Projeto registra ação de ONG na Amazônia e leva cidadania a jovens indígenas

Cassandra Castro

Em um bioma de dimensões gigantescas como é a Amazônia, ações que contribuam para levar mais cidadania e melhores condições de vida às comunidades originárias fazem a diferença. Muitas dessas iniciativas partem de Organizações Não Governamentais ( ONG’s) que conseguem chegar aonde, algumas vezes, o poder público não vai.

Em 2015, o dentista e indigenista Caio Machado teve a ideia de criar a ONG Doutores da Amazônia, um sonho que virou realidade e já impactou a vida de dezenas de milhares de pessoas. A ONG surgiu com a missão de levar atendimento médico de qualidade para o coração da Floresta Amazônica. Agora, um projeto quer contar a história deste trabalho e, ao mesmo tempo, levar educação e cidadania aos jovens indígenas.

O dentista e indigenista, Caio Machado, acreditou no sonho de levar saúde de qualidade aos povos indígenas e criou a ONG Doutores da Amazônia/foto: Cassandra Cury

Batizado de “Levante e Lute”, o projeto é composto por um livro, que será lançado no segundo semestre do ano e também de uma ação pedagógica com jovens do povo Kalapalos, no Xingu, que começou em junho. O projeto é do próprio Caio Machado, em parceria com a jornalista Ana Augusta Rocha e com a fotógrafa Cassandra Cury.

Ação pedagógica incentiva jovens do povo Kalapalos, no Xingu, a documentarem sua história por meio do audiovisual/foto: Cristina Carvalho

“O Projeto Pedagógico consiste em incentivar esses jovens a produzirem documentação, em vídeo, sobre sua história, cultura e os movimentos que se envolvem atualmente” explica Ana Augusta Rocha, sócia da Auana Editora, responsável pelos textos e edição do livro e pela direção do projeto pedagógico Levante e Lute. Ela conta que, para registrarem essas histórias, os alunos ganharam celulares, tripés, e equipamentos de iluminação e captação de som. 

Nessa primeira viagem, que aconteceu em junho, a equipe de São Paulo – Cristina Carvalho, pedagoga, Veronica Monachini, antropóloga e pedagoga, Cassandra Cury, fotógrafa, e Ana Augusta Rocha, jornalista – teve a mediação de um tradutor, já que na aldeia se fala o Kalapalo, uma língua da família Karib.

Ao final do projeto, haverá o encontro virtual dos alunos da Escola Estadual Indígena Central Aiha do povo Kalapalo, no Xingu, com os alunos da EMEF do CEU Uirapuru, de São Paulo, em que será promovido um intercâmbio cultural. “É uma oportunidade para trazer reflexões sobre os diferentes modos de existência, reconhecer diferentes identidades e percepções de mundo, perceber as transformações que ocorrem pela interação entre diferentes grupos sociais, e sobretudo, compreender a importância de valorizar suas culturas, recuperar suas memórias para restabelecer pertencimentos”, explica Ana Augusta.

Missão registrada em livro

O livro que integra o projeto “Levante e Lute” é um grande ensaio fotográfico de missões dos Doutores da Amazônia que a fotógrafa Cassandra Cury acompanhou ao longo de quatro anos. Ele traça um panorama da atuação dos profissionais de saúde e do intenso e valioso convívio com os indígenas e ribeirinhos. As fotos estabelecem, ao longo das 160 páginas, um rico diálogo com o texto, um depoimento de Caio sobre as experiências destes anos à frente do projeto. 

Além de ser um valioso registro do trabalho dos Doutores da Amazônia, o livro é uma grande celebração do encontro entre diferentes culturas, que integram seus saberes em nome do bem comum. Doutores e pajés, médicos e raizeiros, o objetivo de todos é o mesmo: melhorar a vida, o bem estar e buscar a felicidade dos povos da floresta.

“Sempre acreditei que nós, profissionais de saúde, temos a obrigação de ajudar todos aqueles que não têm acesso adequado a tratamentos e cuidados médicos”, afirma Caio. E os Doutores da Amazônia não poupam esforços nesse sentido: mais de 600 voluntários atuaram, desde 2015, nos oito estados da Amazônia Legal. Os números impressionam: mais de 54 mil procedimentos odontológicos, 44 mil procedimentos médicos e 186 mil medicamentos doados.

A importância desse tipo de iniciativa ficou ainda mais evidente durante a emergência global causada pelo covid-19: mais de 80 mil indígenas e ribeirinhos foram beneficiados com doações para o enfrentamento da pandemia por meio do projeto. Com as perspectivas futuras marcadas pelo avanço da crise climática, é fundamental que o auxílio às populações em situação vulnerável seja constantemente ampliado e reforçado.

O trabalho de outra organização foi fundamental para que Caio criasse o projeto. Ele atuou no NAPRA – Núcleo de Apoio às Populações Ribeirinhas da Amazônia, uma rede de voluntários que levava assistência odontológica a lugares remotos da floresta. “Ali eu tive a oportunidade de conhecer a região do Baixo Madeira exercendo a minha profissão em prol de uma população carente”, diz. “Esse projeto me inspirou a criar uma ONG, que hoje é a Doutores da Amazônia.”

A fotógrafa Cassandra Cury fez o registro fotográfico de várias ações da Doutores da Amazônia/foto: reprodução

O livro traz um vasto panorama visual do trabalho dos profissionais de saúde no atendimento a diferentes populações indígenas e ribeirinhas da Amazônia, ao longo de quatro anos. Este foi o período em que a fotógrafa, cinegrafista, ativista e indigenista, Cassandra Cury, acompanhou os Doutores da Amazônia em diferentes missões. 

“Em 2013 aconteceu um encontro, que foi de muita força e ricas trocas com um pajé do povo guarani. A partir daí, mergulhei em uma nova caminhada, de total entrega ao registro profundo da vida e cultura dos povos originários do nosso país. Em 2016 passei a focar mais no povo huni kuin da amazônia acreana e, desde 2019, registro os povos do Xingu e Rondônia, por conta do trabalho que realizo junto aos Doutores da Amazônia, que cuidam da saúde indígena no Alto Xingu, na terra dos Paiter Suruí e dos vários povos que vivem em terras distantes às margens dos rios Mamoré e Guaporé na Amazônia rondoniense. Todas essas experiências estão compartilhadas em Levante e Lute”, conta Cassandra. 

By emprezaz

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