Redação Planeta Amazônia
Um artigo científico publicado na Revista Science no começo deste mês revela a existência de sociedades indígenas na Amazônia, há pelo menos, 12 mil anos. A obra é resultado do trabalho de centenas de cientistas e instituições de pesquisa na Amazônia nos últimos 80 anos.
Segundo os autores, mais de 10 mil terraplenagens pré-colombianas ainda estão escondidas em toda a Amazônia, ocorrências cuja descoberta tem sido dificultada pela densidade da floresta amazônica, afirma um dos autores, Vinicius Peripato. Ele usou pesquisas LIDAR ( detecção e alcance de luz) para identificar mais de 20 desenvolvimentos que ainda não tinham sido descobertos e, em seguida, modelou a ocorrência de outros em toda a Amazônia.
Os autores prevêem que entre 10.000 e 24.000 obras de terraplanagem antigas estão à espera de serem descobertas. A amostragem de alguns dos transectos (que são linhas ou secções através de uma faixa de terreno ao longo das quais são registradas e contabilizadas as ocorrências do fenômeno que está sendo estudado) do Lidar “revelou um conjunto consistente de espécies de árvores domesticadas associadas aos desenvolvimentos, sugerindo práticas florestais activas entre estas sociedades”, afirma Sacha Vignieri;
Os pesquisadores relataram a descoberta usando as informações LIDAR de toda a bacia, de 24 terraplenagens pré-colombianas anteriormente não detectadas abaixo da copa da floresta. De acordo com as pesquisas, “ a distribuição modelada e a abundância de sítios arqueológicos de grande escala em toda a Amazônia sugerem que restam entre 10.272 e 23.648 sítios a serem descobertos e que a maioria será encontrada no sudoeste”.
Os autores também identificaram 53 espécies de árvores domesticadas fato que está associado à probabilidade de ocorrência de terraplenagem nos locais estudados. No artigo, os cientistas levantam a hipótese da existência de milhares de sítios arqueológicos localizados nas florestas de copa fechada ainda não descobertos. Essa probabilidade lança um novo olhar em torno das sociedades pré-colombianas e suas ações que modificaram ativamente as florestas e “abre oportunidades para uma melhor compreensão da magnitude da antiga influência humana na Amazónia e no seu estado atual”.
Realidades da Era pré-colombiana na Amazônia
Conforme o artigo da Science, durante a era pré-colombiana, a Amazônia abrigou sociedades densas e complexas em toda a sua vasta área floresta que abrange 6,7 milhões de km2. Essas sociedades possuíam profundo conhecimento de manejo da terra, enriquecimento do solo e ecologia vegetal e animal, só para citar algumas habilidades. Com técnicas de terraplenagem, os povos originários criaram uma grande variedade de obras de terraplenagem ( valas circulares, geoglifos, lagoas e poços).
A abrangência desta transformação na paisagem ainda permanece desconhecida porque nunca houve um inventário abrangente de sítios pré-colombianos em toda a bacia. A escala e a intensidade dessa transformação paisagística permanecem desconhecidas, em parte porque nunca houve um inventário abrangente de sítios pré-colombianos em toda a bacia.
O estudo sobre as estruturas encontradas no Acre e em outros estados da Amazônia brasileira foi destaque em grandes sites da imprensa nacional.
Graças à tecnologia que incluiu terraplenagens detectadas por satélites óticos orbitais e à própria técnica LIDAR que possibilita a detecção remota para mapear a microtopografia abaixo da copa da floresta, os pesquisadores puderam conhecer as características dos assentamentos pré-colombianos escondidos na Amazônia.
Verdadeiros tesouros arqueológicos escondidos
Graças à varredura de 5.325 km2 feita pelo LIDAR, verdadeiros tesouros arqueológicos escondidas sob a floresta foram descobertos como as 24 terraplenagens não relatadas no sul, sudoeste, centro e norte (Escudo das Guianas) da Amazônia; Uma vila fortificada no sul da Amazônia e locais ribeirinhos em planícies aluviais na Amazônia central.
As ocorrências de cidades, geoglifos (que são uma combinação de feições retangulares e circulares), assentamentos ribeirinhos pré-colombianos e locais cerimoniais são numerosas em toda a região Amazônica.
De acordo com as análises estatísticas dos autores do artigo, a previsão dos pesquisadores é de que o número de estruturas pré-colombianas ainda não descobertas varia entre 10.272 e 23.648. “Estas estimativas sugerem que os trabalhos de terraplanagem já documentados na Amazónia até à data representam apenas 4 a 9% do total, e que 91 a 96% dos trabalhos de terraplenagem na Amazónia permanecem por descobrir”.
Ainda segundo a análise dos cientistas, a concentração das obras de terraplenagem provavelmente se encontra no sudoeste da Amazônia, com destaque de ocorrências no estado do Acre.
As descobertas feitas até agora pelos pesquisadores ajudam no trabalho de compreensão de como ocorreu a evolução das interações entre as sociedades humanas, as florestas amazônicas e o clima da terra.