Amazônia é refúgio para diversidade de tartarugas; conheça nova espécie do Pará

Redação Planeta Amazônia 

O Brasil ocupa quase metade da América do Sul e é o país com a maior biodiversidade do mundo sendo o terceiro maior do mundo em diversidade de quelônios (ordem que reúne espécies de tartarugas, jabutis e cágados) e perdendo apenas para o México e os Estados Unidos.

No mundo, das 359 espécies descritas, 39 estão no Brasil (incluindo as tartarugas marinhas). Dessas, 21 espécies fazem da Amazônia seu refúgio preferido sendo um local para milhares delas se reproduzirem todos os anos.

O biólogo especialista em répteis, Fábio Cunha, destaca que a Amazônia é prioridade em ações de conservação da espécie de quelônios em nível global “devido à sua grande diversidade e também endemismo. Afinal, muitas dessas espécies não existem em nenhum outro lugar do planeta a não ser no Brasil”, diz o especialista.

Tartaruga tem padrão de cores diferente das outras — Foto: ilustração cedida por Fábio Cunha

Uma pesquisa recente de Fábio Cunha mostrou que há uma nova espécie de quelônio. É a perema-do-pará (Mesoclemmys sabiniparaensis). A espécie vive nos igarapés do entorno da Unidade de Conservação (UC) do Parque Estadual Martírio Serra das Andorinhas, no município de São Geraldo do Araguaia, no sudeste do Pará (PA).

“Essa região é conhecida como ‘Arco do Desmatamento’ , uma das áreas com maior alteração da paisagem natural devido às atividades antrópicas (processos ocorridos em decorrência de ações humanas)”, afirma o biólogo. Ele complementa: “Se em lugares impactados ainda encontramos novas espécies, imagina em locais desconhecidos e preservados? Temos uma diversidade incrível da fauna e da flora que precisa ser conhecida e valorizada”, conta ele.

O biólogo explica que o padrão de cor, principalmente na região peitoral da tartaruga, chamou a atenção dele. “A espécie tinha cores totalmente diferentes. Algo que eu nunca tinha visto na minha vida. De cara era perceptível que tinha algo ali. E o DNA não deixou dúvidas: se tratava de uma espécie nova”, relembra.

Espécie ocorre na área mais devastada da Amazônia — Foto: M. Hoogmoed/ cedida por Fábio Cunha

Apesar da espécie ser , em princípio, do sudeste do Pará, não se tem informações necessárias para classificar se essa nova tartaruga corre risco de extinção. O nome científico da nova espécie é uma homenagem ao pesquisador Andrew Sabin e o ‘paraensis’ é por causa da localização onde a tartaruga foi encontrada – estado do Pará”, explica.

O estudo teve início em 2018 e foi liderado pelo herpetólogo Fábio Cunha, da Universidade Federal do Pará (UFPA), a partir de uma visita à coleção de Herpetologia do Museu Emílio Goeldi (MPEG), considerado o maior acervo da região amazônica, abrigando cerca de 100 mil espécimes de anfíbios e répteis.

“Estávamos em processo de descrição de uma nova espécie, da região do Baixo-Amazonas, e ao estudarmos os animais depositados no Museu, encontramos um grupo de tartarugas com o formato e o padrão de coloração muito diferente”, diz o pesquisador de doutorado do Programa de pós-graduação em Ecologia Aquática e Pesca, sob orientação do Dr. Marcelo Andrade.

A descoberta contou ainda com apoio de outros pesquisadores da Universidade Federal do Pará (UFPA), do Núcleo de Ecologia Aquática e Pesca da Amazônia (NEAP), do projeto Turtle Conservancy, da Chelonian Research Foundation e da ReWild – movimento fundado por um grupo de renomados cientistas conservacionistas junto com o ator Leonardo DiCaprio e que protege e recupera a vida selvagem.


PEsquisa identificou características que Pesquisa detalhou padrões para comparar com espécies do mesmo grupo. — Foto: Ilustração cedida por Fábio Cunha


Em 2021, o herpetólogo Fábio Cunha havia descrito uma outra espécie de tartaruga, a Mesoclemmys jurutiensis, que faz homenagem ao município onde foi encontrada, em Juruti, no oeste do Pará. Antes disso, não se tinha notícias de uma nova espécie desde 2005.

“Descrever uma espécie de tartaruga é muito difícil porque são animais com processos muito primitivos. Pense que elas estão aqui há 260 milhões de anos. Então, a especiação desses animais ocorre de maneira lenta. Por isso, avaliar esses dados demanda análises minuciosas e atualmente existem pouquíssimos pesquisadores com foco nos quelônios”, finaliza ele.

By emprezaz

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