Assassinato de Chico Mendes completa 34 anos. Um homem à frente do seu tempo

Ila Verus

Há exatamente 34 anos, 22 de dezembro de 1988, morria Chico Mendes, vítima de uma emboscada atrás de sua casa, em Xapuri, no Acre. O líder seringueiro apresentou ao mundo a ameaça para o planeta causada pela destruição da floresta. Mais de três décadas depois, o mundo ainda patina em ações concretas para conter a devastação e promover o desenvolvimento sustentável da região onde vivem quase 30 milhões de pessoas.

Para o presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Xapuri, Paulo Sérgio Pinheiro, essa data é sempre lembrada com tristeza, pois explica que Chico, como é chamado em Xapuri, era a maior liderança dos movimentos sociais. 

“Chico Mendes tinha uma visão de sempre está buscando o melhor para os moradores da floresta, liderou com muita grandeza seu povo, e digo que graças esse movimento, foram conquistados a criação das Resexs (Reservas Extrativistas) e assentamentos, ganhamos o direito de viver e trabalhar dentro de áreas com mais dignidade. A evolução que na qualidade de vida foi enorme, temos que está sempre agradecendo tudo o que ele representou para os trabalhadores rurais”, explica o sindicalista de Xapuri.

O seringueiro José Pessoa Nascimento, de 73 anos, cortava seringa com Chico Mendes, no seringal da Filipinas, no município de Xapuri. A relação aumentou quando atuavam no Sindicato dos Seringueiros. Na lembrança ficou união do povo na luta de combate a derrabada das florestas. Ele complementa dizendo que não há como falar do Chico e não se sentir revoltado com a atual situação da Amazônia, “no tempo do Chico as coisas eram mais organizadas, eu estou revoltado que toda a luta que nos tivemos, tantos empates, arriscando a vida, e hoje em dia a gente ver Amazônia em uma situação dessa”, disse com indignação o seringueiro e ainda morador da cidade de Xapuri.

Angélica Mendes, neta de Chico Mendes, não chegou a conhecer o avô, mas fala com orgulho da sua luta. “Quando a gente fala de Chico Mendes a imagem que me vem é de um herói mesmo, uma pessoa que estava à frente do seu tempo, que tinha essa visão revolucionária para a época, da importância de manter a floresta em pé, da importância que era e que ainda é ter os povos da floresta, os verdadeiros guardiões desse território. Uma época em que não se falava em mudanças climáticas, ele já sabia que a queda das florestas era queda da humanidade”, disse.

Neta de Chico Mendes, Angélica Mendes, aos 33 anos de idade. Foto: Reprodução

A neta de Chico Mendes, hoje, com 33 anos, hoje, é membro do Comitê Chico Mendes e da Rede WWF (Fundo Mundial para a Natureza), sendo também articuladora de movimentos de juventude da Amazônia. Adora uma das frases do avô: “No começo pensei que estivesse lutando para salvar seringueiras, depois pensei que estava lutando para salvar a Floresta Amazônica. Agora, percebo que estou lutando pela humanidade” – Chico Mendes.

Desmatamento na Amazônia

Desmatamento na Amazônia vem avançado. Foto: Ivan Canabrava/IPAM/Woodwell

A derrubada da Amazônia segue batendo novos recordes negativos mesmo durante o período chuvoso na região. Apenas em novembro, foram desmatados 590 km², 23% a mais do que no mesmo mês do ano passado. Com isso, o acumulado desde janeiro chegou a 10.286 km², o que equivale à devastação de 3 mil campos de futebol por dia. Essa é a pior marca para o período em 15 anos.

“É um momento caótico. A cada ano aumenta mais o desmatamento ilegal. A partir do momento que a pessoa desmata ela está trazendo um impacto muito grande para as gerações futuras, a área desmatada hoje, não vai ter um impacto nesse momento, mas com o passar do tempo vamos sentir, na verdade, já estamos sentindo o impacto de desmatamentos passados, o clima todo mudado é uma consequência do desmatamento. Queremos proteção principalmente para as Resexs, que posso dizer hoje que estão com números muito grande de desmatamento. Nosso grande desejo é que as pessoas tenham outra visão das florestas, que possam ver nela o futuro com um desenvolvimento sustentável, aproveitando os recursos naturais e garantindo qualidade de vida para as pessoas”, destacou o presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Xapuri. 

Chico Mendes

O líder sindical, Chico Mendes, com 9 anos já cortava seringa. Foto: Reprodução

No dia 15 de dezembro de 1944, durante a Segunda Guerra Mundial, no seringal Porto Rico, em Xapuri, nascia Chico Mendes. Assim era conhecido Francisco Alves Mendes Filho, filho do migrante cearense e seringueiro Francisco Alves Mendes e de Maria Rita Mendes.

Só veio a ser alfabetizado aos 18 anos de idade por Euclides Fernando Távora. Casou-se duas vezes, a primeira, em 1969, com Eunice Feitosa de Meneses, no seringal Cachoeira — com quem teve duas filhas: Ângela Maria e outra que faleceu muito cedo. A relação durou pouco, se separaram em 1971. Casou novamente com Ilzamar Gadelha Mendes, com quem teve mais dois filhos, Elenira e Sandino.

Na política tradicional, ele foi vereador de Xapuri durante o mandato de 1977-1982, pelo Partido Movimento Democrático Brasileiro (MDB), sendo eleito como alguém à frente dos seringueiros, se tornando uma voz parlamentar para atuar em defesa do extrativismo e da preservação da floresta amazônica.

Ajudou a fundar o Partido dos Trabalhadores (PT) em 1980, sendo uma liderança no Acre, e também foi líder do Sindicato dos Trabalhadores de Xapuri de 1981 até sua 16 morte. Foi candidato a deputado estadual em 1982, a prefeito de Xapuri em 1985, a deputado estadual em 1986, sem conseguir se eleger.

Foi assassinado em 22 de dezembro de 1988. Levou um tiro quando descia pela porta dos fundos de sua residência para tomar banho.

O mandante do crime, Darly Alves, e seu filho, o executor do crime, foram condenados em 1991, pelo juiz Adair Longuini a 19 anos de prisão.

By emprezaz

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