Redação Planeta Amazônia
As catástrofes ambientais recentes causados pelas mudanças climáticas, como incêndios na Amazônia e as enchentes no Sul do país, colocaram o Brasil em uma posição desfavorável na participação da COP 28, como disse a secretária de Mudanças Climáticas do Ministério do Meio Ambiente, Ana Toni.
Assim como o Brasil, a maioria dos países não possui estrutura para lidar com esses desastres e isso resulta em centenas de milhares de mortes, pessoas desabrigadas e refugiados climáticos pelo mundo. Os governos precisam se preparar para melhorar a capacidade de resposta frente a essas situações, mas é igualmente urgente que ações sejam tomadas não somente para se adaptar, mas também para mitigar os efeitos da crise climática. É por esse motivo que tratados e acordos internacionais sobre o clima passaram a existir: sem metas e compromissos a serem estabelecidos e cumpridos por todos os países, nenhuma ação isolada será suficiente para um impacto climático positivo.
Do lado brasileiro, o governo acaba de anunciar que apresentará o Brasil, na 28ª Conferência das Partes da Convenção Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças do Clima (COP 28), que será realizada em Dubai, nos Emirados Árabes Unidos, entre 30 novembro e 12 dezembro, como um provedor de soluções climáticas globais. A posição deve destacar as práticas já adotadas na agricultura, o reflorestamento, os produtos de baixo carbono e as energias renováveis do país.
O problema é que mais uma vez o Brasil deixa de lado um assunto fundamental: o debate dos sistemas alimentares. Apesar de imprescindível, apenas em 2022, em espaços como o Food System Pavillon, coorganizado por 9 instituições, dentre elas o GFI, o tema foi abordado na Conferência do Clima. “É um erro estratégico não colocar os novos sistemas alimentares no centro do debate climático”, Gustavo Guadagnin.
As proteínas alternativas são uma das maiores apostas na mitigação da crise climática. Segundo relatório do Boston Consulting Group, se as proteínas à base de vegetais, cultivadas e obtidas por fermentação representarem 11% de todo o consumo de proteínas até 2035, podemos reduzir 0,85 gigatoneladas de CO2 equivalente (CO2e) em todo o mundo até 2030, o que equivale à descarbonização de 95% da indústria da aviação.
Além disso, qualquer mudança significativa na dieta global para mais proteínas alternativas produzirá um efeito de arrefecimento imediato no planeta, uma vez que a criação de animais é responsável por até 50% das emissões de metano, que tem um potencial de aquecimento muito maior do que o CO2 e uma vida atmosférica muito mais curta. Consequentemente, a redução dos níveis de metano na atmosfera não apenas evitaria um maior aquecimento, mas também traria um efeito de resfriamento à Terra.
Como é hoje e o que devemos fazer
O atual sistema alimentar é responsável por 34% de todas as emissões de gases de efeito estufa (GEE) e é preciso encontrar maneiras mais eficientes de produzir alimentos, principalmente as proteínas. Isso porque a produção de proteína animal, sozinha, gera mais da metade do total de emissões do sistema alimentar. Além disso, a pecuária ocupa 77% das terras agrícolas do mundo. Mesmo assim, a carne animal fornece apenas 18% do suprimento alimentar da humanidade e 37% das proteínas na dieta humana – o resto vem de alimentos vegetais. O setor agropecuário é, ainda, responsável por mais de 90% do consumo global de água, e 41% disso se destina à irrigação e crescimento de grãos para ração e pasto para bois, porcos e galinhas.
O Sexto Relatório de Avaliação do IPCC, elaborado pelos principais especialistas e cientistas do mundo e lançado em 2021, afirma que, mesmo se os combustíveis fósseis fossem eliminados da noite para o dia, as emissões do sistema alimentar por si só impediriam o cumprimento da meta do Acordo de Paris, firmado em 2015, cuja meta é de não permitir que o planeta aqueça além de 1,5º até o final do século 21.
Por isso, diversificar a atividade agropecuária é uma solução de impacto excepcionalmente elevado para a crise climática global. Na prática, isso implica em liberar terras e recursos como a água para atividades altamente benéficas para o planeta e que também podem ser lucrativas para o agronegócio. Estamos falando de bioeconomia, agroflorestas e agricultura regenerativa, por exemplo.
Um sistema de produção baseado nestas práticas é capaz de, em um mesmo espaço, alimentos diversos, insumos industriais, energia e reflorestamento. alimento, fibra, madeira e até mesmo energia, aumentando assim a produtividade. O impacto ambiental também é considerável. Segundo o EOS DATA ANALYTICS, este sistema pode reduzir de 20 a 30% as emissões de gases de efeito estufa e sequestrar em torno de 8 toneladas de CO2 por hectare a cada ano.
O Good Food Institute estará na COP 28. “Esperamos que as discussões voltadas à transformação do nosso sistema de produção de alimentos se intensifiquem durante as duas semanas da Conferência. Os problemas a serem enfrentados são diversos e estão postos, mas as soluções também. As nações que entenderem a importância dessa transição e investirem, agora, na pesquisa, inovação e comercialização de alimentos provenientes de mercados sustentáveis, vão se tornar as maiores na redução de emissões agrícolas”, diz Guadagnin.