Redação Planeta Amazônia
“A bioeconomia é a esperança para a ponta, para quem está trabalhando na ponta. Não fomos nós que fizemos a conta, mas entendemos que somos parte de um todo: o planeta. Embora dividimos povos, nações, territórios, não se divide o planeta. Continuamos morando num único e mesmo globo”. Ribeirinha, professora, manejadora e liderança da Reserva de Desenvolvimento Sustentável (RDS) Uatumã, Elizângela Cavalcante definiu a bioeconomia na Amazônia como ‘plano de vida para o futuro’, durante o painel de debates ‘Pré-COP 30: atenções para a nova bioeconomia da Amazônia’.
Os desafios de romper a linha histórica da desigualdade integrando desenvolvimento e floresta em pé, a partir da inovação, sob a perspectiva dos territórios tradicionais reuniu representantes de comunidades ribeirinhas e dos povos indígenas no palco principal do terceiro dia da ExpoAmazônia Bio&TIC.
Hoje atuando com plano de manejo madeireiro e não-madeireiro, por meio da extração e processamento de óleos vegetais, Elizângela Cavalcante lembrou que tudo é trabalhado de forma comunitária, de forma a desenvolver as 22 comunidades existentes na reserva.
“É comunidade. Se é comum, é para todos. Hoje vendemos objetos de madeira para vários países, feitos por mãos de ribeirinhos. Eu estou dentro e fazendo parte. Eu acredito na bioeconomia. Todos esses projetos me enchem de orgulho e são geridos por nós com acompanhamento técnico do Idesam”, afirmou.
“Entendemos que esta é a economia da sociobiodiversidade. Como transformar isso em linhas de ação é o desafio. Se não fizermos isso, enquanto povos indígenas, vamos continuar na invisibilidade”, afirmou Andre Baniwa, coordenador-geral de Promoção à Cidadania e Combate ao Racismo do Ministério dos Povos Indígenas (MPI).
Ele lembrou que, historicamente, povos indígenas são tratados como preguiçosos e, hoje a bioeconomia se volta para um trabalho que sempre foi feito pelos povos tradicionais. “O sistema é inadequado e não afere o trabalho que fazemos. Fazemos tudo pela natureza, mas ela não emite nota fiscal”.
Andre Wongtschowski, gerente de Operações da World-Transforming Technologies (WTT), fundação dedicada à promoção da inovação para a superação de desafios sociais e ambientais, destacou a importância de investimento em ciência e tecnologia, para entender melhor a sociobiodiversidade; superação dos entraves de logística e infraestrutura, incluindo acesso a direitos básicos como saúde e educação; e capacitação de pessoas em todos os níveis de educação.
“Estes são três elementos fundamentais na promoção da bioeconomia. Como todos têm papel importante do governo, é preciso pensar em como o governo também se capacita para colocar essas coisas de pé”, disse.
Carbono
A exposição ‘Crédito de carbono – um novo vetor econômico para a Amazônia’ apresentou o cenário do mercado hoje como oportunidade de rentabilização para a bioeconomia. O estudo feito ao longo de 40 anos, consolidado pela Tero Carbon, identificou um potencial estimado de aproximadamente 150 bilhões de toneladas de CO2 estocado em propriedades privadas, considerando os 20% de reserva legal, previsto na legislação ambiental para áreas rurais.
“Isso seria o suficiente para compensar as emissões do mundo todo por três anos. Hoje, a demanda é crescente, muito maior do que a oferta de crédito de carbono no mercado. Ele serve para compensar as emissões das empresas. Até 2050, essa demanda aumentará em cem vezes. É uma oportunidade para a região”, afirmou Francisco Higuchi, CEO da Tero Carbon.
Ao longo de três dias, a ExpoAmazônia Bio&TIC trouxe mais de 90 palestras sobre os temas de Bioeconomia e Tecnologia da Informação e Comunicação. Também contou com uma feira expositiva de novos negócios, serviços e produtos que já operam em uma lógica sustentável.
essa estratégia de transformar o que temos em mãos em coisas muito melhores e com qualidade, é crucial para o desenvolvimento dos ribeirinhos, para os povos amazonidas e aos indígenas pois, além das melhorias vêm também o conhecimento um olhar diferente e transformador por todos nós.