Redação Planeta Amazônia
Com o mundo assinalando esta semana o aniversário de um ano do Quadro Global de Biodiversidade Kunming-Montreal, o WWF expressa a sua profunda preocupação pelo fato de o ritmo e a escala da ação sobre a natureza não estarem correspondendo à promessa do acordo histórico.
Adotado em 19 de dezembro de 2022 na conferência COP15 da ONU sobre biodiversidade, em Montreal, o Quadro Global para a Biodiversidade (GBF, na sigla em inglês) compromete o mundo a deter e reverter a perda de biodiversidade até ao final da década. Descrito por alguns como o equivalente do “Acordo de Paris” para a natureza, o GBF visa combater a crescente crise natural do mundo, que registou um declínio médio de 69% nas populações globais de vida selvagem desde 1970.
Alguns progressos animadores no ano passado envolvem vários países, incluindo o Japão e o Luxemburgo, bem como a União Europeia (UE), que, em Setembro, apresentaram uma revisão de suas estratégias nacionais de biodiversidade (NBSAP, na sigla em inglês)1, e a operacionalização do Fundo Quadro Global para a Biodiversidade. O acordo para estabelecer um novo fundo para apoiar os esforços de conservação da biodiversidade dos países em desenvolvimento foi um dos momentos-chave na COP15, que permitiu aos países encontrar um caminho comum para garantir o GBF, com as suas 23 metas globais orientadas à ação para colocar a natureza na rota da recuperação até 2030.
No entanto, o progresso global tem sido insuficiente, com a grande maioria dos países ainda por apresentar as suas NBSAP revisadas, com baixa ambição e falta de planos de implementação claros e financiados. O WWF observa com particular preocupação o baixo nível de novos financiamentos para a biodiversidade anunciados nos últimos doze meses. Na COP15, os países desenvolvidos comprometeram-se a aumentar o financiamento internacional da biodiversidade para pelo menos 20 bilhões de dólares por ano até 2025 e para pelo menos 30 bilhões de dólares por ano até 2030.
O aniversário de um ano do Quadro Global de Biodiversidade Kunming-Montreal ocorre dias após a conclusão das conversações climáticas da COP28 em Dubai, que, juntamente com o acordo histórico dos países para a transição dos combustíveis fósseis, trouxeram um maior reconhecimento da necessidade de enfrentar as nossas crises do clima e da natureza como uma só.
Li Lin, Diretor Sênior de Política Global e Advocacy do WWF Internacional, disse: “Embora tenhamos visto algum progresso desde a adoção, em Dezembro passado, do Quadro Global para a Biodiversidade, esse avanço na verdade é fragmentado e lamentavelmente inadequado para o desafio em questão, considerando que restam apenas 6 anos para concretizar as metas. As atividades humanas lançaram uma bola de demolição contra os ecossistemas naturais que nos sustentam e é hora de os países saírem da primeira marcha em relação à natureza. Os líderes precisam de se levantar e cumprir o compromisso histórico que assumiram no ano passado, de salvaguardar a natureza, apoiar a ação climática e proporcionar um desenvolvimento sustentável e inclusivo para todos. Não há tempo a perder. Agora é o momento em que realmente precisamos pisar no acelerador.
“Nos próximos meses, é vital que os países cumpram a promessa de Montreal, anunciando estratégias nacionais de biodiversidade suficientemente ambiciosas e realizando ações em campo. Precisamos também que os países ricos intensifiquem o financiamento para apoiar os esforços dos países em desenvolvimento, que abrigam grande parte da incrível biodiversidade do nosso planeta.
Manuel Pulgar-Vidal, Líder Global de Clima e Energia do WWF Internacional e da Agenda de Ação da CBD para a Natureza e as Pessoas, disse: “Deixe-me ser claro: se falharmos na natureza, falharemos no clima – com consequências desastrosas para as pessoas e a vida selvagem. Um ano após a adoção do Quadro Global de Biodiversidade Kunming-Montreal, ainda estamos para ver líderes verdadeiramente avançando em relação à natureza. As poucas estratégias nacionais de biodiversidade revisadas que foram anunciadas não são suficientemente ambiciosas para reverter a perda de biodiversidade e as ações em campo permanecem escassas. Precisávamos, para ontem, ver o financiamento chegar às comunidades na linha de frente da crise natural.
“Exorto os líderes a cumprirem urgentemente os seus compromissos em matéria de biodiversidade e exorto as nações ricas a prestarem o apoio financeiro prometido às nações em desenvolvimento. A natureza continua a ser a nossa maior aliada no combate à crise climática. Sem isso, não há caminho para limitar o aquecimento global a 1,5°C. É por isso que é essencial que os países aumentem a proteção da natureza e trabalhem para integrar rapidamente os seus planos nacionais em matéria de clima e natureza.”
O WWF saúda os esforços para vincular e construir sinergias entre as duas Convenções do Rio que abordam as mudanças climáticas e a perda de biodiversidade. Particularmente durante a COP28 da UNFCCC, os Emirados Árabes Unidos e a China – as presidências da COP28 e da COP15 – lançaram uma Declaração Conjunta sobre o Clima, a Natureza e as Pessoas, com os signatários se comprometendo a integrar suas ações nacionais sobre a natureza e o clima.
A perda de biodiversidade foi identificada como uma das maiores ameaças enfrentadas pela humanidade. Além de minar a capacidade da natureza de sequestrar carbono e de nos proteger dos piores impactos da crise climática, a perda e a degradação dos ecossistemas aumentam a nossa vulnerabilidade às pandemias e ameaçam a segurança alimentar e os meios de subsistência. Mais da metade do PIB global depende moderadamente ou altamente da natureza.
Com informações da WWF Brasil