fronteira do Brasil com o Peru. Terry reconstruiu meticulosamente o crime para o quinto artigo da série, The Killing of Dom and Bruno (O assassinato de Dom e Bruno), expondo a convergência de políticas governamentais, a aplicação fraca da lei e impunidade criminal.

“É uma grande honra ser reconhecido pelo Prêmio Pulitzer como um finalista, mas não fui só eu que trabalhei neste projeto: além de uma equipe extraordinária em Washington, meus colegas brasileiros me ajudaram em cada passo do processo, e eu agradeço a todos por isso. O Brasil tem um talento jornalístico enorme, não apenas na área fotográfica, mas também em pesquisa e análises de dados. Fico feliz que eu consegui colaborar com uma equipe tão sensacional.
 

Espero que esta honra venha para destacar uma crise que continua na floresta amazônica. Nos últimos anos a história da floresta amazônica tem sido uma história de crime organizado, destruição ambiental e uma ausência profunda do governo federal. É uma floresta onde defensores ambientais vivem sob ameaça e jornalistas temem serem assassinados. No ano passado a comunidade jornalística perdeu nosso colega e amigo, Dom Phillips, quando estava em campo com o indigenista Bruno Pereira. Ambos foram mortos quando estavam tentando proteger um recurso ambiental necessário para todo o mundo. Não iremos esquecer nem Dom nem o trabalho dele. Ele foi morto, mas seu trabalho viverá”, finaliza McCoy.
 

Sobre Rafael Vilela

Rafael Vilela é fotógrafo e jornalista brasileiro que documenta a crise climática e econômica em seu país para a National Geographic e o jornal Washington Post. Seu projeto ‘Ruínas Florestais’ que documenta a resistência da comunidade indígena Guarani-Mbyá nos limiares da cidade de São Paulo, a maior metrópole das Américas, foi finalista do prêmio Leica Oskar Barnack em 2022, ano em que foi premiado com a bolsa National Geographic Explorer e a Catchlight Global Fellowship. Rafael também foi vencedor no World Press Photo FotoEvidence Book Award e POYLatam com seu projeto Covid Latam em 2021.

Sobre Terrence McCoy

Terrence McCoy é o chefe do escritório do The Washington Post no Rio de Janeiro. Recebeu vários prêmios nacionais, inclusive dois prêmios George Polk por suas reportagens sobre a pobreza nos Estados Unidos e o desmatamento na Amazônia. Serviu no Corpo de Paz no Camboja. Ingressou no The Washington Post em 2014 e trabalhou como redator da equipe nos departamentos local, nacional e estrangeiro. É bacharel em ciência política e jornalismo pela Universidade de Iowa e doutor em política internacional e jornalismo pela Universidade de Columbia.

By emprezaz

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