Um caminho para o uso racional dos recursos naturais é a prática da economia circular

Cassandra Castro

Após duas semanas nas quais os olhos do mundo estiveram voltados para Dubai, nos Emirados Árabes Unidos, com a COP28, a importância de se buscar soluções para os desafios climáticos ganhou ainda mais destaque, principalmente em um ano que vai chegando ao fim em meio a condições severas no clima, com registros de fenômenos extremos como as enchentes e secas em várias regiões do planeta.

Uma alternativa que não é tão recente assim, mas que ainda precisa avançar no mundo e também no Brasil é a prática da economia circular. Um conceito relativamente simples, mas que faz a diferença não só sob o aspecto econômico e ambiental, mas também, social.

Claudia Pires é otimista em relação ao crescimento da economia circular no Brasil/foto: Divulgação

A cientista comportamental, Claudia Pires, é CEO da so+ma, ESG Tech que atua como uma solução integrada de mudança comportamental em conjunto com gestão eficiente de dados. Para ela, a economia circular é uma enorme alternativa para tornar o mundo mais sustentável porque procura dar destinação correta a resíduos que muitas vezes geram além de problemas ambientais, também de saúde pública. “Hoje o SUS gasta 1,5 bilhões de reais com doenças ligadas diretamente ao lixo”, relata Claudia.

Na chamada Economia Linear, na qual extraímos, produzimos, usamos e descartamos, o desperdício de material e a geração de resíduos que muitas vezes não são reaproveitados são realidades que mudam radicalmente com a implantação de ações que caracterizam a economia circular, uma grande aliada da sustentabilidade e do bem estar coletivo.

Iniciativas simples podem mobilizar as pessoas a integrarem, de fato, a rede circulante/foto: Divulgação

Claudia Pires explica de forma bem simples o mecanismo da economia circular. “Quando praticamos todos os Rs estamos trazendo vários benefícios para o meio ambiente. Então, quando realmente se reduz ou recicla, utilizamos menos insumos da natureza. Então, reduzimos a extração de matéria prima nova. Quando você volta para a cadeia produtiva, você economiza energia, economiza água, reduz ou mitiga as emissões de CO2.” Os “erres” citados por Claudia se referem às ações de reduzir, reutilizar e reciclar, palavras que são quase um “ mantra” para quem defende a prática nos mais diversos segmentos da sociedade.

Na agenda ambiental de todo o planeta, o objetivo de buscar diminuir as emissões de CO2 ( dióxido de carbono) na atmosfera tem trazido conceitos como o de compensação de CO2, descarbonização e mercado de carbono. Na opinião da especialista, de nada adianta fazer compensação e continuar emitindo os Gases de Efeito Estufa (GEE). “Não adianta ainda a gente sair compensando e continuar emitindo. Então, precisamos compensar o que já foi emitido, mas precisa mitigar para não emitir novos (GEE)”, argumenta.

O consumo desenfreado de produtos sem levar em consideração o que foi gasto de recursos não só financeiros, mas também, de matéria-prima e energia para elaborá-los gera um grande fardo ao meio ambiente. Mudar isso passa por uma mudança de paradigmas e de atitudes de todos.

“ Se você faz com que um produto que já foi consumido volte para a cadeia produtiva seja reutilizado, seja reciclado, seja novamente inserido na cadeia produtiva, a gente está trazendo um impacto ambiental positivo para o meio ambiente e para a saúde nossa, do ser humano e, redução de recursos econômicos de maneira substancial”, afirma Claudia.

Os desafios do Brasil

Para a CEO da so+ma, muita coisa tem sido feita no Brasil para melhorar a destinação de produtos e a aproveitamento deles dentro da economia circular, mas as ações ainda são muito tímidas e seria necessário acelerar este processo para melhorar o desempenho do país nesta área.  Ela conta que, apesar de investimentos em infraestrutura, trabalhos importantes feitos por cooperativas de catadores para coletar material jogado fora com o objetivo de uma destinação sustentável, são iniciativas ainda muito pequenas se comparadas à quantidade de resíduos gerados no país.

As garrafas pet podem ser reaproveitadas de diversas formas e reciclagem gera emprego e renda/foto: reprodução

“O Brasil é o quarto maior produtor de plástico no mudo e reciclamos muito pouco deste insumo. O Brasil está entre os países que menos reciclam plástico no mundo. Então, temos ainda bastante coisa para avançar”, destaca, Claudia que também chama a atenção para a questão do desperdício de alimentos, algo muito sério no Brasil e no mundo e que precisaria de uma mudança de mentalidade e de hábitos. O consumidor só olha o processo do produto até o consumo e esquece ou desconhece que também tem um papel importante nesta cultura da economia circular. “Não pensamos que o descarte também faz parte do processo de consumo. Afinal de contas, se eu consumi e se eu der o encaminhamento correto que é a questão toda da economia circular, este descarte faz parte do meu processo de consumo”.

“A gente como consumidor tem um papel fundamental nisso porque se conseguimos entender cada vez mais todo este processo e todo o impacto, além de contribuirmos para que o encaminhamento aconteça correto, também conseguimos exigir muito mais dos municípios, das empresas o que elas podem fazer neste processo”

Colocando o ESG na prática, a so+ma une a intenção e a ação de reciclar atuando como um motor da mudança de comportamento no Brasil/foto: Divulgação

Este trabalho de conscientizar as pessoas sobre o papel importante delas na circularidade é um dos pilares da So+ma que acredita no potencial transformador dos cidadãos. “Na economia circular, quando você olha para ela, o consumidor é um ator dentro desta circularidade. Então, se a gente não estiver participando deste círculo, ele não é circular porque ele vai se quebrar em algum momento.”

Em um mundo cada vez mais interligado e unido pelos problemas e desafios conjuntos, cada iniciativa individual faz a diferença no caminho de uma coletividade que irá colher os frutos de um consumo mais consciente e com responsabilidade ambiental.

By emprezaz

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