Extremos de cheias e vazantes dos rios do Acre: causas e consequências às populações

Prof Dr Edson Alves de Araújo

Universidade Federal do Acre Campus Floresta, Mestrado em Ciências Ambientais

Nos últimos anos tem sido cada vez mais noticiado pela imprensa eventos extremos de cheias e secas dos principais rios que drenam o estado do Acre. Esses eventos tem ocasionado impactos negativos ao meio ambiente, diretamente as populações que moram em suas margens e navegam em suas águas (hidrovias) e, às populações que necessitam de abastecimento de água. Mas qual a causa das variações contrastantes dos níveis (cotas) dos rios do Acre? Porque esses eventos tem sido cada vez mais extremos? Quais implicações no longo prazo? O que pode ser feito pelo homem para atenuar e conviver com esses eventos?

Primeiro de tudo é válido mencionar que o histórico de secas e cheias no Acre tem sido relatado desde as primeiras viagens feitas pelo geógrafo inglês William Chandless nos rios Acre, Purus e Juruá [1,2] no século XIX (dezenove). Há relatos também de outros estudiosos como Antônio Teixeira Guerra, na década de 50 [3]. Mais recentemente, na década de 80, o professor aposentado da Universidade Federal de Viçosa, Professor Mauro Rezende, publicou um artigo na Acta Amazônica em que analisa mais profundamente a razão das cheias e secas extremas no Acre [4]. Nesse trabalho, o Professor Mauro Rezende atribui a esse fenômeno ao fato dos solos do Acre serem bastante “jovens” e, portanto, em sua maioria, rasos e pouco profundos. Isso tem como consequência direta a baixa capacidade dos solos de armazenarem água, um papel ecológico de extrema importância para as populações. Em sendo assim, parte da água que cai na forma de chuva, rapidamente satura o solo e o excedente escorre na forma de enxurrada para os cursos d’água (igarapés e rios). Em decorrência disso os igarapés e rios do Acre tendem a encher rapidamente no período invernoso, que normalmente é mais intenso nos meses de janeiro a março (Figura 1). Da mesma forma, nos meses em que temos a redução das chuvas, principalmente nos meses de agosto e setembro, a água armazenada no solo não consegue manter a perenidade dos rios e igarapés de forma contínua, e secam de forma pronunciada (Figura 2).

Figura 1 – Oscilação do nível (cota) dos principais rios do Acre ao longo do ano (Fonte: ANA)
Figura 2: Rio Iaco, Sena Madureira, outubro de 1999. Cotal do rio 2m. (fotos: Edson Araújo)
Figura 2: Rio Iaco, Sena Madureira, fevereiro de 2000. Cota do rio 11m.
 

Este fenômeno causa transtorno as populações tanto no inverno, quanto no verão Amazônico. No inverno o principal impacto é as populações que residem as margens dos rios nos núcleos urbanos, em razão do processo de alagação da planície dos rios. Esse flagelo tem se intensificado a cada ano, em razão de cada vez mais essas localidades estarem cada vez mais habitadas. Em algumas situações as populações rurais também tem sido atingidas, em especial as que cultivam próximo as margens dos rios, o que tem causado transtornos econômicos aos ribeirinhos.

No período do verão Amazônico, a drástica redução dos níveis dos rios, a exemplo do rio Acre, tem ocasionado transtorno no abastecimento de água, uma vez que a capital do estado, o município de Rio Branco é abastecido a partir das águas superficiais do rio Acre. Em algumas situações a população da capital acreana tem sido obrigada a racionar água. Uma outra implicação com relação a redução das cotas do rio diz respeito a navegação fluvial, principal meio de acesso aos municípios mais isolados e sem acesso por rodovia, como Marechal Thaumaturgo, Porto Walter, Jordão e Santa Rosa do Purus.

Não há dúvida que estes eventos tem sido cada vez mais extremos. Esse fato pode estar relacionado as mudanças climáticas em que temos tido eventos de chuvas torrenciais em um curto período de tempo, ondas de calor, entre outros. Além disso, é válido mencionar o intenso desmatamento de áreas de nascentes (áreas de preservação permanente) e as margens dos rios, conforme constato pelo Zoneamento do Acre [5], que podem resultar na redução da descarga dos rios e entupimento dos canais de rios e igarapés (assoreamento).

É válido salientar que estes eventos apontam para o fato que as populações, ao longo do tempo, vão ter que adaptar-se a estas mudanças. Tais mudanças apontam para o uso e manejo do solo de forma mais sustentável, no que diz respeito a proteção do mesmo contra a erosão e melhoria da capacidade de armazenamento. Outra lógica seria a captação de água em reservatórios e canais de drenagem, de modo que não falte água nos períodos de seca extrema, a exemplo do que é praticado em regiões áridas.

Referências

[1] CHANDLESS, W. Notes on the river Aquiry, the principal affluentof the river Pururs. Journal of the Royal Geographical Society of London, v.36, n.1, p.119-128, 1866.

[2] CHANDLESS, W. Notes of a journey up the river Jurua. Journal of the Royal Geographical Society of London, v.39, n. [S.I], p.296-311, 1869.

[3] GUERRA, A.T. Estudo geográfico do território do Acre. Rio de Janeiro: IBGE, 1955. 294p

[4] RESENDE, M.; PEREIRA, R. Cotas fluviométricas do rio Acre, suas causas e implicações na política da colonização. Acta Amazonica, v.18, n.3/4, p.85-92, 1988.

[5] FRANCELINO, M. R.; AMARAL, E. F. do; LANI, J. L.; BARDALES, N. G.; SILVA, S. S. Áreas alteradas na zona de consolidação de sistemas de produção sustentável. In: Edson Alves de Araújo; João Luiz Lani. (Org.). Uso sustentável de ecossistemas de pastagens cultivadas na Amazônia Ocidental. Rio Branco: SEMA, 2012. p. 50-59.

By emprezaz

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